Capítulo 1

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Ouse sonhar.

"Os sentimentos são como nutrientes para o nosso corpo, e quando a vida não está nos dando muito desses nutrientes, nós lemos." - Autora.

Melina

Mesmo com os olhos abertos, não consigo enxergar um metro a minha frente. A neblina densa cobre meus olhos, obrigando-me a permanecer parada.

A última coisa que lembro, é de estar extremamente doente, definhando em cima da minha cama. Agora, parada em meio a este lugar desconhecido, o pânico toma conta do meu interior, tornando meus pensamentos mais nebulosos.. Escuto gritos, risos, gargalhadas e até gemidos, são sons distantes, mas ainda audíveis.

Forço ainda mais meus olhos, tentando, quase inutilmente, ver o mínimo possível. Por um momento, penso que os Deuses estão do meu favor quando vejo, em forma de apenas borrões, uma multidão; em que todos parecem dançar, mas com os corpos totalmente desprovidos de vestimentas. Não reconheci ninguém. A confirmação de que não estou no meu reino, fez-me prender a respiração ainda mais assustada.

Não consigo mover meus pés. Todo o meu corpo dói, como se mil agulhas tivessem sido enfiadas sobre minha pele. Quero chorar, é uma vontade densa e apavorante. Tento clamar por ajuda desesperadamente, mas minha garganta também começa a doer.

Sinto uma rajada forte de vento bater contra meu corpo, fazendo-me colidir com o chão violentamente, e um grito doloroso escapa dos meus lábios secos. A terra rachada embaixo de mim parece ser a coisa mais quente que já encostei. E, completando o quão degradada eu estava, uma única lágrima deixa meu olho direito.

Minutos, quase eternos, passam vagarosamente, até que finalmente alguem se aproxime do meu corpo. Sinto algo cutucar minha cintura, como se tentasse confirmar que ainda tem vida, ou quem sou. Eu solto um ruído, quase inaudível.

Graças aos Deuses, ou não, a pessoa parece ter escutado, pois me pega no colo.

Sem suportar mais um segundo de dor, eu desmaio, deixando meu corpo, agora flácido, a mercê de um total desconhecido.

[...]

Acordo em um lugar com pouca iluminação. Meu corpo já não doía como antes, facilitando para que eu consiga me sentar. Com certa dificuldade, apoio minhas costas na parede e olho em volta.

Estou em uma sela. Grades fecham o minúsculo lugar, que tem paredes escuras e desgastadas com manchas horríveis. O odor desagradável adentra nas minhas narinas, fazendo-me torcer o nariz e apertar os olhos.

Uma vontade imensa de vomitar me sobe a garganta quando vejo um cadáver em decomposição ao meu lado. Arrasto minhas pernas pelo chão na tentativa de me afastar daquele corpo.

Lágrimas inundam novamente os meus olhos. Repreendo-me mentalmente por ser tão emotiva.

Tento me levantar, coloco mais força sobre minhas pernas e, depois de duas tentativas, consigo ficar de pé. Forço-me a dar um passo em direção as grades, quase caio, então me apoio ainda mais nas paredes. Tento novamente, tendo mais sucesso desta vez.

Com três mínimos passos dolorosos, consigo atravessar a pequena sela e chegar as grades. Seguro fortemente nelas, e grito o mais alto que consigo.

O eco do som que emito é a única resposta que recebo.

- Ajuda! - Grito ainda mais, sentido minha garganta doer em protesto. - Por favor! - Tento novamente, agora mais baixo.

Ninguém aparece, então caio de joelhos e cubro meu rosto com as mãos. Não me permito chorar.

As próximas horas, talvez dias, passaram vagarosamente. Sinto fome, dor e fraqueza. Não sabia a quanto tempo estava sem comer, mas era o suficiente para meu corpo sentir falta dos benefícios dos alimentos.

Mais tempo ainda se passa, até que, finalmente, escuto um ruído metálico vindo do longo corredor. Passos ainda mais altos se aproximam, então tento levantar novamente.

Uma sombra se aproxima, literalmente, pois mesmo de perto, os rosto da pessoa, ou que é que fosse aquilo, era apenas um borrão preto, vestido com trajes próprios para cavaleiros.

A sombra abre as grandes e agarra meu braço com violência, puxando-me para fora da sela. Analiso-o de perto, sentindo um cheiro sem vida sair dele. Mesmo amedrontada, permito-me perguntar:

- Onde está me levando? - Tento acompanhar seus longos passos, o que se torna uma tarefa difícil devido a fraqueza das minhas pernas. - Onde estamos? - Mais uma vez fico sem resposta.

O medo se aloja por toda a minha pele cada passo que sou obrigada a dar.

Quando o grande corredor, que parecia não ter fim, finalmente acaba, passamos por uma porta que nos leva a uma escada. A subida foi muito mais dolorosa.

Quando chegamos a parte de cima, dou-me conta de que o lugar onde estamos é uma castelo, mas não é nada parecido com o de meu pai. Este é o total oposto. As longas paredes escuras são repletas de luminárias; no teto tem estatuas de criaturas que, particularmente, descreveria como monstros mitológicos, ou até mesmo demônios.

Sou arrastada até uma porta enorme, totalmente prateada, com símbolos esculpidos em preto. Duas sombras, exatamente iguais a que me carrega, estão em frente a porta e batem no chão com um cajado, fazendo-a abrir.

Dentro da sala, a primeira coisa que avisto é o homem sentado em um trono, sua cabeça carrega uma pequena coroa com enfeites que pareciam brasas em chamas. Sua pele pálida realça os longos cabelos pretos e os olhos... aqueles olhos são a coisa mais bela que já vi. Um azul tão escuro quanto o mar ao anoitecer e, mesmo assim, chega a brilhar. Sinto-me hipnotizada.

Algumas pessoas estavam ao redor daquele homem, olhando-o como se fosse um Deus. E, que os Deuses me perdoem, mas pela sua aparência, ele poderia ser comparado com uma divindade.

Coro logo que percebo o quão errado era aquele meu pensamento. Fecho os olhos pedindo perdão aos meus Senhores Celestiais por tal blasfêmia.

Quando abro meus olhos novamente, vejo que sua atenção está em mim. Prendo a respiração. Aquele homem exala poder, talvez até literalmente.

As pessoas ao seu redor também me olham, algumas estão nuas, deixando cada pedaço de pele particular a vista, coro ainda mais. Olho para o meu próprio corpo e tenho em vista um vestido branco de dormir, completamente sujo e com uma lateral rasgada, que mostra um pouco mais da minha coxa.

- Melina. - A voz majestosa do homem no trono interrompe o silêncio. - Pergunto-me o porquê de alguém como você estar aqui. - Ele faz uma pausa e sorri, mostrando perfeitas bolas fundas nas suas bochechas, carregando escuridão em seu rosto malicioso. - O inferno não é para todos.








...

Sobre o livro:

Está sujeito a erros ortográfico e gramaticais.

É uma fantasia pensada completamente pela autora. Pode conter cenas de violência ou relações sexuais explicitas.

Detalhes da história:

Inferno/submundo - Já é conhecido mundialmente, não obra da imaginação da autora.

Selentys - Lar dos Deuses Virtuosos.






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