Capítulo 26

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          Assim que saímos da delegacia, tudo havia apenas começado. O investigador era um de nossos conhecidos, e ficou empolgado com toda a história, aproveitamos para apresentar todas as nossas provas e até mesmo lhe garantir uma viagem em um resort mais caro no Brasil. Dizem que lá possuem as melhores e mais belas praias, eu queria garantir o conforto daqueles que estariam do meu lado. 

          Até que o senhor Seo estivesse na cadeia e a senhorita Seo-Young fosse deportada não estaríamos cem por cento seguros. Apenas respirei fundo e dei a partida no motor na rua que agora estava menos movimentada e agora iluminada com as luzes da cidade. O restaurante favorito no qual eu vinha sempre com meus pais havia perdido um pouco da graça desde a sua partida. Pensei em um dia poder trazer a Alice, eu não conseguiria adentrar em um lugar tão familiar que não fosse com alguém tão importante.

          Meus pais se conheceram em um ambiente como nossa atual empresa, minha mãe costumava ser sua secretária ao ponto de que ele não conseguia viver sem ela. Eu também não viveria. Ao contrário do meu pai que não costumava agir emocionalmente, minha mãe era o oposto, ambos se completavam. No começo foi difícil para ambos aceitarem de que tudo não passava mais do que algo profissional. O senhor Lee era um homem requisitado nos ambientes por ter uma postura financeiramente desejada pela maioria das casamenteiras, mas o que ninguém esperava é que o senhor Lee era uma pessoa dificilmente aberta a relacionamentos, talvez tivéssemos algo em comum como a dificuldade em abrir-se para que outra pessoa pudesse participar da sua vida.

          Minha mãe a senhorita Kim era uma mulher sonhadora e doce, diferente do homem frio e exigente que era o senhor Lee. A senhorita Kim veio de uma família humilde, sendo ela filha única. Ela esforçou-se ao máximo para entender meu pai, a ponto de ficar ao seu lado tanto tempo que esqueceu de que deveria viver uma vida pessoal. Foi difícil, porém, ambos entenderam que tudo aquilo não passava de um relacionamento amoroso, ambos sentiam ciúmes um do outro. Às vezes sinto inveja do que viveram, mas ao mesmo tempo era algo muito parecido do que estava acontecendo atualmente. Alice era uma das minhas principais prioridades, embora ela não estivesse tão aberta aos meus sentimentos, talvez eu fosse um caso de uma noite. Mas até eu mesmo não conseguia acreditar no que estava vivendo. Eu me preocupava se ela estaria se alimentando de maneira adequada, se ficaria doente em noites gélidas da Coreia. Eu jamais sentira algo parecido, nem quando estava com a Seo. Mas como poderia sentir se tudo não passava de algo arranjado e planejado? Eu apenas havia aceitado como algo predestinado pelos meus pais. Eu confiava nos mesmos, porém, nunca aceitei o fato de ser o último a saber disto. Principalmente por ter sido a esposa do senhor Seo ter dito-me com uma carta escrita por minha mãe. Sua letra estava diferente, mas por emoção e calor do momento apenas aceitei. Sabemos agora que tudo era uma grande farsa afim de ambos de darem o golpe.

          Estava cansado de mentiras e esgotado psicologicamente. Saber que o senhor Seo havia matado meus pais afim de conseguir dinheiro me tirava do sério. Eu tinha planos de vingança, e gostaria de começar aos poucos. Tudo estava amplamente arquitetado em minha mente, estava ansioso. Virei algumas ruas pegando uma pequena BR que dava como atalho para casa onde Alice me aguardava, disquei seu número afim de saber se tudo corria bem. Ajeitei o pequeno fone em meu ouvido e acelerei um pouco o carro.

- Oi. - Sua voz era doce e tranquila, eu diria que seria uma das oitavas maravilhas do mundo.

- Oi. - Falei tranquilo enquanto ainda encarava o restaurante.

- Me parece que eram muitos documentos a serem assinados. - Ela riu baixo.

- Sim, eram muitos. Porém importantes.

- Mais importante do que você voltar com vida para casa? 

- Com toda certeza não. Mas o que acha de abrir um dos vinhos que trouxe? Hoje foi um dia cheio.

- É uma ocasião especial? - Sua voz era provocadora.

- Talvez? Se eu disser que sim seria mais um apenas uma taça de vinho?

- Hum. - Ela confirmou me fazendo rir baixo.

- Me dê apenas alguns minutos, chegarei em breve.

- Dirija com segurança.

- Sim. - Falei em um tom brincalhão e desligando o telefone discando para o senhor Cha enquanto colocava meu fone de ouvido saindo com o carro da rua.

- Sim?

- Preciso de uma documentação de sociedade.

- Sociedade?

- Sim. Meu pai não deveria ter confiado demais em pessoas erradas.

- Entendo, mas para quem eu deveria dirigir a sociedade? Preciso coletar os dados para a documentação.

- Não é tão óbvio? - Brinquei.

- Entendi. Estará em seu e-mail alguns minutos.

- Obrigado. Também preciso que cuide de algo enquanto as investigações iniciam. 

- O que tem em mente?

- Eu quero vê-los malucos, consegue me entender?

- Depende, até que ponto o senhor gostaria de chegar com isso?

- Ao ponto de serem considerados como loucos. Morrer seria fácil demais e acabaríamos com a diversão rápido demais.

- Entendo perfeitamente. Conheço algumas pessoas que possam nos ajudar nisto.

- Ótimo! Preciso de total responsabilidade.

-Sim, senhor.

- Primeiro a senhorita Seo-Young. Quero-a deportada até o fim do mês. Depois a Seo, e por último o senhor Seo, eu quero que ele saiba que eu estou chegando.

- Irei providenciar tudo o que precisa.

- Perfeito. Considere isso como um período de férias nos quais agora temos brinquedos para nos divertirmos. Eu não vou parar até que todos estejam loucos.

- Em quanto tempo pretende fazer tudo?

- Antes que sejam presos. A prisão hoje fornece muitos benefícios, ambos não são merecedores disto. Você já foi a um manicômio, senhor Cha?

- Não senhor, mas acredito que seja pior que a prisão.

- Sabia que foi de lá que aperfeiçoaram a cadeira elétrica? Farei questão de comprar a mais cara e de última geração. Inicie um patrocínio o mais rápido para que não sejamos suspeitos de algo. Devemos ser cuidadosos.

- Pode deixar, senhor.

-Ok, até amanhã. - Desliguei.

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