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Depois de uma corrida intensa, cheia de adrenalina e com uma pitada de audácia, seguros por uma distância vantajosa de Prionka, nosso grupo desacelerou com risadas altas e comemorações exibicionistas de Grillo e seu cavalo novo.

- Como você se juntou ao Bando? - Perguntei a Najarah enquanto meu novo cavalo, um animal musculoso de focinho bem alongado e pelugem marrom, trotava em passadas elegantes ao lado da égua dela.

Nossas novas montarias tinham sido roubadas do mesmo grupo acampado ao redor de uma fogueira um pouco longe da nossa, então acredito que, pela proximidade que apresentavam, eram um casal equino.

- Por que quer saber? - Najarah estava relaxada na égua, a tintura escura ao redor dos olhos desbotada mas ainda delineada sobre as pálpebras.

Eu fingia não reparar no colar que ela ostentava, ou nas dezenas de novas flechas que abasteciam o estoque de sua besta, frutos das compras de Grillo em Prionka noite passada.

- Não é como se tivéssemos algo melhor para fazer. - Então dei de ombros.

Já estávamos bem distantes de Prionka quando amanheceu e o Bando partiu em retirada direto para as areias além das fronteiras da primeira cidade-livre. Nossos novos cavalos eram, de fato, montarias de viagem. Ficou perceptível pela segurança na corrida, o fôlego resistente e, claro, a velocidade extraordinária.

- Não é uma história interessante. - Najarah avisou de antemão.

Nossa formação era a mesma da viagem anterior e os rapazes mais à frente também conversavam entre si ,muito animadamente, com risadas e tudo mais, provavelmente aparando detalhes do que faríamos em Mezma. Espero que estocar comida esteja entre esses detalhes senão só teremos a fruta rosa restante como refeição até o dia seguinte.

- Conta...! - Estreitei os olhos para ela, impaciente. Quase tão bem quanto a própria Najarah.

- Não me apressa! - já estava irritada. - Então...o Bando, em si, não existia ainda. Isso foi há alguns anos, quatro, eu acho.

- Não consigo imaginar o Vhial sem o Bando andando de lá para cá. - Interrompi sem querer, quando percebi já tinha falado.

- Quer que eu conte ou não?!

Encolhi os ombros em rendição.
Najarah pigarreou e seguiu:

- Eu vivia no Vilarejo com as Matriarcas e estava em preparação para me tornar uma delas junto de Midan.

Mordi a língua para conter as perguntas mas meus olhos arregalados devem ter feito o trabalho pela amiga língua.

- Explica muita coisa. - comentei por fim, mas só porque Najarah ficou em silêncio por um milésimo de segundo a mais que o normal.

- Não me diga. - Esnobou ela, revirando os olhos.

- Achei que fossem todas parentes, na verdade. - aproximei bem meu cavalo de sua égua e o animal ficou mais que feliz em trotar ao lado da amada - Vocês parecem ter a mesma ascendência, quero dizer.

Najarah não demonstrou emoção alguma.

- Sou filha de Ciliop tanto quanto elas, faço parte de um dos dois Povos Originários restantes. O outro é Tambar. Nossa população, de Ciliop, foi reduzida a algumas centenas desde a Conquista pelos Strata alguns séculos atrás porque nossas cidades eram rurais e espalhadas pelo continente, nossas proteções eram somente as gigantes pirâmides e crenças na djinn Ciliop. Então você deve imaginar como foi fácil, para os colonizadores, nos dizimar ao decorrer das décadas

As ruínas, como as que vi no vilarejo, foi só o que restou de uma civilização inteira.

Meu sangue gelou, algo em meu peito se remoeu em revolta.

Entre DunasWhere stories live. Discover now