Capítulo 8

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4 anos antes

O Evan atentava em mim enquanto a Sra Emmons me perguntava como estava a escola. As minhas mãos tremiam e o meu corpo mantinha-se instável na cadeira.

‒ Não te sentes aceite como? Podes elaborar?

‒ Tem mesmo que ser, Sra Emmons?

‒ Faz-te bem falar, Will. És tão novo. Aliás, todos vocês são. Não vos faz bem guardar tudo dentro de vocês.

‒ Não tem mal, Sra Emmons. Não é isso que nos vai matar. É a nossa maldita doença - atirou o Evan com o seu típico sorriso no rosto.

‒ Evan!

‒ Lá vamos nós outra vez - comentou a Macey enquanto cruzava os braços à frente do peito.

‒ Não estou a dizer mentira nenhuma.

‒ A vida é mais do que tudo isto, Evan - continuou a adulta.

‒ É? Não sei, não a vou experienciar.

Foquei no rapaz loiro, de olhos azuis tão mortos como o corpo dele estaria dali a uns meses, e vi a esperança que ele tanto queria ter, mas que lhe fora roubada.

‒ Há coisas que podes apreciar, mesmo com a tua condição.

‒ A minha condição. Uau! Não, desculpe, Sra Emmons, mas realmente nunca tinha ouvido ninguém chamar à merda do meu cancro "uma condição". - Levantou-se e saiu, sem dizer mais nada.

Segui-o com o olhar, e quis segui-lo também com o corpo.

‒ Lamento tudo isto. O Evan não recebeu boas notícias esta manhã. Vemo-nos daqui a dois dias. Estão dispensados.

Nesse dia, ao contrário de todos os outros, levantei-me e saí antes de toda a gente. No corredor, não havia sinal dele, mas lembrei-me que ele comentara o quanto gostava do jardim. Que era a única coisa que ainda o fazia sentir normal.

Corri o mais depressa que pude. Quando empurrei a porta de vidro que dava acesso ao exterior, fui inundado pelo sol mais encandeante que já vira. Ainda assim, fui capaz de o desvendar junto ao velho carvalho. Assemelhava-se a uma enorme sombra.

Aproximei-me com passos silenciosos. Ele descansava os olhos na sombra da grande árvore. O seu corpo estava em completo contacto com a relva. Cedi ao impulso de me deitar ao seu lado.

‒ Vou morrer, Will!

‒ Vamos todos, Evan.

‒ Não! - Abriu os olhos e pousou-os em mim Senti o peso da responsabilidade, porque era para mim que ele olhava. Era em mim que ele depositava toda a sua atenção e eu não sabia se seria capaz de lidar com tal consciência. - Não vou ficar aqui muito mais tempo. Posso nem chegar aos 16 anos.

Engoli em seco, tentando absorver o que ele acabara de me dizer. Por fim, fui sincero.

‒ Não foi para isso que te prepararam toda a vida?

Ele riu e acariciou o peito.

‒ Eu vivi para aprender a morrer. Uau! Podia escrever um livro.

‒ Ainda não morreste - murmurei, e receei que ele não me tivesse ouvido.

‒ O quê? O que é que disseste?

‒ Ainda não morreste, Evan.

O azul regressou a mim e fui inundado com a sua palidez. Apesar das minhas palavras, tive medo que ele morresse ali, mesmo à minha frente. A tristeza deixava-o ainda mais doente.

O silêncio harmonizava o jardim. Depois do que eu acabara de dizer, não havia necessidade para elaborar o assunto.

As veias intensificaram-se no rosto magro do Evan. Com as costas na relva, rodámos a cabeça um para o outro e sorrimos ao mesmo tempo.

‒ Ficas bem de qualquer maneira - disse ele.

‒ Dizes isso porque não estou tão mal como vocês, não é? - Eu e a minha maldita boca. Deixei que a minha voz soasse vulnerável, embora a maldita pena não fosse o meu objetivo.

‒ Achas mesmo? Olharia para ti mesmo que estivéssemos os dois bem de saúde.

Corei e procurei esconder o rosto. Começava a duvidar se o Evan não estaria interessado em mim como eu estava nele.

Senti a sua mão a deslizar para a minha e os nossos dedos entrelaçaram-se. Suspirei de forma audível e ele, suspeitando do meu estado, apertou as nossas mãos. Pela primeira vez, senti que não haveria como morrer.

‒ A única pena é saber que tive que ter a certeza da morte para avançar contigo.

Ouvi-o com calma, como se na minha cabeça a sua voz soasse em câmara lenta, apenas para durar mais tempo do que aquele que ele tinha. Comigo, a dúvida andava de mãos dadas com a vida, porém naquele momento, tive a certeza que aquilo era real.


O Evan tem as suas razões para estar revoltado. Não deve ser nada fácil.

Helena

Coração que não sabe ser CoraçãoNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ