Capítulo 23

18 2 0
                                    

"Você também é um péssimo mentiroso
Sentenciou nossa farsa
Expandiu o terror da mentira
Nos afogou em nada." - Autora.

Amon

  O mundo mortal tem o cheiro tão excêntrico quanto o inferno. Embora de maneiras diferentes, o cheiro do pecado, da amargura, do cansaço; todos estão aqui.

   O cheiro da destruição.

   Os humanos são naturalmente autodestrutivo. Eles criam suas próprias guerras, atacam uns aos outros, ferem os inocentes e endeusam líderes imorais. Tudo por destruição. Tudo por um ódio acumulado e uma sede de poder irreparável, fazendo-os não ter outro sentido na vida que não seja sobreviver.

    Essa é a única coisa que posso admitir que admiro neles. Eles buscam sobrevivência não importa onde estejam. Não importa quem ou o quê tenham que sacrificar. O egoismo mais doce e puro.

    Tenho uma certa apreciação por pecados. Por todos eles. Os pecados são aqueles renegados. Toda atitude que em um belo dia meu pai resolveu dizer estar incorreta. Sua ética celestial que cria soberbos até hoje.

    O caminho a minha frente está cercado por destruição. As poucas árvores que existiam aqui foram queimadas pelos meus demônios e gatheers, fazendo o lugar ficar semelhante as partes mais arruinadas do inferno. Eles correm desesperados para todos os lados desde o momento que atravessamos minha barreira infernal.

    — Logo eles saberão que estamos aqui. — Um demônio, lider das tropas descontroladas, fala ao meu lado.

    — Não ficaremos por muito tempo. — Eu disse olhando ao redor. — Esse não é o destino final. Vamos para Selentys.

    — Não temos como passar pelos portões.

    — Selentys não é tão impenetrável quanto acham. — Não quando não estou lá. Sem o Deus Protetor, sem barreira. — Vamos entrar fácil. E pegarei o que é meu de volta.

     — Devo admitir que gosto de todo o caos que está criando, meu senhor, mas ela vale a pena? — Outro demônio fala ao meu lado. Seu rosto inexistente faz questionar de onde veio sua voz.

    Aperto minhas mãos.

    — Melina é minha. Ninguém ficará com ela além de mim. — Respondo bruto.

    — Se ela não quiser vir?

    Então construirei um castelo para ela no meio do nada, com tudo que ela precisar. Darei a ela liberdade para voltar a viver entre os mortais. E nunca permitirei que nenhum deles a machuque. Protegida para sempre. De todos. E de mim se for necessário.

    Não respondo.

    Ela é boa demais. Perfeita demais para qualquer um de nós. Então se ela não me quiser, não a forçarei, pois sei que não mereço tanta honra. Ela é uma alma pura; a única que quero possuir.

    Não sei o que ela fez comigo e não seria capaz de explicar o que sinto por ela. Achei por muito tempo que o pecado era a única coisa que existia. Que as virtudes são uma farsa. Até conhecê-la.

    — Vamos. O primeiro reino que encontrar deve ser exterminado. Que não sobre uma alma viva para contar a história ou um barraco em pé. — Grito, no auge da minha fúria, chamando a atenção de todos eles. — Matem a todos e garantam que Selentys receba um novo carregamento de almas o mais breve possível. — Eles rugem em excitação. Correm para todos os lados.

    Monto em um gatheers, enquanto os outros fazem o mesmo. Nenhuma cidade ou reino humano poderia ser capaz de lutar contra um exército de demônios.

    Logo a frente estava o reino de Tylos; não posso afirmar que foi uma coincidência.

   E logo tudo virou ruínas.

[...]

   As pessoas gritam e correm para todos os lados. As casas pegam fogo e os demônios destroem qualquer coisa que vêem a sua frente. As chama aumentam e os gritos das crianças aterrorizam o ar, com as mães desesperadas gritando seus nomes. Muitos nomes.

    Sobrevoo o reino de Tylos, imaginado como deve ter sido para Melina morar aqui. Talvez ela tenha tido uma vida feliz como princesa, ou algo mais deprimente pode existir em sua história.

   Mesmo assim, ela pode me odiar. Levarei seu ódio com prazer. Pelo menos posso ter algo dela. Porque eu sei, mesmo que de forma distorcida, que ela sente algo por mim. Seus sentimentos são fortes.

   Bons ou ruins, são fortes. E isso já é o bastante.

   Desço do gatheers em frente as portas do palácio. Um castelo antigo com a fachada velha. Não é bonito, é estranho. Não é para Melina.

    — Onde está o seu rei? — Puxo um homem pela gola da camisa.
 
    Ele olha entre mim e minha criatura com um olhar assombrado e aponta para dentro do castelo.

    — Na sala do trono.

   Torci meu pescoço para o lado.

   — Devo considerar isso uma coragem? — Pergunto.
  
   — Meu rei não se esconderia ou fugiria.
  
   — Seu rei não luta em uma guerra onde o próprio povo está morrendo. Ele é um covarde.

   Solto o homem e deixo que meus demônios façam o trabalho.

   Caminho em passos lentos para dentro da frágil fortaleza. Os portões se abrem sem que eu faça muito esforço. A minha frente estão quatro soldados que empunham espadas e um fracasso de rei logo atrás, que bebe vinho calmamente.

   — De que maldito reino você é? O que quer aqui? — Ele rugiu, furioso. — Logo meus aliados estarão aqui...

   — E então só encontraram carne podre e restos moradias. Um palácio em chamas e a cabeça de um rei rolando aos seus pés. — Respondo a sua ameaça inútil.

   — Está louco se acha...

   — Para um homem morto e covarde, você fala demais. — Pulei nos seus homens e foi um banho de sangue total.

   Tirei seus corações e as cabeças já não pertenciam a um corpo. O sangue jorra por todos os lados. Cada braço tirado do corpo como os de um boneco. Solto um dia corpos com um sorriso que eu esperava que o avisasse que ele é o próximo.

   — Eu conheço Melina. — Aproximo-me dele em passos lentos. Ele se contorce em seu trono, mas não o abandona.

   — Melina morreu a muito tempo. Não manche o nome da minha filha. — Ele falou, mas seus olhos mostraram o quão banal aquilo é para ele.

    Ninguém a merece.

    — Você que o mancha só por estar vivo. Não merece a honra de ter o nome dela ligado ao seu.
  
   Pego-o pelo pescoço e o levanto.

   — Melina seria uma rainha muito melhor. Desejo fazer dela minha deusa infernal, a Deusa dos pecadores e cuidadora do meu povo. E tenho certeza que o fará melhor que você. — Os ossos do seu pescoço quebram aos poucos, enquanto seus olhos se esbugalham para fora da cabeça. O medo por todo o corpo dele alimenta a minha sede de sangue.

   — A pior parte do inferno te aguarda, covarde maldito.

[...]

   Gritos.

   Gritos.

   Gritos dela.

   Tylos está silenciosa. Mas eu ouço. Ouço seus gritos. Seus engasgos. Ela está sufocando em dor.

    Gritos.

Inocente PecadoOù les histoires vivent. Découvrez maintenant