4 anos antes
‒ Will, queres falar?
Ergui a cabeça, olhando em redor. Todas as cabeças estavam viradas na minha direção, a aguardar uma resposta.
‒ Não, Sra Emmons. Obrigado.
‒ Sabes que te faria bem falar.
‒ Não tenho nada para dizer. - Esbocei um pequeno sorriso e deixei que a Anna contasse o seu dia na escola.
Ali, eu era um estranho. No entanto, na escola era igual. Não era totalmente saudável, mas também não sofria de uma doença terminal, de modo que, a bem dizer, não me encaixava em lado nenhum. Recriminava os meus pais mentalmente vezes sem conta por me terem posto num grupo de apoio a jovens doentes. Eu não era um doente qualquer. Só tinha um coração que pouco sabia da sua função.
Rodei para a esquerda quando a Sra Emmons chamou o nome do Evan. A minha expressão carrancuda suavizou-se quase de imediato. Bastava os meus olhos pousarem no seu belo semblante e toda a revolta desaparecia. Nunca vira um rapaz tão bonito, mas Deus não apreciava coisas bonitas e ele estava a morrer. E chegaria lá bem mais depressa do que eu.
‒ Não achas, Will?
‒ O quê? - Estava tão distraído que nem reparei que o próprio Evan chamava o meu nome. Pigarreei. ‒ O quê?
Os outros riram-se e eu senti as minhas bochechas a aquecer.
‒ Isto é uma treta! A morte tanto pode vir hoje, como amanhã. E foda-se se não vou aproveitar o hoje, porque o amanhã ainda não chegou. - Pausou. - Não achas?
‒ Eu... Não sei se sou a melhor pessoa para responder a isso.
Os cantos dos seus lábios ergueram-se devagar.
‒ Pelo contrário. Acho que és a pessoa certa!
Cocei o queixo. Era na verdade um pretexto para disfarçar o rubor que não queria deixar-me.
‒ Porquê? - questionei a medo.
‒ Porque melhor do que nós sabes o que é estar na dúvida.
Engoli em seco. Os olhos do Evan continuavam cravados nos meus e eu já não sabia o que fazer a tanto suor.
Nunca me sentira atraído por nenhum rapaz. Por outro lado, também nunca me sentira atraído por nenhuma rapariga. Ele era o primeiro e eu não sabia como lidar.
O Evan era mais velho pelo menos dois anos. Um cabelo loiro e sedoso acompanhava-lhe os olhos azuis. Era dono de um sorriso estonteante, capaz de me fazer tremer os joelhos, mesmo sentado. Controlei a tendência e fui corajoso.
‒ A dúvida não é melhor que a certeza. Tu podes viver mais dois anos, eu posso mesmo morrer amanhã.
‒ É por isso que estás aqui? - lançou a Macey do outro lado do círculo. - Porque que eu saiba não tens nenhuma doença oncológica.
‒ Macey! - alertou a Sra Emmons.
‒ Não, é verdade! Estou farta de fingir que ele é como nós. Ele não vai morrer, Sra Emmons.
‒ Não é por isso que tens que ser desagradável.
‒ Não estou a ser desagradável. Estou só a dizer o que todos nós pensamos.
‒ Chega! Vou dar por encerrado o encontro de hoje. E, Macey, talvez seja bom tirares um tempo para pensar no que disseste aqui hoje. Tu própria não gostaste de ser colocada de lado na escola após o teu diagnóstico. Porque é que haverias de fazer o mesmo a outros?
A Macey levantou-se e abandonou a sala, batendo com a porta. Houve um pequeno silêncio antes da Sra Emmons dar o veredicto final. Vi como todos saíram, incluindo o Evan. Fiz de propósito para ser o último. Enquanto todos eles iriam para os seus quartos no hospital, eu iria para casa, para os meus pais, a minha cama e a minha vida. Podia morrer no dia seguinte, mas o mais provável é que isso não acontecesse e, nesse caso, a Macey tinha razão.
É certamente um desafio viver como o Will. Não sei se reagiria melhor que ele.
Helena
KAMU SEDANG MEMBACA
Coração que não sabe ser Coração
Cerita PendekWill recebeu um novo coração. Não há sentimento melhor que este de saber que há uma chance de sobreviver. Contudo, quando Henry surge na sua vida, as memórias do passado esquecido vêm à tona. E se o novo coração de Will não aguentar?