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Quando era criança tive um sonho tão vívido que, depois que acordei, fiquei rolando no meu tapete tentando voltar à inconsciência para continuar sonhando só mais um pouco. Obviamente eu não consegui. Mas guardei esse sonho como uma memória preciosa num lugar muito especial da minha mente.

Acontece que, nesse sonho, eu estava navegando num tapete mágico em um mar completamente feito de areia. Lembro do vento fazendo meu cabelo ricochetear no meu rosto por conta da velocidade com a mesma precisão de que lembro que estava sobre uma onda de areia tão alta que consegui levantar a mão e alcançar o céu, completamente surpresa que, por entre meus dedos, correntes finas de vento e areia passavam como se estivessem me cumprimentando.

Se me contassem que um dia esse sonho se tornaria real eu não acreditaria. Mas ali era o deserto, onde habita a magia, onde tudo é possível, e eu posso até não estar em um tapete mágico mas o cavalo que me carregava enquanto corre trouxe exatamente a mesma sensação de estar navegando sobre ondas de areia. A sensação foi tão acolhedora que me percebi levantar uma das mãos na direção do céu azul sem nuvens e pensar que era o mais perto do céu que já estive, acordada ou não, como se eu pudesse tocá-lo. O vento carregando a areia atravessou por entre meus dedos assim que os separei devagar e, mais vívido do que no meu sonho de infância, o deserto me cumprimentou como se tivesse entrelaçado seus dedos invisíveis com os meus.

Nossa viagem já tinha algumas poucas horas, pude notar isso pela posição do sol e pelo cansaço reconhecível da minha montaria. Ele não era a único. Todos os cavalos estavam ofegantes e Grillo deve ter percebido isso porque acariciou o pescoço de sua égua e desacelerou o passo influenciando todo o restante do bando a fazer o mesmo.

- Algum problema? - Tarek perguntou, puxando uma das rédeas para fazer seu cavalo curvar na direção de Grillo com uma precisão sensual.

Ele estava bem concentrado na viagem, aparentemente.

Grillo, que tem a audição muito boa, negou com a cabeça mas fez alguns sinais rápidos indicando os cavalos em seguida.

- Acho que tem razão. - Tarek olhou o horizonte e depois para todo o caminho que já percorremos.

Não sei exatamente o que Tarek enxergava porque, para mim, só havia deserto por todos os lados.

- Já deixamos as dunas há algum tempo, vamos encontrar uma sombra para hidratar e alimentar os cavalos. - Tarek concluiu, trotando seu cavalo em frente ao grupo para nos guiar pela planície seca.

Povan e Grillo ficaram atrás dele, como um par de asas, o espaço entre eles grande o suficiente para eu e Najarah seguirmos com um intervalo confortável entre nossas montarias. Ficávamos mais atrás dos três, também, próximas.

- Por que não viemos de camelo? - perguntei à ela que permaneceu com os olhos fixos ao caminho à frente.

- Dois motivos óbvios. - Me respondeu depois de alguns segundos que provavelmente usou para decidir se valia a pena perder tempo comigo.

- Não me diga.

Ela estalou a língua. Igualzinho uma cobra.

- Camelos são lentos e

- Aguentam uma viagem dessas melhor do que esses pobres coitados. - a interrompi.

- ....não tem o mesmo valor que um cavalo criado no deserto. - ela continuou como se eu não tivesse falado nada segundos antes.

Entre DunasWhere stories live. Discover now