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Annabeth

Ela rolava na cama desejando que seu peito não apertasse.

As vezes ela sentia que seu organismo tentava espremer o sentimento de si como um pano sujo coberto de água. Isso é, tentando se livrar de toda a emoção apenas para banhar-se nela de novo, desgastando o tecido de seu ser. Annabeth desejava profundamente que pudesse desaparecer.

Era terrível quando conhecia pessoas que haviam perdido tudo, perdiam todos os dias, e mesmo assim era abertas para o mundo como se nunca antes tivessem tido sua mente dilacerada. O que lhes fazia ser assim? capazes de flutuar mesmo com um peso tão denso acorrentado ao seus calcanhares, porem ela, tão leve, tão pouco danificada conseguia ter uma emoção tão pesada que a fazia afundar? As vezes desejava que tudo de mal lhe ocorresse de uma vez, que fosse presa em uma cela de vidro, exposta ao mundo, que tivesse sua roupa e pela cortada e arrancada, fosse chutada, agredida, e tivesse rosas espinhosas presas ao que restasse dos trapos do seu antigo eu, apenas para ser deixada sozinha na chuva depois. Annabeth queria ter sua dor justificada. Queria uma razão para afundar. *1

Estava inquieta como nunca antes, desejava estudar mas não conseguia se concentrar. Desejava imensamente descobrir como os crimes de guerra dos países haviam sido cometidos em vez de descobrir o que diabos estava errado com sigo mesma.

"pi...pi...pi...deixe seu reca-Alô?" - A garota pegou o telefone no último segundo, seu rosto coberto de lágrimas.

"oi! ham...Annie, quer que eu vá te buscar?" - a voz era um Percy cansado, quase dormindo.

"por favor."

"você tá bem-" - ela desligou antes de responder. Ele chegaria em meia hora.

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Tudo estava escuro e silencioso, como se o véu da noite recaísse sobre o corpo da menina como um lençol de seda, a impedindo de escutar e visualizar claramente. Annabeth não havia nem trocado seu pijama, o que lhe fazia sentir-se como uma criminosa, esgueirando-se pela cozinha em busca do refrigerante que iria roubar.

De repente a luz sobre a mesa acendeu, revelando uma Atenas muito cansada folheando jornais, com um copo de café sobre a mesa e meia torrada comida. A mulher a fuzilava com os olhos, quase como se tivesse sido acordada de um transe. A loira não questionou a mulher ler no escuro, sabia que aprenderia a fazer isso futuramente.

"eu só estava pegando uma bebida." - sentiu a necessidade de explicar.

"um pouco tarde para coca-cola." - sua mãe censurou.

"um pouco tarde para café." - retrucou.

"touché." - disse, quase escrevendo a palavra no ar com sua caneta. Ela fez um gesto para a filha se sentar.

"novo caso?" - apontou para o jornal, mesmo já sabendo a resposta. Atenas tinha esse poder enquanto mãe de fazer sua filha sentir-se especial só de falar com ela, como se fosse o diretor da faculdade que a garota quer entrar e elogiasse sua carta de admissão.

"não, um antigo. O meu cliente foi acusado de homicídio qualificado a um tempo, foi declarado inocente mas surgiram novas provas." - A mulher engoliu um expresso como se fosse tequila.

Annabeth acenou com a cabeça, fazendo a mesma face de interesse que fazia quando seus professores a prendiam na sala quando o alarme do intervalo já havia soado, "claro, estou interessada na matéria, mas posso ir embora?"

"então...as provas são irrefutáveis?"

"não exatamente, mas acho difícil qualquer advogado provar a inocência do homem."

"mas a senhora não é qualquer advogado."

"suponho que não." - Atenas sorriu.

    Notas da autora

*1 o que a annabeth falou foi em referência a performance de Yoko Ono onde a ativista/artista ficou imóvel e deu liberdade a audiência para fazerem o que quisessem com ela

desculpa o capítulo curto e a demora kkkkkk

academia meio-sangueOnde histórias criam vida. Descubra agora