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Tentei fazer com que as palavras de Xiiza não me atingissem tão profundamente.

Óbvio que saber o quão você é indesejada em algum lugar não passa segurança para ninguém, mas, nenhum outro habitante foi hostil comigo. Ao contrário, me receberam com alegria, livres de qualquer preconceito.

O segundo é por estratégia. Claro, que é. Como passariam a ver a "grande líder Xiiza" se ela recusasse salvar a vida de uma pobre refugiada? Ou pior, levando em consideração o quanto o Bando é adorado pelo povo, a discórdia e o medo nasceriam entre cada habitante do vilarejo em relação às decisões de Xiiza. Talvez nem a religião à considerasse - já que as Matriarcas têm certo respeito por Najarah, devem ser parentes ou descendentes do mesmo povo.

Seja de um jeito ou de outro, a maldita está me usando como controle, é claro. O deserto é perigoso demais para se subestimar.

Exalei só de lembrar da ameaça. Me convencer. Ela espera o quê? Chutei um pedregulho. Que eu de repente comece a mover o ar, ou, de repente aprenda a ver o futuro?!

Os músculos de minha nuca estava começando a se enrijecer quando enxerguei a fogueira alta no centro animado onde acontecia o jantar. Acho que encontrei as mesmas pessoas de ontem...quer dizer, da vez anterior que vim aqui. Inclusive a mesa onde tive minha primeira refeição decente em anos. Mas agora ela estava ocupada por outras pessoas.

Dessa vez, a música não me balançou. Meu foco está voltado para outra preocupação no momento, infelizmente.

Como não encontrei o Bando reunido no único lugar que conheço além das tendas de Najarah e Matriarcas, passei pelas pessoas animadas e tentei localizar Rkta, a moça com quem Grillo estava flertando. Talvez ela conseguisse me dizer por onde ele está, e se conseguir encontrar Grillo, consigo encontrar o Bando.

Toquei o ombro dela duas vezes rapidamente. Pela forma como seus olhos brilharam quando me enxergou, acho que me reconheceu.

- Boa noite, Eudora! - Ela só não me abraçou porque tinha dois pratos rasos com galináceos recém- assados, um em cada mão. - Soube que tinha adoecido! Espero que esteja recuperada! Você quer comer alguma coisa?

Ela falava rápido demais, e tive a impressão de que, sem eu perceber, já estava me guiando para uma das mesas livres. Até eu sorrir e abanar as mãos em negação.

- Boa noite, Rkta. Obrigada. - pigarreei antes de continuar - Eu..eu na verdade estou procurando por Grillo e o Bando, sabe me dizer, mais ou menos, onde posso achar ele?

Rkta não tinha um tom de pele claro, era mais bronzeado do que claro, e mesmo assim percebi que suas orelhas começaram a ficar vermelhas. Acho que toquei num assunto um pouco delicado. E, se considerar a informação que Povan me passou sobre Grillo ser um conquistador, além de delicado o assunto foi bem íntimo.

- Não vieram jantar hoje. Falei com Grillo mais cedo mas não por muito tempo, o Bando estava todo reunido andando por aí.

Cerrei o punho da mão ferida e me aliviei com a dor.

- Obrigada mesmo assim, Rkta. - Fiz uma mesura estranha de agradecimento e ela riu baixinho, constrangida.

- Esse, sim, é o tipo de coisa que só vemos pessoas da cidade fazendo. - Ela comentou sorridente até alguém chamar o seu nome numa das mesas quase já cheias.

- Está movimentado hoje, não? - perguntei, observando ao redor, um lampejo me atingiu quando pus os olhos no rapaz das bebidas destiladas.

Duvido que Najarah tenha sido do tipo a se envolver mais do que uma noite, mas não custa tentar. Minha outra opção seria voltar para a tenda e esperar que dessem as caras mas, depois de tanto tempo "dormindo", tudo o que meu corpo não quer é calmaria.

Entre DunasOnde histórias criam vida. Descubra agora