Coração que não sabe ser Coração

Capítulo 12

O Henry aparece na porta que dá para um dos milhares de corredores do hospital e que o separa deste jardim. Um aperto forma-se na minha garganta e desvio o olhar. Preciso de ser sincero com ele, de vez. Sem rodeios. Sem medos. Ele merece saber a verdade.

Oiço-o correr até mim e cerro os olhos, com a consciência que chegou o momento que tanto temo.

‒ Ei, não me viste?

Fito-o, finalmente.

‒ Ah, sim... - respondo.

‒ Está tudo bem, Will?

Senta-se ao meu lado antes que eu possa dizer-lhe para não o fazer. Que é melhor não o fazer. Que há coisas que não podem ser.

‒ Ei, aconteceu alguma coisa? Está tudo bem com o teu coração?

Demasiado bem. É esse o problema. Porque para eu estar bem, a tua namorada teve que morrer.

Ele procura o meu rosto, inclinando-se na minha direção.

‒ O que é que estás a fazer? - consigo perguntar.

‒ O que é que te parece que estou a fazer? A tentar que olhes para mim e que sejas sincero.

Pois, também eu, Henry.

‒ Não estavas assim ontem.

‒ Henry... - Encaro-o, por fim. - Não quero ter que te dizer coisas que não queres ouvir, mas acho que não é boa ideia continuarmos amigos.

‒ O quê? - O seu rosto abre-se. As sobrancelhas afastam-se, assim como os lábios. - Porquê isto agora?

‒ Eu queria conseguir explicar-te, mas percebi que só não consigo ser sincero quando sei que posso magoar muito as pessoas de quem gosto.

Pressinto as lágrimas a chegar, porque o que tanto reprimi nas últimas duas semanas, começa agora a arranjar novas formas de se manifestar.

‒ Will, eu...

‒ Desculpa, Henry. Não consigo mesmo.

Fujo a correr. Oiço-o a chamar por mim, mas não deixo que isso me impeça. A água já escorre pelo meu rosto, desejosa de contar a verdade, revelando o sentimento genuíno da Abby. Quero ser-lhe fiel, mas não me consigo obrigar a magoar o Henry. Por isso, corro para o quarto e escondo-me entre a cama e a janela, com a noite a adentrar pelo quarto.

Será que o Will agiu bem?

Helena