Capítulo 31 - Ele pode fazer outra vez

540 101 5
                                    

Naquela noite, s/n não conseguiu fechar os olhos. Sua mente estava tumultuada demais para uma noite de sono e, embora ela estivesse com todas as coisas prontas para viajar, a mulher sentia que tinha um assunto inacabado. Ela sentia a necessidade de se despedir da mulher com quem compartilhou momentos mágicos nos últimos meses.

Encarando o roteiro da peça, solitário naquela escrivaninha, s/n teve a ideia de escrever uma carta. Jenna poderia simplesmente rasgar aquele papel que ela escreveu todos os seus sentimentos e tudo o que aconteceu, desde os primeiros instantes que viu Jenna, mas o seu interior parecia finalmente prestes a ter o sentimento de incompletude sanado.

Quando guardou o pedaço de papel em um envelope antigo que ficava em sua gaveta, s/n encarou o roteiro. Ela ficou triste por não poder estar lá para ver Jenna, ou até mesmo a Carson, atuar no dia de estreia. s/n se sentia mal por não estar mais lá para ensaiar com Jenna toda a peça todos os dias, até a estreia. Ela sentiria falta do toque da namorada e, até mesmo, da falta de romantismo da Ortega.

Uma lágrima solitária caiu do rosto de s/n quando lia a sua cena favorita da peça no roteiro e, em sua memória, só restava seus ensaios particulares com Jenna no moinho.

Naquela imersão de memórias, s/n não soube ao certo o momento exato que amanheceu, mas sua tia abriu a porta, anunciando que um táxi a esperava.

Sabendo que não tinha mais volta, s/n resolveu que já era hora de dar adeus à escola. Suas malas já estavam indo embora, enquanto a garota se despedia do próprio quarto que tinha sido um grande lugar de refúgio e caminhou até o quarto de Jenna.

s/n ficou um tempo parada na porta, ela queria bater na porta, dar um abraço e simplesmente se despedir de Jenna, mas toda a sua coragem foi embora. Se ela visse Jenna, nunca iria cumprir o seu destino. Sem escolhas, a mulher se abaixou e passou o envelope embaixo da sua porta.

Em seguida, continuou o caminho. Se fazendo acreditar que aquela era a decisão mais sensata, já que naquele momento, ela tinha uma "família" esperando. s/n se permitiu sorrir ao pensar que, pela primeira vez em muito tempo, ela faria parte de uma família e, aquele táxi, seria o início de um momento feliz para ela.

Em algumas horas depois, Jenna soube que tinha dormido chorando novamente, quando sentiu as lágrimas secas em seu rosto ao acordar. O seu celular não parava de vibrar, mas Jenna continuou o ignorando quando se encaminhou até o banheiro e enxergou o próprio reflexo.

Ela estava acabada.

Por um segundo ela quis xingar s/n de todos os nomes e palavrões possíveis, mas aquilo tudo era em vão. Quando se tratava de s/n, ela só conseguia lembrar dos melhores momentos que esteve ao lado da mulher.

Por um mísero instante ela quis trair sua consciência e seguir seu coração, sem pensar no ego ferido que traria em ir implorar para s/n voltar pra ela. Mas Jenna não faria isso, não quando pensava que nada daquilo era real, mesmo com as confissões convincentes e os assuntos profundos.

Quando Jenna estava voltando para o quarto, prestes a pensar em passar um dia inteiro deitada na cama, a mulher notou um envelope no chão do seu quarto.

O seu coração acelerou as batidas, só de pensar que aquilo poderia ser de s/n e, ao ver a caligrafia imperfeita da ex-namorada, ela teve certeza. Na ansiedade, Jenna engoliu a leitura das três longas páginas em segundos.

A cada linha percorrida, Jenna passava por um misto de emoções e, no fim, Jenna só teve certeza de uma coisa: ela precisava encontrar a s/n.

Rapidamente ela saiu do quarto e saiu a procura da única pessoa que poderia lhe ajudar, mas parece que o destino estava do seu lado quando viu a sua melhor amiga cruzar o corredor.

- Olha quem resolveu sair do quarto - Sofia falou com um sorriso direcionado para a amiga.

- Onde está a s/n? - Jenna perguntou aflita.

- Bom dia pra você também, Jenna. Por que você não tira esse pijama e essa maquiagem borrada do rosto.

- Eu preciso falar com a s/n - Jenna insistiu - Onde ela está?

Sofia esbanjava uma cara de poucos amigos e Dove encarava a Ortega com pena.

- Ela já foi, não é? - A garota perguntou cabisbaixa.

- Ela foi esta manhã - Dove ofereceu um abraço para a mulher mais velha que recebeu de agrado.

- Eu nem consegui me despedir - Jenna segurava o próprio choro.

- Não se sinta mal, vocês vão conseguir superar isso, eu tenho certeza. A s/n até disse algo ontem sobre o universo estar do lado de vocês, eu até comecei a acreditar.

Jenna sorriu com a menção daquilo saindo da boca da amiga. Instantaneamente ela lembrou da carta que sua amada tinha deixado.

- A s/n acredita que o universo que me mandou pra ela. Sabia que foi por isso que ela insistiu tanto em ficar do meu lado? Depois dela, eu nunca me senti tão sozinha...

- Mas vocês ainda podem conversar, você pode mandar mensagem e...

- Eu acho que ainda não é o momento - A Ortega disse confiando no universo - Esse é o momento dela se conectar com a família dela e eu posso esperar. Se o universo quiser...

- Então, o que acha de um café da manhã? - Dove perguntou tentando deixar tudo aquilo pra trás. No fundo, ela também se sentia mal pela falta da amiga.

- Nós ainda temos ensaio para a peça hoje - Sofia falou em tom de alerta para a garota à sua frente - A peça já está chegando.

- O quão irreal é fazer isso sem a s/n? - Jenna perguntou tentando controlar a sua tristeza.

- Ela iria gostar que nós déssemos continuidade à peça.

- Vocês estão falando como se a s/n tivesse morrido. Nós podemos convidá-la para ela assistir a peça - Dove encerrou o assunto - Agora, será que nós podemos simplesmente ir tomar o café? - A loira não conseguia mais esconder o quão abalada estava.

- Nos vemos lá, Jenna? - Sofia perguntou tentando estudar o olhar da amiga que confirmou com a cabeça - A minha mulher fica nervosa quando tá com fome - Na mesma hora Dove deu um leve empurrão na namorada - Tá vendo?

- Vejo vocês em cinco minutos - Jenna disse seguindo em direção ao próprio quarto.

A garota se arrumava ao máximo para parecer uma pessoa descente, enquanto relembrava os acontecimentos recentes e se agarrava na última frase da carta de s/n: "Se o universo te trouxe até mim uma vez, ela pode fazer isso outra vez".

Ela é demais (Jenna Ortega/you)Where stories live. Discover now