Primeira Sala - Parte 2

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“Por favor, não se apeguem a ideia de se tornarem “amigos” meus ou desse garoto, pois se meu julgamento os transformar em obstáculos, não hesitarei em cumprir meu maior dever!”

  As últimas palavras de Sísifo lembraram Júpiter da real situação em que se encontravam, já que ela imaginava a possibilidade de receber alguma ajuda dele. Logo após o fim de sua frase, Diaz caiu no chão, como se acabasse de ter um desmaio.
  Júpiter o segurou antes que sua cabeça acertasse o chão, e, ao tocá-lo, percebeu a ausência daquela névoa estranha que o cercava anteriormente.
  _ Já faz algum tempo que eu não vejo essa cor nos seus olhos, Júpiter! – Fenrir estava terminando de se levantar, mas sua atenção estava fixa em Júpiter, que ainda possuía heterocromia em seus olhos.
  _ O seu rosto está bem? – Júpiter não fez menção ao comentário dele, já que para ela, o rosto avermelhado dele era mais importante.
  O canto esquerdo do lábio dele estava sangrando, e seu nariz também escorria um pouco de sangue. Seu rosto, no local onde recebera o soco, estava roxo e levemente inchado.
  _ Eu estou bem, não se preocupe. – Fenrir deu um passo na direção dela, mas sua perna vacilou, e ele quase foi ao chão novamente, se escorando na parede para não cair.
  _ Posso ver. – ela desviou sua atenção de Fenrir, e voltou-se para Diaz que agora estava deitado sobre seu colo – Pelo visto, você vai me dar mais trabalho do que eu esperava!
  Júpiter olhou para o rosto de Diaz com atenção, e algumas olheiras bem fortes chamaram sua atenção. Ela não havia reparado anteriormente, mas, ele possuía uma expressão cansada, como se passasse a maior parte de suas noites acordado.
  _ O que você sabe sobre ele, Fenrir?
  _ Sobre o Diaz? Apenas o que eu me lembro de quando morávamos no orfanato Star. – Ele se ergueu, endireitando seu corpo novamente, mas, evitou de tentar caminhar por algum tempo.
  _ Isso me deixou curiosa quando eu descobri da primeira vez, mas, na época, eu decidi não te questionar sobre. – O olhar de Júpiter era assustadoramente sério quando ela voltou a encarar Fenrir – Por que você morava em um orfanato, se a sua família está viva até hoje?
  _ Minha mãe fazia parte do grupo de empregadas da família Rubens, uma das quatro grandes famílias de Típhia. – Ele fez uma pausa para ajeitar seu cabelo, que estava atrapalhando um pouco a sua visão – E o resto é fácil de imaginar.
  _ Foi isso que você contou para ele dentro da cela?
  _ Sim, mas, eu mudei um pouco a história.
  _ Como assim?
  _ Apesar de me negarem como um filho legitimo, alguns membros da família Rubens me forneceram uma pequena ajuda, como forma de demonstrar um pouco de respeito para com a minha mãe que morreu alguns anos depois que eu nasci, mas, quando o reencontrei na cela, após socar seu rosto algumas vezes, eu senti necessidade de encontrar um motivo para minhas ações egoístas durante esse tempo todo.
  _ Por que você sentiu isso?
  _ Por mais longe que eu estivesse, eu continuei recebendo noticias sobre o que acontecia com ele! – Os olhos de Fenrir começaram a brilhar, por causa de lágrimas que se acumularam neles.
  _ Então você sabia de tudo?
  _ Sim. Eu já sabia da morte da Lucy e da Leny, mas, fui incapaz de ajudá-lo na época. Eu sinto uma culpa enorme até hoje, e, por alguns segundos naquela cela escura, mentir para ele pareceu diminuir um pouco esse sentimento.
  _ Eu sei que pode parecer um pouco insensível da minha parte, mas, você não pode focar em suas tristezas agora. Depois do que aconteceu aqui dentro hoje, vai ficar um pouco mais difícil de ajudá-lo!
  _ Sim... – ele fez uma pausa em sua fala, e esfregou os olhos com a mão, limpando as lágrimas que se acumularam ali – Eu queria entender por que ele foi escolhido! Por que tinha de ser ele?
  Júpiter abriu sua boca para tentar responder a sua pergunta, mas, a voz de Hêstia impediu que ela sequer dissesse alguma palavra.
  _ Acho que posso dar uma ajudinha nesse caso!
  Hêstia estava sentada novamente em sua cadeira do outro lado da mesa, e sua expressão serena, mostrava uma calma surpreendente.
  _ O que você quer dizer com isso, “Velha Deusa”? – Júpiter sequer tentou disfarçar seu deboche ao falar o nome pelo qual Hêstia foi chamada por Sísifo.
  _ Sabia que é uma grande surpresa você está viva, Jú? É uma pena o caçador ter pego leve com você! – a voz dela rebatia o deboche de Júpiter, e seu rosto, mostrava a confiança que Hêstia que possuía, apesar de tudo que havia acontecido.
  _ Eu também fiquei abalada quando percebi que você estava viva! Sua morte seria a melhor notícia do dia inteiro!
  _ Infelizmente, eu ainda vou ter que encarar seu rosto por mais alguns anos. – Ela se posicionou na cadeira com as pernas cruzadas mais uma vez, e sua aparência mostrou uma vitalidade magnifica, mesmo que as marcas dos dedos do caçador ainda fossem bastante visíveis em seu pescoço.
  _ Eu sei que vocês se amam bastante, mas, poderíamos focar um pouco no assunto principal? – A voz de Fenrir era seca e séria, mostrando que não tinha intenção de perder mais tempo ali. – Júpiter?
  _ Tudo bem. – Ela suspirou bem forte, antes de se virar novamente para Hêstia – Quem realmente era esse Sísifo, Velha Deusa?
  _ Acho que eu entenderia melhor as perguntas feitas por esse Beau Garde!
  (Beau Garde: Guarda bonito)
  Júpiter bufou, irritada com a fala da mulher, mas, não fez nada, deixando que a conversa continuasse pela voz de Fenrir.
  _ Hêstia, primeiramente, quem era esse Sísifo? – Fenrir foi direto em sua fala, ignorando a expressão de raiva que Júpiter lançou para ele.
  _ Você não teve aula de história quando era mais novo não? – Hêstia colocou a mão esquerda por sobre a boca, como se estivesse surpresa com a pergunta.
  _ Sim, eu tive, e conheço a história dele muito bem, mas, ele é realmente o mesmo Sísifo?
  _ Sim. E eu posso garantir que a veracidade disso!
  _ Como assim? – Júpiter interrompeu com um pouco de paciência.
  _ Creio que você talvez não entenda o que eu tenho para dizer, pequena Jú!
  _ Por que você não tenta me explicar, Velha Deusa?
  Hêstia ajeitou sua postura antes de voltar a falar, e, encarando Fenrir com um olhar provocante, explicou o que tinha para explicar.
  _ Eu sei toda a verdade por trás dessa história, porque eu fui uma espectadora de tudo isso.
  _ Então, você afirma que estava viva mil anos atrás? Isso seria possível graças a sua benção? -Fenrir estava tentando encontrar um motivo lógico, mas seu olhar só demonstrava uma confusão mental.
  _ Não exatamente. Digamos assim, uma de minhas encarnações passadas estava viva na época.
  _ Impossível! – Júpiter teve de interromper novamente, já que sua mente não aceitava aquele absurdo – Você está querendo dizer que é realmente uma deusa?
  _ Até que você é um pouco esperta, Jú!
  _ Se isso é mesmo verdade, por que uma deusa está vivendo entre os humanos, ao invés de se esbaldar com a luxuosidade do monte Olimpo?
  _ Digamos que eu não posso mais voltar para aquele lugar!
  _ Por favor, explique isso melhor! – Fenrir aumentou um pouco sua voz, de forma que impedisse Júpiter de falar qualquer coisa.
  _ Entre os deuses, existe uma espécie de “ritual” que acontece com mais frequência do que se pode imaginar. Apesar de serem quase imortais, os deuses não são únicos, e por isso, sempre surgem novos deuses, com o objetivo de tomar o lugar do anterior. Como forma de evitar retaliações desnecessárias, um desafio pode ser requerido, entre o novo deus e o seu alvo.
  _ Esse desafio seria uma luta? – Fenrir estava focado na explicação dela, tentando não perder nenhum detalhe.
  _ Na maioria dos casos, sim, mas, existem algumas pequenas exceções, como no caso da deusa do amor, que realiza um desafio um pouco mais divertido, se é que me entende! – Hêstia piscou para ele quando terminou sua frase, mas ele apenas a ignorou.
  _ Então, isso aconteceu com você? Um desafio foi iniciado pelo seu título de deusa, e, para sua infelicidade, você ganhou a derrota?
  _ Sim. Mas, Atena, que me derrotou de forma humilhante na frente todos os deuses, me permitiu continuar no Olimpo, a servindo como uma deusa inferior. Ela basicamente me transformou em uma escrava, assim como outras deusas menores que perderam para ela. Por algum motivo, diferente de mim, todas essas deusas idolatravam a magnífica Atena, e não enxergavam o desprezo com que eram tratadas por essa mesma deusa.
  _ Mas você via.
  _ Sim. Meu estômago revirava toda vez que aquela mulher se aproximava de mim, com um sorriso falso em seu rosto. Infelizmente, eu nunca fui muito paciente, e isso trouxe minha completa ruína.
  _ O que você fez?
  _ Eu requeri um novo desafio, e obviamente, por pura vingança. Mas, assim como se deve esperar da deusa da sabedoria, Atena conseguiu o apoio de todos os deuses do Olimpo, então, mesmo que eu terminasse vitoriosa, haveriam consequências impensáveis para mim.
  _ Mesmo assim, você insistiu em desafiá-la!
  _ Correto. Eu estava decidida em adquirir novamente meu posto original, mesmo que isso me custasse a vida. Eu a desafiei e, sinceramente, ela não foi capaz de lidar com minhas habilidades que eu havia treinado e melhorado ao longo dos anos. Mas, infelizmente, os deuses que a apoiavam, entregaram “presentes” para ela antes do desafio. As sandálias de Hermes, que a permitiram se locomover mais facilmente; O escudo de Égide, entregue pessoalmente por Zeus; e o elmo da invisibilidade, que Hades permitiu seu uso apenas uma vez.
  _ Então, esses itens lendários realmente existem!
  _ Sim, e eu tenho que admitir, eles são muito mais poderosos do que as pessoas imaginam. Eu fui completamente sobrepujada, e, de forma humilhante, expulsa eternamente do monte Olimpo e qualquer outra residência dos deuses.
  Júpiter, que ainda estava sentada no chão, se levantou com cuidado, colocando a cabeça de Diaz no chão devagar, e, com a mão fechada sobre o peito, se curvou para Hêstia.
  _ Me perdoe, Hêstia, apesar de você ser uma puta arrogante, eu tenho que admitir que você sofreu mais do que eu suportaria!
  _ Obrigada, pequena Jú, e é gratificante saber que você tem um pouco de educação dentro dessa sua cabeça oca. – Hêstia possuía um verdadeiro olhar de surpresa, apesar de isso não impedir seu deboche de se mostrar.
  _ Deixa me ver se entendi direito. – Fenrir parecia um pouco confuso, mas suas palavras eram bastante coerentes – Você foi expulsa do Olimpo, após perder ‘injustamente’ para Atena, e agora vive entre nós humanos. Isso, provavelmente, aconteceu alguns séculos atrás, e, como você mencionou encarnação, provavelmente sua imortalidade também foi retirada, mas não sua divindade, permitindo que você reencarnasse várias e várias vezes ao longo do tempo. Correto?
  _ Você é bastante esperto, garoto!
  _ Você se lembra de suas outras vidas?
  _ Algumas sim, mas, outras parecem apenas um breve sonho!
  _ Entendo. Então, isso também significa que Thanatos perdeu o desafio para algum outro deus, e, Diaz é uma de suas encarnações no mundo humano?
  _ Sim, mas, no caso de Thanatos, todos os deuses querem ele de volta!
  _ Como assim?
  _ Alguns séculos atrás, após minha infeliz queda, uma nova deusa surgiu, se auto declarando deusa da morte, e fez de tudo ao seu alcance para ser reconhecida como tal. Mesmo antes de solicitar um desafio pelo título, ela forçou os deuses mais fracos a chamarem-na de deusa da morte, o que provocou a ira de Hades e Thanatos, os representantes da morte.
  _ O que eles fizeram?
  _ Thanatos insistiu para que um desafio fosse preparado, e que, obviamente, só podia terminar com a morte de um dos dois. Hades concordou e apressou todos os preparativos para que este acontecesse o mais rápido possível.
  _ Dado a nossa situação atual, eu posso dizer que Thanatos foi morto durante o desafio?
  _ Não exatamente. Assim como esperado, Thanatos era mais forte do que a nova deusa, e, usando de toda sua força, a humilhou na frente de todos os deuses presentes. Infelizmente, ele era jovem, belo e um pouco ingênuo. Assim como Sísifo havia feito, a deusa usou de elogios e súplicas para que Thanatos a poupasse, e este sentiu pena dela, declarando o fim do desafio. Usando de um ato de covardia, a deusa apunhalou Thanatos pelas costas, atravessando uma espada negra em seu coração, antes que o desafio fosse encerrado oficialmente.
  _ Os deuses permitiram isso?
  _ Não havia muito a ser feito, já que, teoricamente, ela o venceu durante o desafio. Mas, Hades não pensava assim, e, apesar de não fazer nada naquele momento, ele tomou uma atitude para que Thanatos voltasse ao seu posto de origem. Logo após o fim do desafio, ele se dirigiu ao submundo, em busca da alma de Thanatos, para que ele o entregasse um corpo novo. Infelizmente, ele teve uma péssima notícia ao chegar lá: Thanatos não havia sido enviado para o mundo dos mortos, muito pelo contrário, ele foi enviado diretamente para a reencarnação. Ao confrontar a nova deusa da morte, Hades descobriu que, ela não só havia mandado Thanatos para bem longe, mas, também havia despedaçado sua alma, para que fosse impossível seu retorno como um deus.
  _ E o que Sísifo tem haver com isso tudo?
  _ Isso foi uma ação de Hades. Assim como muitos outros deuses, Hades se tornou um dos próximos alvos da deusa da morte, que visava dominar todo o submundo. Sísifo é uma ferramenta que Hades decidiu usar, para reunir todos os fragmentos da alma de Thanatos, de forma a impedir esse avanço dela.
  _ Porque o próprio Hades não resolve isso pessoalmente?
  _ Essa é uma das grandes leis divinas, para impedir que os deuses iniciem guerras sem sentido. Um deus maior não pode desafiar um deus menos que ele! E, em questão de força, apenas Hades pode ser capaz de derrota-la.
  _ Pode?
  _ A nova deusa tem conhecimento da diferença de poder entre eles, e por isso, até o dia de hoje, ela busca maneiras de aumenta seu poder, para então anunciar um desafio!
  _ Mas ele não pode apenas recusar?
  _ Sim, mas apenas uma vez, e após um século, ela pode pedir outro desafio, que não poderá ser negado. Mas, sejamos sinceros, nenhum deus que se orgulhe de si mesmo, irá negar um desafio vindo de um deus ou deusa menor que ele.
  Fenrir não disse mais nada. Sua mente já possuía bastante informação para digerir e assimilar.
  Diaz se mexeu, como se fosse se levantar, mas, parecia ser o efeito de um bom sonho, já que ele continuou apagado no chão. Júpiter estava o observando enquanto Hêstia dava sua explicação, e, ao perceber o silêncio de seu guarda, ela decidiu voltar a fazer as perguntas que desejava.
  _ Então, seguindo o seu raciocínio, Diaz é um dos pedaços de Thanatos? Quer dizer, se isso for mesmo verdade.
  _ Posso garantir que é verdade, Júpiter! – Hêstia não falava mais com deboche, mas sua voz soava mais séria do que em qualquer outro momento – E, sim, ele é um dos fragmentos dele.
  _ Eu não quero parecer ignorante, mas, por que ele? – Júpiter manteve um tom de voz “agradável”, respeitando a seriedade de Hêstia.
  _ Acho que nem mesmo Hades poderia lhe explicar isso, já que esse é um dos segredos que apenas a Morte conhece.
  Júpiter se irritou aquela situação. Apesar de toda aquela explicação, não existia nada que pudesse ser feito para mudar a realidade de Diaz, já que nenhum deles sabia como ele foi escolhido. O olhar dela, agora em sua cor normal, estava sério e distante, como se buscando a uma informação específica em sua mente.
  _ Por algum motivo, eu realmente desejo ajudá-los! – a voz de Hêstia soava sincera e com um pouco de empatia, o que foi surpreende para Júpiter e para si mesma. – Mas, infelizmente, como eu já disse, nem mesmo o deus do submundo poderia explicar de forma detalhada, quem dirá eu, uma deusa exilada, que não recebe notícias do Olimpo já fazem séculos!
  _ Então, como você sabe sobre tudo isso? – Fenrir ainda parecia um pouco confuso.
  _ Eu ainda não havia caído quando Thanatos perdeu seu posto. Mas, ainda assim, existem alguns meios de conseguir informações do Olimpo, mesmo estando no reino mortal.
  Fenrir e Júpiter estavam com um olhar curioso. Aquela informação poderia ser bastante útil para eles.
  _ Eu queria ser capaz de fornecer mais informações, mas, minhas memórias estão um pouco nebulosas, graças ao tanto de vez que eu já reencarnei.
  _ Posso te fazer uma pergunta? – apesar da voz de Júpiter não soar ofensiva, seu olhar era incisivo, já demonstrando o que perguntaria.
  _ Fique à vontade, Jú!
  _ Se você é realmente uma deusa, por que ainda está presa aqui? Você poderia escapar facilmente daqui, certo?
  _ De forma simplificada, eu posso dizer que o corpo mortal possui mais limitações do que eu gostaria. Mas, você já se esqueceu do nosso “acordinho”, Jú? – A voz de Hêstia tornou a soar arrogante e luxuosa, junto de um olhar confiante.
  _ Não se preocupe, “Deusa”, o que eu prometi, será cumprido! Agora, nós podemos passar?
  Diaz, ainda desacordado, agora estava sendo carregado por sobre os ombros de Fenrir, que estava em pé ao lado de Júpiter, esperando uma confirmação. Júpiter também havia se levantado, e, encarando a deusa exilada, também esperou uma resposta, mas um pouco impaciente.
  _ Vocês são muito irritantes, sabiam? – Hêstia fez uma pausa para um longo suspiro, e voltou a falar – Não pensem que essas pequenas informações irão resolver boa parte de seus problemas, mas, infelizmente, quanto o assunto envolve um deus, tudo se torna mais complicado!
  _ Não precisa se preocupar, “Velha Deusa”, porque a gente vai se virar bem!
  _ Você nem sequer é capaz de imaginar o problema em que você vai se meter por causa desse garoto! Espero que esteja realmente preparada, Jú!
  _ Podemos passar? – Júpiter apontou com a cabeça para a porta atrás da mulher, e voltou seu olhar para Hêstia.
  _ Fiquem à vontade!
  A porta para qual Júpiter apontou e que, durante aquele tempo todo, não havia mostrado nenhum movimento leve, começou a abrir lentamente, após um som de aço girando que veio do movimento da maçaneta. A porta se abriu sozinha, enquanto Hêstia sorria para os dois ‘convidados’, sem fazer qualquer tipo de movimento suspeito.
  Quando a porta se abriu completamente, um pequeno corredor podia ser visto, e, no seu final, alguns degraus de pedra, iguais ao chão de toda aquela prisão. A iluminação do corredor era fraca, mas, muito melhor do que dos corredores de antes.
  Fenrir foi o primeiro a se mover, atravessando a sala com Diaz sobre os ombros. Quando ele passou ao lado de Hêstia, pôde ver um olhar animado vindo em sua direção, mas, optou em ignorar a mulher que ainda estava sentada.
  Júpiter esperou até que ele saísse da sala, e começou a se mover em direção a porta aberta.
  _ Por favor, fique viva para que haja outra chance conversarmos, Jú!
  _ Não morra de tédio até nos encontrarmos novamente!
  Júpiter passou pela deusa sentada, mas, nem sequer olhou em seu rosto. Ela estava com pressa para sair daquele lugar, então não havia mais paciência em sua mente.
  Como se reagisse a pressa da áster, a porta se fechou em um movimento rápido, quando Júpiter estava a um passo dela.
  _ Ei, Hêstia, você precisa de alguma coisa? – Júpiter não se virou, mas, sua voz mostrou a agressividade que seu olhar possuía.
  _ Eu tive uma ideia, Jú. Por que você não me faz companhia por algum tempo? – Hêstia possuía malícia na voz, e, ao mesmo tempo, um sorrisinho de canto de boca começou a surgir em seu rosto.
  Assim como surgiram repentinamente, as adagas curvadas sumiram em um piscar de olhos, deixando Júpiter sem arma para atacar ou se defender.
  _ Sinceramente, eu sinto um pouco de respeito por você, Hêstia, então, eu queria te avisar que não estou indefesa sem as minhas lâminas! – Júpiter soou agressiva, deixando evidente sua ameaça para ela.
  _ Pequena Jú, mesmo nesse corpo humano, você sabe bem que eu não sou fraca! E, acho que não percebeu, mas, você está em desvantagem aqui dentro. – Hêstia também estava sendo hostil, e, ao falar, virou seu corpo o suficiente para observar Júpiter.
  Júpiter sentiu aquele olhar em suas costas, e isso só serviu para a irritar ainda mais. Sua mente mandava que acertasse a mulher com todas as suas forças, mas, lembrando de suas prioridades, Jú apenas se virou e, enquanto um de seus olhos ganhava aquela cor alaranjada novamente, encarou a mulher sentada.
  _ Acho que você se confundiu, Hêstia, é você quem está presa aqui comigo!
  Não houve resposta para a ameaça de Júpiter, e, por alguns, apenas o som de uma leve corrente de ar podia ser escutado. As duas estavam se encarando, e seus olhares mostravam uma hostilidade quase palpável.
  Irritada e impaciente, Júpiter deu um passo em direção a mulher, mas, parou com o som da porta se abrindo novamente.
  _ Obrigado! – Mesmo irritada, Júpiter fez questão de agradecer, mantendo um grande sarcasmo em sua voz, e se virou para sair da sala.
  _ Você continua bonita, Júpiter, igual ao dia em que eu fui presa aqui! Espero que venha me visitar novamente!
  _ Eu desejo nunca mais ver seu rosto, Hêstia! – Júpiter não se virou e nem parou de andar enquanto falava.
  _ Eu tenho certeza que a gente vai se encontrar novamente, Júpiter e Sísifo! – Hêstia quase sussurrou quando a porta terminou de se fechar, deixando a mais uma vez sozinha naquela sala pequena.

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