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Apesar de eu só conseguir ver dunas brancas, seguimos juntos por um caminho que Grillo traçava com confiança, como se já tivesse feito esse mesmo trajeto milhares de vezes. Nosso acampamento, nossas armas e nossos pertences ficaram todos para trás sem supervisão, nenhum deles parecia preocupado com isso.

Quando o sol ganhou um tom alaranjado no céu, não imediatamente, senti uma vibração pulsar abaixo dos meus pés. Apertei a mão de Tarek com o susto e ele apertou de volta, ainda me guiando para frente sem pausa.

A vibração passou a pulsar de forma rítmica depois de mais um pouco de caminhada e, escondida nas sombras, como uma abertura no chão, consegui enxergar a entrada para uma gruta.

Descobri que era de lá que vinha a vibração.

Troquei olhares desconfiados com Najarah mas ela estava empurrando Grillo pelas costas adiante em direção à entrada. Povan tinha tirado a camisa em algum momento e meio que dançava sobre as pegadas de Grillo e Najarah.

Parece que estavam bêbados.

- Eu deveria me preocupar? - perguntei a Tarek, que seguia ao meu encalço.

- Nem um pouco. Deveria se divertir.

Não haviam cavalos esperando do lado de fora. Não havia nada ou ninguém além do Bando. Mas haviam tantas pegadas na areia que os pares de pé eram impossíveis de contar. E todos apontavam gruta a dentro.

Suspirei.

Grillo foi o primeiro a entrar. Ele sequer olhou para trás antes de afundar na escuridão além da pedra laranjada. Povan praticamente correu lá para dentro e Najarah os seguiu a passos preguiçosos, tentando amarrar o cabelo no alto. As sombras não me permitiram ver se conseguiu.

- O que me espera lá? - Perguntei de novo, olhando para o caminho desgasto marcado na pedra abaixo de nossos pés. Apontava para a escuridão também.

Tarek segurou minhas duas mãos e me fez olhar para ele quando me puxou de leve em direção ao escuro e respondeu, andando de costas para as sombras, com aquele sorriso desafiador:

- Êxtase.

O caminho era completamente escuro durante certo perímetro.

A passagem estreita nos obrigava a passar de lado algumas vezes, mas só até encontrar um fiapo de brilho colorido no breu daquele lugar claustrofóbico.

Quando a passagem voltou a comportar uma pessoa, seguimos em fila pela pedra brilhante. Sim, pedra brilhante. Porque toda e qualquer superfície, incluindo nossos corpos, ficou manchado por esse brilho colorido de tão fino que era.

Tarek não soltou minha mão mas eu o vi passar o dedo pela parede. Najarah, a frente dele, tinha feito o mesmo mas deslizava o pó como uma tinta sobre os lábios. Grillo estava com os braços todos manchados porque era só o que eu conseguia enxergar brilhando acima de nossas cabeças, principalmente quando a vibração se transformou em música.

Música alta. Havia música. Eu não estava enganada.

Povan foi o primeiro a correr para a claridade artificial, o peito, o cabelo, os braços e o rosto todos cobertos pelo pó cintilante.

E ele não era o único.

A gruta era um lugar enorme. Com enorme quero dizer verdadeiramente grande, maior que o rio do vilarejo em extensão e comprimento. Estava lotado de pessoas. Homens, mulheres, todos usando mais joias do que roupas - alguns só tinham o pó cintilante como vestimenta.

Entre DunasWhere stories live. Discover now