em questão de segundos (parte 2)

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Sally Jackson

       Seu coração de resplandecia por dentro enquanto ela limpava a curta mesa, suas mãos calejadas indicando o trabalho manual diário. Sally sempre desejou o melhor para seu filho. Pensou que Quiron já havia ajudado mais que o necessário ao escrevê-lo uma carta de recomendação, agora ele também tinha outras pessoas que se importavam, e isso era impagável para a mulher.

     Porem em questão de segundos o suave sorriso se esvaiu, dando lugar a uma expressão preocupada. Sua tosse tornou-se grossa.

     Não era difícil perceber o barulho do chaveiro pesado, a dificuldade embriagada de abrir uma simples maçaneta. Isso significava que Gabe estava em casa e que à noite seria muito longa. O cheiro de cerveja e cebola empesteava o local, indicando que ele havia apostado muito e perdido em proporção. Era nesse tipo de situação que acabava com Sally, principalmente porque Percy estava em casa.

     Veja bem, quando está sozinha não é difícil de se proteger, sua rebeldia havia sido sufocada a vida inteira e poderia sufoca-lá mais um pouco, porem Percy não aguentava ver ninguém viver assim, e Sally não ficaria parada vendo sua criança sendo espancada. Esse era e sempre foi o mal dos Jackson, podiam ser calmos como a costa ou destruidores como o alto mar, só dependia de quem estava sendo jogado da prancha.

   A mulher bateu três vezes na porta de seu filho. Batia 2 quando só queria entrar, porem 3 era um número sagrado para os Jackson's. Significava escape. O garoto abriu uma fresta deixando um único olho verde como o mar observá-la. Era tão parecido com seu pai que chegava doer.

"mãe? a senhora não quer vir comigo? só dessa vez? por favor." - suplicou o garoto. A resposta era óbvia e ele sabia disso. Assim como Poseidon, Percy achava que podia resolver todos os problemas de sua mãe, que eles poderiam simplesmente escapar para longe e recomeçar suas vidas, sem adultos abusivos ou qualquer pessoa para controlá-los. Mas não era assim que funcionava. Ninguém podia salvá-la mas ela podia salvar ele, e era nisso que se concentrava.

Percy

     Por que tinha que ser assim? Por que tinha que deixar quem amava para trás? por que tinha que ir pra longe? Por que tinha que ser um covarde? Por que tinha que fazer exatamente como seu pai e deixar sua mãe para apodrecer?

"vá meu amor. Seja meu herói." - sussurrou Sally. Seu coração parou de bater por um segundo.

     Annabeth ainda estava meu desgrenhada de chorar, seus lábios inchados e olhos confusos. Ele decidiu manter-se vago, não gostaria de envolver mais ninguém naquilo. Lembrou-se da inveja que sentiu dela no primeiro dia de aula, não muito dela restava agora, porem ainda haviam resquícios.

     Ele sentou-se ao lado dela e tentou explicar para ela que teriam que sair pela escada de incêndio, que ficariam lá só até anoitecer, que ela teria que tomar cuidado para não fazer barulho.  Percy deu-lhe um casaco enorme, preto como céu de Nova York. Iria estar frio naquele horário.

     A loira era surpreendentemente boa em sair sem ser notada, ambos se esgueiraram sob as barras de ferro enferrujadas, esperando algo acontecer. Desceram um ou dois andarem e se encostaram em uma grande parede de tijolos, bloqueando o frio cortante. A garota dobrou os joelhos e fez uma pequena cabana com a peça de roupa emprestada. Interessantemente não fez uma única pergunta. Não disse uma única palavra na verdade.

"hum...desculpa te fazer esperar aqui...é só até anoitecer." - Disse ele, tropeçando nas palavras. Ela franziu o cenho.

"deve achar que eu sou uma boba, não deve? ou ao menos me odiar. Tirei você do pouco tempo que tinha em família para chorar por algo tão idiota...e agora vai ter que esperar aqui comigo, quando podia ajudar com quem quer que tenha chegado." - afirmou ela.

"não. não acho, teria que esperar aqui fora de qualquer maneira. Fora que só vim em casa porque ralou o joelho, eu que te arrastei para cá." - explicou ele. O sol já estava se pondo, banhando a menina em um laranja amarelado. Ele se perguntou como devia ser ter crescido tão bonita, com seu cabelo caindo no lugar como dominós. Com um olhar dela sua ideia de se manter vago já era. - "...eu sei que você quer fazer perguntas, você e sua mente inquieta."

"quem era?" - decidiu questionar por fim. Ela abriu a grande jaqueta para que ele entrasse também.

"Gabe. Meu...padrasto." - ela se surpreendeu.

"ah. Ele que te machuca, não é?"

"é, mas não fico em casa desde os 12, então não é frequente."

"entendi...mas como-" - mas como aquilo aconteceu, como você pode deixar outra pessoa se aproveitar da sua fraqueza desse jeito? ele assumiu que ela iria perguntar.

"ele quebrou uma garrafa de cerveja nas minhas costas. Não seria forte o suficiente para fazer aquilo de outra forma...eu acho."

     Os olhos da garota ficaram duas vezes maiores, ela passou a mão sobre o ombro do menino. Era péssima em consolar as pessoas, porem tentou.

"não precisa ficar com pena de mim Annabeth."

Notas da autora

Nunca disse que ia fazer ninguém feliz.

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academia meio-sangueWhere stories live. Discover now