87 - Tides

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EPÍLOGO

O pequeno Ryan apareceu em nossas vidas no dia seguinte em que voltamos da Austrália, em uma viagem para comemorar três anos de casamento, já que nunca tivemos uma lua de mel.

Era um começo de noite de sábado. Estávamos todos na 19 aproveitando ser um turno calmo para a equipe até que, quando já íamos embora, Vic desceu na nossa frente e encontrou uma mochila esportiva com um bebê dentro. Isso era relativamente comum, tinham todo um protocolo a seguir, porém isso acabou mexendo com nós duas.

Assim como três anos de casamento, se completava três anos que decidimos entrar para a lista de espera para adotar uma criança. Não tínhamos muitas exigências, apenas queríamos um filho, e mesmo com a quantidade de bebês e crianças que viviam em lares provisórios, parecia que nossa vez nunca iria chegar.

Como não queríamos nos apegar a aquele bebê, sequer pegamos o menino no colo, mal olhando para ele. Eu notei o quanto os olhos de Maya se encheram de água enquanto descíamos as escadas da entrada até a calçada, então ir para casa talvez tenha sido a melhor opção. Porém, pouco depois da meia-noite, o meu celular tocou. Aparentemente, havia um bebê pronto para ser adotado. Apesar da pressa, tentamos nos acalmar no caminho. Tudo estava pronto. Nós tínhamos condições de finalmente formar uma família.

E, quando chegamos lá, nos surpreendemos ao ver que era o mesmo bebê que fora deixado na estação algumas horas antes.

Quando finalmente pudemos pegá-lo no colo, ele imediatamente se achegou no meu ombro e voltou a dormir como se nunca tivesse sido incomodado na vida. Fomos informadas que não sabiam exatamente a data de nascimento do bebê, mas que ele tinha entre trinta e quarenta dias de vida. E, assim como sem aniversário, não tinha um nome.

Porém aquele tópico já fora uma conversa nossa meses antes. Independente de sexo, o bebê se chamaria Ryan.

Poucas semanas depois da morte do policial durante um de seus turnos, nós decidimos que assim seria. Desde a minha segunda vinda para Seattle, ele absolutamente sempre foi um grande apoio e, acima de tudo, um amigo incrível. Merecia uma homenagem a sua altura.

Com Andy fora de Seattle após a morte do namorado, o resto de nós passou a se revezar para ir até a casa da bombeira para nunca deixar o lugar parado. Ainda tínhamos esperança que ela voltaria para a cidade, e queríamos ter certeza que tudo estaria do jeito que ela deixou quando isso acontecesse.

Apesar de todo o resto, eu e Maya finalmente começamos a sentir como se nossas vidas estivessem alinhadas.

Em meu primeiro dia de volta ao trabalho, quando a licença maternidade que Bailey me concedeu acabou – mesmo eu insistindo que não precisava de tantos meses assim –, eu me arrependi profundamente em ter dito que seria muito tempo. Eu mal podia esperar para voltar para casa.

Ao destrancar a porta, estranhei a quietude que o apartamento estava. Normalmente o lugar era preenchido de gargalhadas infantis misturadas com as de Maya ou músicas de desenhos animados, porém naquele começo de tarde em específico, não se podia ouvir um barulho sequer.

Quando entrei, vi Maya com o filho em sua barriga, agarrando as pequenas mãos no elástico do shorts dela, ambos em um sono profundo. Tentei ter cuidado ao buscar um cobertor no quarto, de forma alguma querendo tirá-los daquela paz.

– Já chegou? – ela mantinha os olhos entreabertos, um pouco incomodada com a luz.

– Dois minutos atrás. Pode voltar a dormir – me abaixei o suficiente para conseguir dar um selinho na mulher e um beijo na cabeça do menor em seguida. – Ele tá crescendo rápido demais.

Depois de todo esse tempo - MARINAOnde histórias criam vida. Descubra agora