Capítulo 21

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"Acontece que a liberdade não é nada além de sentir sua falta." - Back to December, Taylor Swift.

   — Isso deve ser impossível! — Ralho, concentrada, enquanto olho para as grandes prateleiras da biblioteca, sem me dar conta do balanço incoveniente da escada embaixo dos meus pés.

   Agnes pretende substituir Amon, mas para isso creio que ele deva deixar de existir. Morrer. Mas como isso seria possível? Matar um Deus, um dos imortais? Um absurdo.

   Na história de Amon, eles foram criados por um celestial à parte, diferente e mais poderoso que eles. E mesmo ele perdeu seu poder e deixou de existir. Bom, é o que eu entendi de tudo isso.

   Na minha estadia longa e tediosa nesta biblioteca, li alguns livros que falam sobre seu pai, apesar de ter certeza que Haydée é quem escreve todos estes livros, alguns sobre Atrous tem a assinatura de Aisha.

   Ela o conhece melhor do que todos eles por ser a primogênita.

   Meu súbito interesse na ameaça a vida de Amon me perturba sempre que fecho os olhos; mas se tento não pensar, não imaginar ou sonhar com ele, então fico mais perturbada. É um ciclo sem fim de uma inocente obsessão que não sei controlar. Não aprendi a lidar e não consigo parar.

   Sinto que estou ficando sem forças para lutar. Lutar contra ele. Contra o que sinto por ele.

   Ele consegue ser tão maldito quanto extremoso. Impossível? Talvez. Mas é assim que tento o definir quando deixo minhas barreiras cairem.

   Não sei exatamente o que pretendo vasculhando esta imensa biblioteca de uma ponta a outra, mas se aqui eu tenho a mínima chance de ler algo que diga que não tem como Amon ser morto, então é aqui que permanecerei.

   Minhas cobranças de lealdade são incessantes por parte dos meus próprios pensamentos. Para quem correrei se algum dia eu for obrigada a escolher?

   Não sei minha resposta. E não posso querê-la no momento.

   Não agora.

   Não sem uma garantia.

   Não posso deixar que minha lealdade fique intacta com alguém que não pode honrá-la como preciso.

   Por isso estou aqui. Querendo ou não, meus pensamentos sobre ele não vacilaram, então não posso me dar ao luxo de tentar esquecer e seguir minha vida.

   Depois de muito vasculhar e bagunçar como uma criança curiosa sem supervisão, encontro um livro de capa colorida como um arco-íris pós tempestade, com uma pérola marrom brilhante no meio revestida por ouro puro. O livro facilmente teria o tamanho da minha mão em largura, e as páginas na lateral são de um amarelo sútil. Quando o abro, sua página marcada pelo marcador de ouro trançado em três linha finas mostra a arpa de Amabel.

   As histórias sobre os Deuses sempre pareceram muito fantasiosas em alguns sentidos. E, para mim, essa era peculiar.

   Cada Deus é representado por seu artefato de mais supremo poder. Amabel possui uma arpa, dourada e com milhares de diamantes preciosos. A arpa, ao ser tocada, pode trazer a vida aqueles que a perderam. Pode lhe dar paz, ou, em momentos extremos nunca vistos, causar a mais pura destruição.

   Logo a baixo do desenho da arpa tem sua história de criação, dizendo como Atrous a esculpiu com larvas do próprio sol e destruiu centenas de minas até ter os diamantes perfeitos.

   Leio a página prestando atenção em cada descrição do seu autor, ficando cada vez mais fascina com a beleza e contrastes de realidades fantasiosas que essas informações parecem.

Inocente PecadoWhere stories live. Discover now