Capítulo 18

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"A essência da arte é a surpresa" - Autor desconhecido.

    

    Carmelita me deixou na metade do corredor e me desejou uma boa sorte com um sorriso encorajador nos lábios.

      Quando finalmente estou dentro das grandes portas, acho que coragem é pouco para o que devo ter. Consegui lidar com um Deus. O pior de todos eles. O condenado, exilado e perverso. Então sei que, não importa o que ocorra agora, não será o suficiente para me barbarizar. Não é como se eu estivesse sendo apenas pretensiosa, só acho que Amon tinha uma crueldade nua e fervente que nenhum deles deve ter.

      O salão é enorme. O marmore embaixo dos meus pés brilham como se tivessem sido esfregados por horas. Bem longe de mim, e ao mesmo tempo na minha frente, estão Os Cinco. Cada um deles sentados em devidos tronos, todos com uma cor própria.

     Aisha, Deusa da justiça, sempre foi representada nas pinturas da forma mais real possível; ao contrário de Amabel, que tem cabelos pretos como a noite e pele clara como o dia, mesmo assim no corpo de uma adulta jovem. Em nossos vitrais, ela sempre fora representada pela figura de uma criança, a coisa mais inocente para representar a bondade. Já Aisha, sempre fora a mulher de expressões fortes e pele escura, com cabelos tão brancos quanto a neve do dia mais frio.

     Um segredo que sempre guardei é que admirava ainda mais a Deusa da justiça. Isso seria visto como blasfêmia em Tylos, pois todos os Deuses deveriam ser adorados igualmente. Mas sempre vi na justiça como a mais sábia de nossos salvadores.

     Atrás do seu trono, fica uma estátua dela mesma, assim como dos outros. E no canto esquerdo, está a imagem de Amon. Seu trono, feito do mesmo tom de azul que seus olhos, é o único vazio.

     Ele era o protetor. Seu trabalho era entregar tudo de si para proteger os oprimidos sem esperança de proteção. Nunca tinha ouvido sua história antes que ele mesmo me contasse. E, de acordo com ela, não o julgo por ter se tornado tão egoísta. Ele não age mais de acordo com sua natureza virtuosa. Talvez agora eu podesse acreditar que ele voltou a ela por um momento quando me salvou da manipulação de Londom, embora eu saiba a verdade; Amon agiu com possessividade. Logo depois, ele tirou meu primeiro beijo.

     — Seja bem-vinda, Melina. — A voz imponente de Aisha soa como um coro que atormenta minha espinha. Ela não dava medo. Não em sua aparência de invejar a muitos. Mas não me tranquiliza o fato de que ela irá julgar-me agora. — Aproxime-se.

    Faço o que ela diz quase imediatamente.

    O lugar é tão branco que, depois de tanto tempo no inferno sobre toda aquela escuridão, parece que vai torrar meus olhos.

    Curvo-me em uma longa e exagerada reverencia ao estar perto o suficiente de seus tronos. Ao contrário do que pensei, aqui não tem muitas pessoas; na verdade, só há eu e eles.

    — Diante da sua situação, faremos com que este julgamento seja de uma forma mais reservada e justa. Em nossos julgamentos, ocasionalmente, temos plateia e acusação. No entanto, todo caso é um caso, e o seu em particular merece o menos de exposições possível. — Ela continua. — Queremos pedir desculpas por nosso erro anterior de não ter concedido a ti o julgamento que todos merecem antes de sua condenação, principalmente, quando descobrimos o quão devota és. Tu, Melina, nunca seria condenada. Foi nosso erro; um erro que nunca tinha ocorrido e um que não vai mais ocorrer.
 
     Percorro meus olhos para todos os outros uma vez que endireitei minha postura.

     — A forma mais sabia que encontramos para o teu caso foi conceder-te a oportunidade de manifestação e própria defesa. — Haydée toma a palavra. — Então, caso seja acusada de algo, pode se defender e protestar.

Inocente PecadoWhere stories live. Discover now