Capítulo 30

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          Abri os olhos devagar assim que senti uma luz fraca atingir minha pele e ao mesmo tempo distribuir o calor por todo meu corpo. A cortina estava sendo aberta devagar, apertei um pouco os olhos afim de enxergar melhor. Tae-Moo vestia uma camisa branca de mangas curtas e uma calça moletom cinza. Seus cabelos estavam um pouco bagunçados como se estivesse acabado de acordar. O mesmo estava de costas quando percebi onde eu poderia estar. Um pequeno oxímetro em meu dedo indicador, no qual a máquina ao lado pontuava meus batimentos cardíacos. Uma máscara estava sob meu rosto distribuindo um pouco de oxigênio no qual eu agora buscava quando senti uma pontada de ansiedade sobre tudo que havia acontecido.

          Virei o rosto devagar em direção a Tae-Moo para observá-lo melhor, e alguns de seus pertences estavam distribuídos pelo quarto. Me parecia de que fazia um bom tempo de que ele estava ali, ou talvez nós estivéssemos ali. Ele bocejou baixo e caminhou devagar em direção a uma porta que talvez poderia ser o banheiro. Olhei para minhas mãos que agora possuíam uma cicatriz e braços, confirmando de que fazia um bom tempo de que poderia estar ali, minhas unhas já não estavam mais pintadas como antes, meus cabelos pareciam um pouco ressecados e sem vida. Sentei com cuidado e retirei a máscara de que estava em meu rosto, junto com o oxímetro. Coloquei meus pés no chão e fui atingida por uma leve tontura. Apoiei-me no suporte de soro o arrastando até a janela e fechando os olhos sentindo o sol aquecer minha pele. Deveria ser umas seis da manhã ou até menos que isto. Apenas respirei fundo ouvindo o longo bip do oxímetro se desfazer, sonorizando a sala inteira.

- Alice! Alice! - Pude ouvir a voz de Tae-Moo desesperado assim que abriu a porta do banheiro. Continuei de pé ainda de olhos fechados absorvendo o máximo que pudesse da energia solar.

          Encarei o mesmo sem muita pressa. Teríamos tempo suficiente para discutir tudo que havia acontecido. Eu apenas gostaria de ficar ali, parada o encarando. Ele parecia chocado e talvez sem acreditar em tudo que estava acontecendo. Um pouco de barba havia em seu rosto, uma aparência desconhecida por mim. Porque ele havia se descuidado tanto? E quanto tempo estávamos aqui? Caminhei devagar pois ainda estava um pouco tonta e enjoada. Tae-Moo continuou parado e chocado. Apenas parei menos de meio metro a sua frente e abri os braços. Tae-Moo caminhou devagar com os olhos vermelhos e me abraçou. 

- Você acordou. - Ele sussurrou com a voz um pouco trêmula. - Eu achei que ia te perder.

- Está tudo bem. - Minha voz saiu rouca. - Eu acordei. Está tudo bem. - Tae-Moo desta vez soluçava me apertando ainda mais contra seu corpo.

- Eu te amo. - As palavras saíram de sua boca de uma forma tão espontânea e simples, que foi apenas isto para fazer meu coração aquecer de uma forma jamais vista.

- Eu também te amo. - Foi apenas isto que consegui responder depois que as lágrimas começaram a derramar-se em seu rosto.

- Foi tudo culpa minha. - Tae-Moo lamentava em meio ao choro.

- Ei, não foi sua culpa. - Me afastei para o encará-lo. Seu rosto estava abatido e cansado. Quanto tempo eu havia dormido? O que estava acontecendo? 

- Estes últimos quatro meses foram os piores meses da minha vida. - Ele enxugava as lágrimas - Não havia um minuto sequer em que eu não me culpasse.

- Calma. - Me aproximei enxugando suas lágrimas. - Eu estou aqui com você, não estou? - Segurei suas mãos. - O que aconteceu? 

- Não se preocupe, preciso chamar o médico. Ele precisa fazer exames e ter a certeza de que tudo está bem. - Ele falou segurando em meus ombros enquanto se afastava de seguida em direção a porta em desespero. - Doutor! Enfermeira! Alguém! - Percebi que sua felicidade estava começando a surgir, quando um sorriso foi posto em seu rosto assim que caminhou rapidamente em minha direção.

- Tae-Moo! - Quase gritei e o mesmo me encarou de olhos arregalados. Apenas caminhei em sua direção e o abracei.

- Você está bem? - Suas mãos acariciaram meus cabelos.

- Agora estou. - Fechei meus olhos enquanto estava sendo mimada pelo homem no qual fez de tudo para que eu acordasse.

- Ela acordou? - Fomos interrompidos por uma voz desconhecida, até perceber de que poderia ser o médico no qual estava encarregado de meu tratamento.

- Sim. - Tae-Moo falou sorridente. 

- É um milagre. - O médico falou assustado.

- Não é mesmo? - Tae-Moo me abraçou orgulhoso. - Eu falei que ela iria acordar.

***

          Estávamos na sacada de sua casa no campo, era noite e podíamos sentir a brisa gostosa bater contra nosso rosto. Estávamos sentados em uma cadeira larga e aconchegante, enquanto Tae-Moo me envolvia em seu colo. Estava grata por absolutamente tudo de bom que havia acontecido em minha vida. O fim que tudo havia tomado, e pensar de que tudo valeu a pena.

          As árvores em nossa frente balançavam de acordo com a direção do vento, criando toda uma atmosfera melancólica e solitária. Eu gostava. Afinal, estávamos sozinhos. Só nós dois. Estes últimos dias foram de readaptação, e fazer Tae-Moo entender a cada segundo de que eu estava bem era bem difícil. Sua preocupação o levou a mudanças de hábitos nas quais eu jamais poderia imaginar. Acredito que se não fosse pela ajuda do senhor Cha a empresa teria ido a falência completamente. Pelo visto eu estava desempregada já que a Golden havia falido. Soube também de que a senhorita Young-Seo havia sido deportada e acusada de desvio de dinheiro. Senhor Seo fazia alguns meses de que estava preso e também iria responder por vários processos de corrupção, assim como sua filha por ter sido aliada do mesmo por tanto tempo.

           Não conseguia acreditar que minha vida havia tomado este rumo, não só por ter entrado em coma por quatro meses, mas por estar namorando o dono de uma das maiores empresas da Coreia, que agora estava mais do que nunca preocupado com meu bem-estar. Havia saído do Brazil a pouco tempo e uma grande reviravolta virou minha vida de cabeça para baixo.

- Quando iremos nos casar? - Ele perguntou com seus braços em volta do meu corpo enquanto olhávamos a floresta a nossa frente.

- Mas nem começamos a namorar direito. - Brinquei.

- Estamos juntos a mais de oito meses, então não estávamos namorando? - Sua voz parecia de indignação. 

- Não sei. - Brinquei - Durante quatro meses eu não estava acordada.

- Mas eu cuidei de você durante quatro meses. - Aquilo era mais que verdade. Qualquer outra pessoa poderia ter me deportado e me deixado aos cuidados do meu país de origem.

- Mas não seria repentino nos casar agora? - Virei o rosto para encará-lo.

- Não. Eu te amo, você me ama. O que mais falta? - Ele arqueou a sobrancelha sorrindo.

- Você é um bobo mesmo. O que acha que vão pensar? Irão dizer que sou uma interesseira.

- Então está preocupada com o que vão dizer? - Ele sentou devagar me deixando apenas em uma de suas pernas.

- Um pouco. Você me conhece, não quero ser vista dessa forma. - Olhei para baixo enquanto falava.

- Então seja minha secretária, até criar sua empresa. - Ele queria que eu fosse sua secretária?

- Está demitindo o senhor Cha? - Arqueei a sobrancelha?

- Tenho um departamento melhor para ele na empresa. Já estava mais do que na hora de ser promovido.

- Sério? - Sorri contente.

- Hum. - Ele confirmou com a cabeça.

- Mas se eu aceitar - Fiquei um pouco relutante - Quero receber de forma justa. Não quero receber um valor extra ou algo do tipo só porque sou sua namorada.

- Onde eu assino? - Ele sorriu. - Aqui? - Recebi um selinho inesperado me fazendo rir e deitar com ele na cadeira entre os beijos.

- Eu te amo. - Sussurrei contra seus lábios.

- Eu te amo. - Ele respondeu acariciando meu rosto e me beijando novamente.

E foi assim que começamos o nosso para sempre.

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