Me impeça

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Dei uma última olhada no espelho, vendo se estava tudo arrumado.

A noite havia chegado, o dia da festa de despedida que Jean havia dito na tarde de ontem.

Na manhã seguinte me enviou um pacote contendo um vestido que estava sendo feito para mim há um tempo de acordo com sua carta.

Usava um longo vestido branco que batia na metade de minha panturrilha, abaixo, bordado ao redor dos seios, uma estrela amarela entre eles, combinando com a pulseira da mão direita. Uma tiara circular de flores amarelas-claro no cabelo. Longas botas brancas, com detalhes de fitas circulando as pernas.

Encaro as bagagens atrás de mim refletidas no espelho, automaticamente uma expressão triste se forma em meu rosto.

Nem acredito que estarei indo embora daqui amanhã de manhã. Havia beijado o homem que eu gosto, me decepcionado e agora estou indo embora para esquecer tudo.

Já havia tentado compreendê-lo diversas vezes, quando achava que tinha, eu via que não era bem assim. Diluc é um homem fechado, talvez nem alguém que ele ame possa permitir que ele se abra, ou talvez eu apenas não seja a pessoa certa. Desde que cheguei aqui aprendi muito sobre ele, mas não o suficiente, e ele não vai permitir que eu veja seus sentimentos mais profundos.

Aprendi que ele não é ruim como as pessoas dizem, ele é um ótimo amigo, nossos momentos de piadas e provocações (principalmente no xadrez) provavam isso.

Mas em questão de amor, isso é complicado, apesar de eu ter feito tudo para que se sentisse confortável em falar de coisas mais íntimas comigo, para que ele se sentisse íntimo comigo, eu não deveria ter me deixado levar pelas suposições de que havia me tornado uma figura no mínimo importante na sua vida.

Encarei meu rosto no reflexo, apertando os lábios.

O tempo que passei aqui com ele fez meus sentimentos amorosos que já possuía por ele (por mais mínimos que sejam) sem saber, aumentarem, e antes mesmo de eu notar já estava completamente encantada. O seu carinho em tudo que faz comigo, como se eu fosse um ser extremamente frágil, o cuidado com as palavras, como se não quisesse de jeito nenhum correr o risco de me magoar, sua gentileza, seu sorriso, tudo isso havia me consumido.

Então é de fato muito estranho tudo isso mudar de uma hora para outra, por eu ter me deixado levar, todas as chances que poderia ter com ele acabaram.

Todo o carinho que havia feito comigo não passavam de cortesia?

Suspiro, balançando a cabeça. Pego monha bolsinha que estava pendurada na parede, envolvendo-a no meu braço, então saio do quarto, fechando a porta atrás de mim.

Pronta para descer escadas, paro ao ouvir um grunhido vindo do quarto ao lado.

Hesitante, me aproximo devagar para ver discretamente.

Diluc tentava arrumar sua gravata preta abaixo da gola de sua camisa branca, por baixo de um blazer preto em detalhes cinza escuro quase imperceptíveis nas laterais. Usava uma calça preta confortável, junto de meias brancas, ainda não havia colocado seus sapatos. E o cabelo amarrado.

Com o canto do olho, seu olhar parou na minha direção, me deixando vermelha de vergonha.

Observo sua gravata desajeitada, e meu corpo, sem que eu queria, vai em sua direção em silêncio. Posiciono as mãos ao redor de seu pescoço, arrumando a gravata. Ele não faz nada, apenas fica quieto.

—— Pronto. —— Me afasto ao terminar, continuando a encarar sua gravata, evitando o seu olhar.

Após um breve silêncio, ele se aproxima, ajeitando minha tiara de flores e depois me analisando de cima a baixo.

Just YouWhere stories live. Discover now