Chapter 39 -Trouxe flores

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Harry ainda estava imóvel na sacada, o brilho alaranjado da ponta de seu cigarro perfurando o cenário sombrio. Ele havia acendido outro cigarro, uma tentativa fugaz de encontrar algum conforto no ato mecânico de fumar.

Louis permaneceu a seu lado, um apoio silencioso em um momento de tristeza profunda. O olhar de Harry estava distante, perdido em pensamentos tumultuados enquanto a fumaça se dissipava no ar noturno.

— Você acha que o corpo dele já foi liberado? — A voz de Harry quebrou o silêncio, carregada com uma mistura de pesar e curiosidade.

O mais velho assentiu suavemente, seus dedos apertando o ombro de Harry de maneira reconfortante.

— Sim, já foi.

Harry expirou uma nuvem de fumaça, sentindo o nó em sua garganta apertar ainda mais. Ele sabia que havia coisas que precisavam ser tratadas, trâmites legais que exigiam sua atenção. Mesmo que Christopher tivesse causado inúmeras feridas em sua vida, Harry não poderia permitir que seu fim fosse negligenciado, foram 5 anos juntos, não o julgue por isso.

— Vou sair para cuidar dos detalhes finais... — Harry falou com uma voz embargada, lutando contra as emoções que ameaçavam transbordar.

Louis assentiu mais uma vez, oferecendo um abraço apertado antes de soltar Harry. Seus olhares se encontraram, um entendimento mútuo passando entre eles.

— Eu estarei aqui quando você voltar.

Com essas palavras, Harry se afastou da sacada e se dirigiu ao interior do apartamento. Ele pegou suas chaves e carteira, respirando fundo antes de sair pela porta. Cada passo que ele dava em direção ao carro era um passo em direção a um processo doloroso que ele sabia que precisava enfrentar.

O percurso até o local onde o corpo de Christopher estava sendo mantido foi silencioso e sombrio. O cenário era tão opressivo quanto as nuvens escuras que pairavam sobre a cidade. O ambiente funerário estava repleto de formalidades e tristeza, uma combinação que fazia Harry se sentir ainda mais sufocado.

Ao chegar, Harry foi recebido por um funcionário discreto que o guiou até uma sala reservada. Ele não queria ver o corpo, não queria enfrentar a visão do homem que havia causado tanto sofrimento. As memórias de Christopher o atormentavam, e a ideia de vê-lo mais uma vez o deixava com um nó no estômago.

Harry optou por resolver os aspectos legais - juridicamente eles ainda viviam em uma união estável - em vez de se envolver pessoalmente com o corpo. Ele assinou documentos, forçando-se a manter a compostura enquanto lidava com os detalhes frios e impessoais. Era um processo doloroso, um lembrete constante da vida que Christopher levara.

Com a papelada finalizada, Harry saiu da sala, sentindo um peso opressivo em seus ombros. A noite estava fria, as luzes da cidade lançando uma aura irreal sobre o cenário. Ele voltou ao carro, sentindo-se mais esgotado do que nunca.

A volta para casa foi um trajeto silencioso, acompanhado apenas pelo som do motor do carro e pelo eco dos pensamentos que rodopiavam em sua mente. O peso da perda de Rio parecia se intensificar a cada quilômetro percorrido, e ele se sentia como se estivesse carregando não apenas o fardo da papelada legal, mas também a carga emocional de anos tumultuosos.

Ao chegar em casa, os olhos cansados de Harry caíram imediatamente sobre a figura solitária de Louis na varanda do quarto. O brilho alaranjado das brasas do cigarro iluminava seu rosto, destacando a exaustão que pairava sobre ele. Era evidente que nem Louis nem Harry dormiriam naquela noite. Em vez disso, eles haviam escolhido enfrentar a escuridão juntos, compartilhando um silêncio que era carregado de emoções indizíveis.

O cheiro de fumaça impregnava o ar ao redor deles, uma metáfora tangível da névoa de incertezas que os envolvia. Sentados no chão da varanda, suas costas apoiadas na parede fria. As palavras pareciam desnecessárias, pois o vínculo entre eles transcendia o discurso.

Don't Let Me Down || L.SWhere stories live. Discover now