2: Estrela do caos

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Na segunda pela manhã Miyeon caminhava pelo centro da cidade com duas sacolas em mãos e uma lista de compras que parecia nunca acabar. A senhora Chwe já não possuía mais o vigor necessário para subir tantas ladeiras e escadarias sob um sol escaldante e é claro que Miyeon não conseguiu dizer não mesmo que tivesse planejado passar a manhã lendo na biblioteca municipal.

Comprou acelga, batatas e cenouras, também foi até a parte do mercado onde vendiam frutos do mar e comprou um punhado de abalones, era uma iguaria um pouco cara já que estava longe do mar mas a senhora Chwe queria fazer o prato preferido do filho. Ele se mudou para Seul 5 anos atrás e de vez em quando vinha ver a mãe, Miyeon não via a hora de Sanbuk-ri também se tornar apenas um local de férias para ela.

Podia transitar pela cidade de olhos fechados, conhecia cada pedacinho dali: a mercearia do Siwoo que vendia desde pirulitos de dalgona até fogos de artifício, o salão de beleza da senhorita Kyunghee onde todas as mulheres da cidade iam fazer as unhas e descobrir fofocas, a pracinha em frente a igreja onde um carrinho de pipoca lucrava muito todo domingo. O centro da cidade tinha cheiro de cigarro e tangerinas graças a feirinha próxima a rodoviária se é que poderia ser chamada assim; o terminal consistia apenas de uma plataforma com lugar para 2 ônibus de cada lado, em alguns dias da semana só havia um único horário de partida para Seul.

Miyeon empurrou a porta da farmácia com o pé e inspirou aliviada ao ser envolta pelo ar gelado do local, apesar de não ter mais o nome de boticário, ainda vendia alguns preparados caseiros que os mais velhos garantiam que curavam de tudo. Se aproximou do balcão com tampo de vidro, as paredes brancas e o novo computador davam um ar mais moderno ao ambiente e com certeza eram a justificativa dos preços terem aumentado, mas o que se podia fazer quando ali era o único lugar da cidadezinha que vendia tarja preta? Qualquer valor ainda seria mais barato do que ir comprar na cidade vizinha à 40km dali.

— Você está cada dia mais bonita — tio Yeongho sorriu se aproximando de onde ela estava e colocando os óculos quadrados de grau que antes descansavam sobre a testa.

— Obrigada, são seus olhos.

Ele não era mesmo seu tio, mas ensinou Miyeon a chamá-lo assim desde quando ela era um bebê, Yeongho, era amigo do pai dela desde os tempos de escola e frequentava quase todas as reuniões políticas organizadas por ele.

— Em que posso te ajudar, querida?

— A senhora Chwe pediu que eu comprasse alguns remédios para ela.

Tirou um papelzinho dobrado do bolso da jardineira jeans, ali, numa caligrafia cuidadosa, estavam listados todos os remédios que a idosa tomava, um era para artrite, outro para a dor e o resto Miyeon não fazia ideia de para que serviam. No inverno, a senhora Chwe sentia muitas dores por causa do frio, e a jovem até passou algumas noites lhe ajudando com compressas de água quente.

Tio Yeongho pegou a lista e deu uma olhada rápida antes de se dirigir a enorme estante cheia de caixas que ficava atrás do balcão, ele puxou uma escadinha de madeira, e começou a vasculhar a prateleira mais alta logo jogando uma caixinha que Miyeon pegou no ar.

— Esse mundo está perdido mesmo — uma voz feminina veio acompanhada do barulho da porta abrindo.

Miyeon engoliu em seco, Seohyun usava uma saia bege e uma blusa branca de linho, a bolsa preta de couro no braço com certeza não fora comprada em nenhuma das lojas da cidade. Ela tinha a mesma idade da mãe de Miyeon e,infelizmente, fazia parte do círculo de amizade de seus pais. Tudo nela causava desconforto na garota: desde o cheiro muito adocicado do perfume até o rosto claramente plastificado, a ponte do nariz era alta de um jeito esquisito, como se algo tivesse sido colado ali.

Sublime 《 Jungkook 》Where stories live. Discover now