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                Um bom apostador sempre sabe quando parar.

              Eu poderia, na verdade, deveria ter escutado esse conselho antes de decidir que os três montes de moedas douradas não me seriam suficientes, apesar de serem.

            Dane-se. A sorte estava comigo hoje.

           Minha última banca foi a qual mais consegui dinheiro antes de os adversários começarem a se entediar com as derrotas, mas não os culpo, de fato, as cartas vinham em ordens horríveis e dificílimas de organizar.

          Exatamente o tipo de banca que eu gosto.

         Muita gente entra nas casas de apostas para gastar tempo e dinheiro, geralmente extremistas de alta patente, mas existem aqueles que não resistem a adrenalina de vencer a cada jogada ou de sentir o desafio a cada carta exibida no centro da mesa.

         É mais fácil definir minha concorrência assim, conforme o jogo avança, e logo se torna perceptível quem são os descontraídos, os ignorantes, os viciados e os esportistas.

         No desespero, os jogadores mais viciados tentam repassar uma tranquilidade que não existe e acabam demonstrando um pouco de agonia em sinais sutis que um ignorante não entenderia, como quando pegam uma carta nova rápido demais apesar da plenitude no olhar, ou quando reorganizam suas cartas a cada nova jogada de um adversário aparentemente despreocupadamente.

         Essas são as brechas para começar a verdadeira diversão quase como se estivesse montando uma armadilha ao redor de sua presa. Se for esperta o suficiente, consegue extrair bastante de uma banca com esse tipo de jogador, mas somente consegue se divertir de fato quando encontra um oponente a sua altura, o do tipo observador como o seu.

       Felizmente não me aconteceu, por isso me permiti aproveitar um pouco do luxo e beber da taça de um desconhecido da banca enquanto recolho suas pequenas torres de moedas para meus bolsos.

         Era suficiente.

        Me levantei sorridente da cadeira, passei entre as outras mesas, e funcionárias seminuas daquela casa de apostas, evitando dançar como elas quando, a cada passo, uma sinfonia calorosa soava das moedas no meu bolso.

         Estava me encaminhando para a saída quando os músicos começaram a tocar uma animada balada com ritmo sedutor praticamente flertando com a audição daqueles que lhe dessem atenção. Eles perambulavam entre os clientes da casa como que para ampliar a influência de sua melodia sobre todo o ambiente e quando passaram por mim não foi diferente.

        Eles cruzaram meu caminho em fila, durante o animado refrão, quando dançarinas jogavam seus véus para cima e coloriam o teto dourado nos mais diversos tons. Fiquei parada observando a dinâmica deles, o carisma e a malandragem que tinham ao roubar qualquer bem precioso dos distraídos pela chuva de cores do véu.

        Aquela alegria, o brilho, riqueza e a luxúria, todos estavam presentes e enriqueciam o lugar, compondo uma atmosfera inebriante completamente diferente da insalubre em que existo lá fora.

         Acabei de chegar aos 20 anos e minha vida se resume a roubar e tentar poupar o pescoço dos outros enquanto luto para manter o meu em segurança, isso é tão injusto!

Entre DunasWhere stories live. Discover now