4 anos antes
O Evan atentava em mim enquanto a Sra Emmons me perguntava como estava a escola. As minhas mãos tremiam e o meu corpo mantinha-se instável na cadeira.
‒ Não te sentes aceite como? Podes elaborar?
‒ Tem mesmo que ser, Sra Emmons?
‒ Faz-te bem falar, Will. És tão novo. Aliás, todos vocês são. Não vos faz bem guardar tudo dentro de vocês.
‒ Não tem mal, Sra Emmons. Não é isso que nos vai matar. É a nossa maldita doença - atirou o Evan com o seu típico sorriso no rosto.
‒ Evan!
‒ Lá vamos nós outra vez - comentou a Macey enquanto cruzava os braços à frente do peito.
‒ Não estou a dizer mentira nenhuma.
‒ A vida é mais do que tudo isto, Evan - continuou a adulta.
‒ É? Não sei, não a vou experienciar.
Foquei no rapaz loiro, de olhos azuis tão mortos como o corpo dele estaria dali a uns meses, e vi a esperança que ele tanto queria ter, mas que lhe fora roubada.
‒ Há coisas que podes apreciar, mesmo com a tua condição.
‒ A minha condição. Uau! Não, desculpe, Sra Emmons, mas realmente nunca tinha ouvido ninguém chamar à merda do meu cancro "uma condição". - Levantou-se e saiu, sem dizer mais nada.
Segui-o com o olhar, e quis segui-lo também com o corpo.
‒ Lamento tudo isto. O Evan não recebeu boas notícias esta manhã. Vemo-nos daqui a dois dias. Estão dispensados.
Nesse dia, ao contrário de todos os outros, levantei-me e saí antes de toda a gente. No corredor, não havia sinal dele, mas lembrei-me que ele comentara o quanto gostava do jardim. Que era a única coisa que ainda o fazia sentir normal.
Corri o mais depressa que pude. Quando empurrei a porta de vidro que dava acesso ao exterior, fui inundado pelo sol mais encandeante que já vira. Ainda assim, fui capaz de o desvendar junto ao velho carvalho. Assemelhava-se a uma enorme sombra.
Aproximei-me com passos silenciosos. Ele descansava os olhos na sombra da grande árvore. O seu corpo estava em completo contacto com a relva. Cedi ao impulso de me deitar ao seu lado.
‒ Vou morrer, Will!
‒ Vamos todos, Evan.
‒ Não! - Abriu os olhos e pousou-os em mim Senti o peso da responsabilidade, porque era para mim que ele olhava. Era em mim que ele depositava toda a sua atenção e eu não sabia se seria capaz de lidar com tal consciência. - Não vou ficar aqui muito mais tempo. Posso nem chegar aos 16 anos.
Engoli em seco, tentando absorver o que ele acabara de me dizer. Por fim, fui sincero.
‒ Não foi para isso que te prepararam toda a vida?
Ele riu e acariciou o peito.
‒ Eu vivi para aprender a morrer. Uau! Podia escrever um livro.
‒ Ainda não morreste - murmurei, e receei que ele não me tivesse ouvido.
‒ O quê? O que é que disseste?
‒ Ainda não morreste, Evan.
O azul regressou a mim e fui inundado com a sua palidez. Apesar das minhas palavras, tive medo que ele morresse ali, mesmo à minha frente. A tristeza deixava-o ainda mais doente.
O silêncio harmonizava o jardim. Depois do que eu acabara de dizer, não havia necessidade para elaborar o assunto.
As veias intensificaram-se no rosto magro do Evan. Com as costas na relva, rodámos a cabeça um para o outro e sorrimos ao mesmo tempo.
‒ Ficas bem de qualquer maneira - disse ele.
‒ Dizes isso porque não estou tão mal como vocês, não é? - Eu e a minha maldita boca. Deixei que a minha voz soasse vulnerável, embora a maldita pena não fosse o meu objetivo.
‒ Achas mesmo? Olharia para ti mesmo que estivéssemos os dois bem de saúde.
Corei e procurei esconder o rosto. Começava a duvidar se o Evan não estaria interessado em mim como eu estava nele.
Senti a sua mão a deslizar para a minha e os nossos dedos entrelaçaram-se. Suspirei de forma audível e ele, suspeitando do meu estado, apertou as nossas mãos. Pela primeira vez, senti que não haveria como morrer.
‒ A única pena é saber que tive que ter a certeza da morte para avançar contigo.
Ouvi-o com calma, como se na minha cabeça a sua voz soasse em câmara lenta, apenas para durar mais tempo do que aquele que ele tinha. Comigo, a dúvida andava de mãos dadas com a vida, porém naquele momento, tive a certeza que aquilo era real.
O Evan tem as suas razões para estar revoltado. Não deve ser nada fácil.
Helena
BẠN ĐANG ĐỌC
Coração que não sabe ser Coração
Truyện NgắnWill recebeu um novo coração. Não há sentimento melhor que este de saber que há uma chance de sobreviver. Contudo, quando Henry surge na sua vida, as memórias do passado esquecido vêm à tona. E se o novo coração de Will não aguentar?