Não acho o mal falado

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—— Xeque-mate. —— Apontei minha espada para si.

Ouço o rapaz de cabelos vermelhos soltar um riso, com um ar meio ofegante.

Estendi minha mão, que depois de alguns segundos foi pega por Diluc, se levantando.

—— No xadrez com certeza eu venceria.

—— Mesmo? —— Decido brincar. —— Não lembro de muitas derrotas minhas... —— Falei num tom irônico.

—— Estou melhor agora, tenho certeza de que te venceria se jogarmos uma partida neste momento.

—— Aposto que treinou minhas jogadas.

Sorrimos um para o outro. A luz do sol batia em minhas costas, estamos treinando desde manhã, como havia prometido na partida de xadrez.

No começo do nosso dia ele parecia bem frustrado, bem como estava ontem quando quase me embebedei junto de Kaeya. Mas com o tempo, ele ficou mais calmo, e agora faz algumas piadinhas bem de vez em quando.

Foi mais rápido do que eu pensei, mas sinto que ele está mais aberto comigo, como se já tivesse acostumado com minha presença bem antes da chegada na adega, pois eu não precisei me esforçar tanto quanto eu havia imaginado para criar algum laço positivo com ele.

—— Bom trabalho. —— Afagou minha cabeça, sorrindo, então virou a cabeça rapidamente, indo pegar seu espadão que caíra no chão.

Sinto meu coração aquecer de alegria, uma onda de conforto. Sua companhia é realmente boa, eu mesma pude ver que os comentários sobre Diluc são totalmente falsos. Com o tempo que eu passara ao rapaz, ele nunca fez ou falou algo que permitisse que eu o julgasse, sei que ele tem seus motivos, como qualquer outra pessoa, sei que ele é uma boa pessoa, não imaginava que ele fosse me tratar tão bem na minha hospedagem aqui, no começo ele pode até ter sido meio rude, mas acredito que não é acostumado ao ambiente sociável, então duvido que tenha se sentido confortável vendo que eu me hospedaria na Adega, mas ainda sim ele não me tratou ruim.

Com o tempo eu também fui mudando, me senti realmente um pouco próxima do ruivo, e me permiti soltar algumas piadas ou coisas do tipo, e ele não se incomoda, pelo contrário, ele acha graça de todas.

Saio de meus pensamentos ao vê-lo me encarando.

—— O que foi?

—— Espera. —— Se aproximou, se posicionado atrás de mim. —— Está frouxo. —— Sinto sua voz grave vibrar sobre minha cabeça, me causando um leve arrepio.

Sinto as mãos grandes do maior passarem pelos meus cabelos, maxilar, testa, nuca... mais um contato no mínimo íntimo vindo dele.

Sempre me senti meio ansiosa quando Diluc iria me tocar, sua mania de afagar meu cabelo, ou quando ele o amarra, não faz muito tempo que estou aqui na adega, então é bem raro seus toques físicos, ainda mais vindo dele, mas sempre que isso acontece, eu me arrepio, que acaba me deixando mais ansiosa durante o dia pois nunca sei o motivo disso acontecer, talvez porque não é de se esperar algo assim vindo dele, seja lá o que for.

Diluc então amarrou o pequeno coque que eu havia feito, que ficara frouxo, e agora ele havia prendido forte.

—— Pelo o que parece está colocando tudo de si, me acha um bom oponente? —— Me virei para si, vendo seu pequeno, bem pequeno mesmo, sorrisinho de canto.

—— É claro, por que acha que de tantas pessoas de Teyvat eu escolheria você para lutar? —— Ironizei. —— Mas, sendo sincera, realmente te acho incrível no combate, desde aquele dia que você ficara conhecido como um herói lá na cidade, o herói que sempre passava desapercebido.

—— Bom, anos de treinamento, mas tenho certeza que você tem histórias melhores que a minha. Não duvido que fará uma grande mudança lá em Sumeru, igual já fez em outras regiões.

—— Não estou tão ansiosa quanto antes sobre ir pra Sumeru, estou conseguindo me acalmar depois de... ficar alguns dias na adega. Felizmente na minha viagem eu vou ter companhia.

Sua cara faz uma expressão estranha.

—— Quem seria? —— Me olhou com uma leve seriedade.

—— Kaeya.

Sua face não demonstrou qualquer tipo de surpresa ou algo do tipo, assim que falei, estava a mesma de alguns segundos atrás, fechada.

—— Sua companhia sempre me faz rir, eu não vou reclamar da sua presença na minha viagem a Sumeru.

—— Tenho certeza... que vão se divertir. —— Desviou o olhar e apoiou as mãos no seu espadão, com a ponta cravada no chão.

O olho com confusão.

Fez uma expressão como se estivesse pensando em algo.

—— Que tal se dessa vez trocarmos as armas? —— Voltou ao motivo principal de estarmos ali do lado de fora, de baixo de uma árvore gigante que projeta uma longa sombra. Dessa vez, com a cara emburrada.

Eu nunca consigo entendê-lo totalmente, Diluc sempre muda de repente, ele ri das minhas brincadeiras e de uma hora para outra fica irritado, e eu nunca consigo saber o motivo.


— Trocar? É uma boa ideia? Não sei mexer com espadão nem um pouco.

—— É um treino, vamos. —— Falou direto, me encarando com um pouco de seriedade, estendendo seu espadão.

E assim foi feito, ele pegou minha espada, que comparada ao seu espadão, é quase um algodão em questão de leveza.

—— Que injusto, você é bem mais forte e é maior.

Resmunguei baixinho, mas ele ouviu, e não conseguiu segurar sua risadinha nasal.

—— É o melhor que pode fazer, viajante?

O olhei com um sorriso desafiador, assim como ele fizera.

—— Com certeza não.

Nos posicionamos, prontos para lutar, apenas esperando o momento certo, vendo nos olhos um do outro quem daria o primeiro movimento.

Algumas entradas entre as folhas da árvore davam espaço para o sol, que preenchia algumas partes de nossos corpos e gramado. Só se podia ouvir os pássaros ao longe.

A gota de suor que escorria de nossas testas derramava, e assim que caíra, ambos iniciamos o movimento ao mesmo tempo.

Só que, apesar da grande expectativa de que fosse dar certo, eu nunca havia usado um espadão, e ele também não parecia ser muito bom na espada. Então, no primeiro movimento, ambos demos um avanço á frente, eu acabei colocando leveza demais num espadão, esquecendo que não estava com a minha arma, e o caso dele deve ter sido o mesmo, pois o vi colocando tanta força no ataque que ia dar, que acabou dando uma volta, e eu acabei esbarrando em si, fazendo com que ambos caíssem na grama.

Tudo aconteceu tão rápido, eu não consegui segurar minha risada. Essa foi a cena mais ridícula que havia visto.

Minha risada durou mais ou menos 15 segundos, então ele me encarou vendo que não estava cessando, esperando eu parar.

—— Ei... —— Murmurou. —— ... vamos...

Falou Diluc, deitado do meu lado enquanto aturava minhas gargalhadas. Eu não conseguia, minha barriga já estava doendo.

Esperei me acalmar um pouco para conseguir falar algo no mínimo compreensível de se ouvir.

—— Você... girou!

E as gargalhadas voltaram e eu coloquei a mão na barriga, Diluc continuava em silêncio, mas foi então que ouço suas risadas fracas, que começaram a se tornar mais audíveis aos poucos.

E rimos sem parar sobre aquele gramado, com a luz solar adentrando as folhas da árvore levemente, sem muito sucesso. A brisa que veio se misturou com nossas risadas que foram levadas ao vento.

Parecíamos dois idiotas.

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