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Emergi da água azul cristalina, azul não, parecia prata líquida, levantei minha mão e o prateado escorreu por entre os dedos como se eu tivesse mergulhado na forja de um ferreiro. Ou da divindade dos ferreiros, porque não acredito que haja humano capaz de reproduzir esse brilho. Essa pureza metálica.

Deixando meu encanto com a piscina estrelar de lado, olhei para cima e o teto também brilhava. Cintilava. Haviam pequenas criaturas, talvez vagalumes, cobrindo toda a cobertura de formato circunflexo. As paredes ao redor eram de pedra negra, porém, lisa, como onix.

Atrás de mim - nadei para ver já que meus pés não alcançavam o fundo - havia um altar luxuoso, todo feito em ônix e arabescos prateados. Havia também, atrás do altar, uma luz tão forte quanto a do sol mas que estava ofuscada pela presença majestosa de um tigre albino, que permanecia deitado sobre o altar e balançava a calda de um lado para o outro preguiçosamente, me encarando.

- Tigresa. - Alguém disse. Para mim, na minha mente e, ainda assim, em todo lugar ao mesmo tempo.

Olhei ao redor em busca do dono da voz mas uma risada ameaçadoramente feminina soou. Mas não havia ninguém além de mim e do tigre.

- Tigresa, criança. - a última palavra certamente foi com intensão de insultar.

Fechei os olhos e tentei lembrar a mim mesma que aquilo tudo era uma alucinação. Apenas efeito do chá psicodélico que sou obrigada a tomar. Porém, uma dúvida pertinente surgiu relacionada ao efeito dele. Não estava calor dentro da caverna, e eu não mais soava tanto...se bem que, com toda essa cobertura de prata sob minha pele, dificilmente eu sentiria qualquer outra coisa.

- É você? - apontei na direção da felina.

- Vê mais alguém aqui que pode falar além de você e eu?

Fiquei em silêncio pois sequer meu reflexo era visto contra a água prateada, mas não foi isso o que me chamou atenção naquele momento, e sim, os mesmos desenhos luminosos que vi ao redor do quarto luxuoso agora decoravam as paredes de pedra ao redor de mim e Tigresa.

- Onde estou?

- Que tipo de educação você recebeu? - Tigresa parecia insultada - Ao menos se aproxime para cumprimentar a anfitriã.

Olhei ao redor mais uma vez para ter certeza de que não havia ninguém escondido tentando me pregar uma peça.

- Najarah? - chamei e a risada feminina ecoou de novo apesar de a Trigresa sequer abrir a boca, ela também não fez isso das últimas vezes em que falou. Prendi um pouco a respiração ao me dar conta que ela poderia estar na minha mente.

- Já deveria ter aprendido que ninguém responde aos seus pedidos de socorro. - a felina cerrou os olhos na minha direção - Não havia jurado a si própria que iria se salvar sozinha?

- Uma vida atrás... - Parecia ter tanto,tanto tempo.

- Tempo é manipulável. - Tigresa virou o rosto para o lado como se não suportasse mais ver minha face.

Não pude evitar de lembrar sobre a revelação de Najarah e sua habilidade de clarividência.

- Você fala com muita propriedade. - comentei, e, ao tentar me aproximar um pouco, Tigresa me mostrou os dentes não sei se pela resposta ou porque, conforme me mexia, a beirada de seu altar se manchava com as ondulações da água prateada.

Mesmo assim, nadei até ela com certo cuidado para não agitar tanto a água. Em algum momento senti pedra lisa surgir abaixo dos meus pés e, no momento seguinte, estava subindo degraus baixos em direção ao altar. A água prateada escorria contra minha nudez formando um tipo de vestimenta metálica ao molde do meu corpo, como se estivesse vestindo estrelas.

Entre DunasWhere stories live. Discover now