Capítulo 16 - Liberdade

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Com o passar dos dias, Geeber passou a me cumprimentar e, regularmente, a falar comigo de forma cordial — o que ajudou a ninguém desconfiar ou, pelo menos, falar a respeito para mim e ele, juntos.

Luisa, mais próxima de mim após o término do namoro, estava se sentindo melhor e passou a sair com outros caras — e sempre comentava comigo sobre seus encontros, o que me divertia.

Já faz pouco mais de um mês após o afastamento de Lucas da academia e ao mesmo tempo que me parecia bom não tê-lo por perto, parte de mim sentia falta da presença dele.

As aulas passaram a exigir um pouco mais da turma, o que me deixou sobrecarregado levando em consideração o aumento da carga horária de trabalho. Apesar disso, eu me sentia bem. Manter a cabeça ocupada seja com a faculdade ou com o trabalho me ajudava a evitar pensamentos que me deixariam mexido, confuso ou sentimental demais.

— Por que você não fala do passado? — Luisa me chama a atenção.

Ela está sentada na minha frente, segurando a ponta de uma das tranças do dread em seu cabelo, em uma mesinha dentro da cafeteria que passamos a frequentar aos domingos. O lugar chamou a nossa atenção quando íamos outro dia, mais bêbados que o normal, para o prédio em que moramos. Decidimos que precisávamos de cafeína e acabamos repetindo a dose na semana seguinte.

— Porque é passado — respondo descontraído.

— É uma boa resposta, mas é o passado que nos torna o que somos hoje, não é? — ela sorri com os olhos — Independente se de um jeito bom ou ruim.

Começo a pensar que eu falo pouco sobre mim, mesmo ela sendo a minha melhor amiga. E acho que me sinto bem em deixá-la saber um pouco, afinal tudo está no passado e não pode mais me atingir.

— O que você quer saber? — tomo do líquido dentro do copo grande.

— Simples assim? — ela cruza os braços.

— É, simples assim — coloco o copo na mesa e a imito, cruzando os braços — Você pergunta e eu respondo.

— Só se você se sentir bem com isso — pondera, e quando concordo, ela pergunta — O que aconteceu com sua família?

— Mortos — respondi, mais tranquilo do que eu esperava.

— Nossa, eu... eu sinto muito — sua voz muda.

— Quer dizer, não mortos de verdade — corrijo, o que faz com que fique um pouco confusa e isso me diverte um pouco — mas para mim é como se estivessem.

— Isso parece tenso... você se sente bem em falar sobre isso?

Sua voz é calma, mas menos fragilizada. Nesse momento percebo que me sinto seguro em falar sobre isso, que me parece o momento certo. Acho que vai ser bom.

— Meus pais não reagiram bem quando eu disse que também gostava de garotos — tomo um pouco de tempo para continuar — a minha mãe gritou comigo, disse que não queria filho viado, que não tinha filho viado e que não queria mais me ver na sua frente. Já o meu pai, bom... — dou de ombros — ele ficou calado e só deixou que ela gritasse comigo.

— Uau — ela fecha os olhos por um momento, então os abre e volta a falar — Você não tem irmãos?

— Uma irmã mais velha, que casou bem nova com um babaca, e um irmão menor, com quatro anos.

— Como você lidou com isso? — ela se mexe na cadeira para colocar os cotovelos na mesa — digo, ela te expulsou não é?

— Eu já esperava que isso fosse acontecer. Quer dizer, eu suspeitava... — forço um sorriso — minha passagem pra cá era pra manhã seguinte, então só tive de esperar na rodoviária.

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