Capítulo 3

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4 anos antes

‒ Will, queres falar?

Ergui a cabeça, olhando em redor. Todas as cabeças estavam viradas na minha direção, a aguardar uma resposta.

‒ Não, Sra Emmons. Obrigado.

‒ Sabes que te faria bem falar.

‒ Não tenho nada para dizer. - Esbocei um pequeno sorriso e deixei que a Anna contasse o seu dia na escola.

Ali, eu era um estranho. No entanto, na escola era igual. Não era totalmente saudável, mas também não sofria de uma doença terminal, de modo que, a bem dizer, não me encaixava em lado nenhum. Recriminava os meus pais mentalmente vezes sem conta por me terem posto num grupo de apoio a jovens doentes. Eu não era um doente qualquer. Só tinha um coração que pouco sabia da sua função.

Rodei para a esquerda quando a Sra Emmons chamou o nome do Evan. A minha expressão carrancuda suavizou-se quase de imediato. Bastava os meus olhos pousarem no seu belo semblante e toda a revolta desaparecia. Nunca vira um rapaz tão bonito, mas Deus não apreciava coisas bonitas e ele estava a morrer. E chegaria lá bem mais depressa do que eu.

‒ Não achas, Will?

‒ O quê? - Estava tão distraído que nem reparei que o próprio Evan chamava o meu nome. Pigarreei. ‒ O quê?

Os outros riram-se e eu senti as minhas bochechas a aquecer.

‒ Isto é uma treta! A morte tanto pode vir hoje, como amanhã. E foda-se se não vou aproveitar o hoje, porque o amanhã ainda não chegou. - Pausou. - Não achas?

‒ Eu... Não sei se sou a melhor pessoa para responder a isso.

Os cantos dos seus lábios ergueram-se devagar.

‒ Pelo contrário. Acho que és a pessoa certa!

Cocei o queixo. Era na verdade um pretexto para disfarçar o rubor que não queria deixar-me.

‒ Porquê? - questionei a medo.

‒ Porque melhor do que nós sabes o que é estar na dúvida.

Engoli em seco. Os olhos do Evan continuavam cravados nos meus e eu já não sabia o que fazer a tanto suor.

Nunca me sentira atraído por nenhum rapaz. Por outro lado, também nunca me sentira atraído por nenhuma rapariga. Ele era o primeiro e eu não sabia como lidar.

O Evan era mais velho pelo menos dois anos. Um cabelo loiro e sedoso acompanhava-lhe os olhos azuis. Era dono de um sorriso estonteante, capaz de me fazer tremer os joelhos, mesmo sentado. Controlei a tendência e fui corajoso.

‒ A dúvida não é melhor que a certeza. Tu podes viver mais dois anos, eu posso mesmo morrer amanhã.

‒ É por isso que estás aqui? - lançou a Macey do outro lado do círculo. - Porque que eu saiba não tens nenhuma doença oncológica.

‒ Macey! - alertou a Sra Emmons.

‒ Não, é verdade! Estou farta de fingir que ele é como nós. Ele não vai morrer, Sra Emmons.

‒ Não é por isso que tens que ser desagradável.

‒ Não estou a ser desagradável. Estou só a dizer o que todos nós pensamos.

‒ Chega! Vou dar por encerrado o encontro de hoje. E, Macey, talvez seja bom tirares um tempo para pensar no que disseste aqui hoje. Tu própria não gostaste de ser colocada de lado na escola após o teu diagnóstico. Porque é que haverias de fazer o mesmo a outros?

A Macey levantou-se e abandonou a sala, batendo com a porta. Houve um pequeno silêncio antes da Sra Emmons dar o veredicto final. Vi como todos saíram, incluindo o Evan. Fiz de propósito para ser o último. Enquanto todos eles iriam para os seus quartos no hospital, eu iria para casa, para os meus pais, a minha cama e a minha vida. Podia morrer no dia seguinte, mas o mais provável é que isso não acontecesse e, nesse caso, a Macey tinha razão.


É certamente um desafio viver como o Will. Não sei se reagiria melhor que ele.

Helena

Coração que não sabe ser CoraçãoTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang