Doce companhia

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—— Ei, ei, vai com calma... —— Disse, vendo Kaeya levar uma taça cheia da vinho a boca.

—— Haha, está com medo do quê? —— Me olhou com um sorriso, colocando a taça na cômoda perto da minha cama.

Durante a conversa na taverna ontem (que durou todo o resto da tarde, já que com Kaeya, eu ás vezes me divirto  e rio tanto com seu jeito engraçado, que perco a noção do tempo), ele disse que visitaria a adega, para provar vinhos diferentes comigo. E é claro que eu ainda não tomei nenhum.

—— De você passar mal, talvez? —— Encolhi meus braços. —— Como ainda não está bêbado? É sua sexta taça, e esse vinho é forte. —— O olhei surpresa.

—— Ei, à esta altura de relacionamento, devia saber que estou acostumado. —— Me cutucou, me fazendo rir pelas leves cócegas que senti.

Encheu sua taça com o mesmo vinho que bebera, levando na minha direção.

—— Não, não, não. —— Me afastei.

—— Vamos, sua vez, você só bebeu uma taça.

—— Aquele era doce, esse é amargo! —— Expliquei.

—— Se beber esse completamente, prometo não insistir mais... pelo menos hoje. —— Inclinou a cabeça para o lado, sorrindo.

Suspirei, pegando a taça, hesitando. Encaro a bebida cor de sangue, respirando fundo e fechando os olhos, bebendo todo o líquido ali, tentando ignorar o gosto até que acabasse. Assim que bebi tudo, bati a taça na cômoda, e me jogando para trás, na cama.

—— Augh, isso é horrível. —— Grunhi, com uma cara de desgosto.

Kaeya riu, se deitando ao meu lado, com a cabeça apoiada na mão.

Um silêncio se instalou ali por alguns segundos.

—— Você... pretende voltar e descansar em Mondstadt de novo?

Viro a cabeça para o lado, seus olhos azuis atentos em mim e ansiosos pela resposta.

Me sento.

—— Não vai ter ninguém como Jean lá para me convencer, então provavelmente não.

—— E quanto a mim?

—— O quê? —— O encaro confusa, então ele se senta ao meu lado.

—— Eu posso ir com você. —— Inclinou a cabeça um pouco para o lado.

—— Por que? Quer dizer... e os Cavaleiros de Favonius?

—— Haha, Lumine, não sou só eu que faço parte dos Cavaleiros de Favonius, eu posso muito bem ir para Inazuma hoje mesmo se eu avisar a eles.

—— Eu realmente não quero incomodar Kaeya, não precisa se preocupar comigo. —— Desviei o olhar para minhas coxas.

—— Mas me preocupo, você é minha amiga. —— Pausou, esperando que minha atenção fosse voltada a ele, e assim foi. —— E eu sou um cavalheiro. —— Se gabou, me fazendo rir.

O encaro por alguns segundos, e desvio o olhar, pensando no que dizer.

—— Obrigada... eu aprecio muito sua preocupação, e sou grata por estar sempre do meu lado. Não me importo de ir a Inazuma comigo, na verdade seria muito bom a sua companhia. —— Pausei, sentindo as bochechas esquentarem ao perceber o que havia dito. —— ... só te acho um ótimo amigo, e tenho de acabar atrapalhando algo.

Breves segundos em silêncio, até que decido olhar na sua cara para ver sua reação.

—— Lumine... que romântico! Assim eu não resisto. —— Deitou-se na cama com a cabeça apoiada na mão novamente. —— Bom, como eu disse, não há problema algum na minha ida a Inazuma... e mesmo se houvesse, eu não vou deixar você sozinha sabendo o que aconteceu em Liyue quando estava lá. Então pare de se preocupar. —— Sorriu doce me fazendo devolver do mesmo jeito.

Kaeya é e sempre foi muito cuidadoso, talvez por isso passei a me sentir tão á vontade ao seu lado e criando esse laço de intimidade. Ele sabe me fazer rir e parece sempre saber o que estou sentindo.

Me deito o seu lado, encarando o teto em silêncio.

—— Esse vinho é muito ruim, não quer sair o gosto...

Ouço baixinho a risada gostosa do homem ao lado.

—— Certo, então não vá para Inazuma sem mim, hum? —— Se virou na minha direção.

—— Jamais. —— Vejo seu sorriso aumentar.

No meio daquele momento, vejo Diluc passar frustrado pela porta, podendo ouvir os passos firmes baterem na escada.

—— Ele... sempre fica nervoso de repente, não ligue muito.

—— Não, eu acho que algo aconteceu. —— Sento na cama, prestes a levantar, mas Kaeya me impede, segurando pelo pulso.

—— Vamos, não vale a pena, pro seu bem deixa ele em paz, conheço ele desde pequeno, ir atrás só vai incomodá-lo.

Olho para o chão, então ele afrouxa a pegada, vendo que eu não sairia dali.

Meu olhar acaba parando na garrafa de vinho pousada da cômoda, tomo um gole.

—— É assim que pretende fazer o gosto sair? —— Riu.

—— É. —— Aperto os olhos, virando o rosto. —— Não é bom mesmo...

—— Haha, o que foi isso? Não tinha certeza antes?

Não consigo segurar minha risadinha.

—— Não sei o que foi.

Silêncio por breves segundos.

—— Lumine...? —— Se aproximou de mim num tom meio irônico. —— Minha presença faz tanta diferença assim? Você bebeu por conta própria...! —— Forçou um tom surpreso.

—— Isso, algo assim. —— Sorri, entregando a garrafa para ele. —— Aqui, não vou mais beber, dessa vez é sério.

—— Não acredito em você, mas pelo menos sobra mais pra mim.

Sorrimos um ao outro, mantendo nossos olhares por breves segundos, pois o momento é interrompido ao ouvir uma batida na parede em algum lugar da casa não tão longe desse quarto.

Meu olhar automaticamente pousou na janela, vendo que o céu começaria a escurecer.

—— Lumine...

—— O céu está escurecendo, é melhor... —— Percebo que ele ia falar algo, olhando para si, que parecia meio perdido. —— Desculpa, o que você ia dizer? —— Então sorriu.

—— Nada. —— Se levantou. —— Queria ficar mais, mas tem razão é melhor eu ir.

Me levanto também.

—— Certeza que não quer ficar? —— Estendeu a garrafa.

Solto uma risada nasal.

—— Achei que ficaria com você, não tinha certeza antes?

—— Isso, algo assim. —— Repetiu minhas falas e ambos rimos.

Desci as escadas, sentindo o cheiro de comida pronta, me despedi do mesmo e fechei a porta.

Não muito tempo depois, as empregadas colocaram o jantar na mesa, e novamente, eu me sento na mesma mesa que o dono da Adega.

Dessa vez, o clima estava estranhamente desconfortável. Ele não trocou sequer uma palavra comigo, parecia irritado. Diluc comeu a comida um pouco mais rápido, como se quisesse sair dali logo, acabou primeiro que eu e saiu em passos apressados e firmes.

Eu não consigo entendê-lo.

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