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O fato de não existirem muralhas ou portões ao redor de Prionka foi um dos motivos para encarar, sem discrição nenhuma, tudo ao meu redor com os olhos arregalados. E ainda assim, o que mais me impressionou, foi não haver sequer um uniforme verde chutando pessoas, molestando mulheres ou tomando dinheiro dos mercadores.

Não existem Extremistas no deserto por isso as maiores cidades daqui são chamadas de livres.

Eu já estive num centro nervoso antes, obviamente, mas não como o de Prionka. Existiam centenas de barracas coloridas enfileiradas em todas as direções possíveis - e impossíveis. Isso não significa, necessariamente, haver lugar para transitar livremente, mas significava, sem sombra de dúvidas, que teríamos muito trabalho para andar por ali com cinco cavalos.

Não consegui discernir aromas dessas vez porque Prionka era, na verdade, um gigantesco mercado de animais. Então galinhas voavam por cima de nossas cabeças, bodes comiam a saia de alguma vendedora e ratos-do-deserto roubavam as migalhas que caíam no chão feito de areia, eventualmente, dentre outros milhares animais que nunca vi na vida! Isso tudo mais uma mistura de urina e esterco resultava num odor extremamente característico.

Não havia música, pelo menos não consegui ouvir, mas os vendedores(fixos e ambulantes) cantarolavam sobre suas mercadorias de forma muito exagerada e engraçada.

Foi distraída com essas baladas que notei que, em algum momento, Tarek desapareceu entre o mar de gente e Grillo segurou meu ombro para mostrar qual direção seguiríamos. Acabamos num gigantesco criatório a céu aberto que dividia a bagunça dos clientes em duas fileiras, Grillo me acompanhou até numa delas, onde outras pessoas rindo ou gritando pareciam esperar para um homem velho, e com a barba pintada de verde, dar lance nos seus animais. Alguns reclamavam, outros deixavam a fila com um olhar de orgulho ganancioso enquanto carregava suas moedas para todo o mercado a dentro.

Quando chegou a nossa vez alguém pisou no meu pé e outro quase acertou meu rosto com uma pesada bolsa de moedas, aparentemente, porque o velho não foi muito justo no valor de uma ovelha prenha.

- Cavalos. Domésticos. Saudáveis. Cinco unidades. - Ele riscava o papel em cada palavra, então ao final traçou uma linha rápida e falou: - 5 dezenas de cobres de moedas, 10 para cada.

Grillo cerrou os olhos e negou, batendo com a mão no papel e sinalizando sua égua e a barriga dela. Talvez falando sobre fertilidade.

O velho estreitou os olhos para o peito da égua, talvez averiguando se era fêmea mesmo.

- 8 dezenas de cobres. - ofertou o velho, acrescentado mais um risco ao papel. Grillo negou de novo, indignado, então apontou para as cinco celas como se fosse um detalhe muito importante.

O velho coçou o queixo pontudo escondido pela barba verde e deu uma boa olhada nas celas, então virou o rosto para um lado depois para o outro e bateu os dentes, inclusive os faltantes, ao dizer:

- Duas dezenas de pratas e desapareça da minha frente. - Ele riscou o papel agora com grafia maior e o empurrou na nossa direção.

Grillo não estava muito satisfeito mas pegou o papel mesmo assim, me instruindo a dar às rédeas que segurava para o velho. Grillo fez o mesmo. E, antes de terminar o movimento, a bolsinha com moedas prateadas estava sobre o balcão velho.
Nunca vi moedas parecidas antes.

Grillo tomou a bolsa e minha mão ao mesmo tempo, me guiando para longe da fila antes que eu pudesse ver qual fim teriam nossos cavalos cansados. Nós voltamos à feira principal e ele ficou na ponta dos dedos para enxergar algo acima das cabeças das milhares de pessoas por ali. E ele já era naturalmente alto.

Entre DunasOnde histórias criam vida. Descubra agora