5: Sinônimo de confusão

444 53 26
                                    

 No domingo à tarde Miyeon encarava o teto do quarto enquanto repensava todas as escolhas da noite anterior. Não bebeu nem acabou em cantos escuros com garotos de caráter duvidoso mas fez um acordo com Jungkook o que só podia significar uma coisa: perdera o juízo. A quantidade de vezes que tomava uma decisão perigosa desde que o conheceu era impressionante. Mas, veja bem, Jungkook queria ajuda para encontrar o pai e ela não podia se negar a uma causa nobre, podia?

Ser alguém sem pai era um enorme X vermelho que ele carregaria onde fosse, as pessoas comentariam sobre quais motivos o levariam a crescer assim e Miyeon até entenderia se Jungkook mentisse sobre ter um pai que viajava a trabalho apenas para se safar do peso do julgamento. A sociedade não aceitava muito bem divorcio, pior ainda filhos fora do casamento. Esse simples fato já seria o suficiente para barrar Jungkook de certas esferas da sociedade ou de casar com garotas de famílias ricas tradicionais. O pai de Miyeon provavelmente nunca aceitaria alguém como Jungkook mas, isso não importava, pensou balançando a cabeça, já que ela e Jungkook nunca teriam nenhum tipo de relacionamento.

Miyeon levantou e foi até sua mesinha de estudos, três livros de cálculo estavam empilhados no fundo, a parede era em partes preenchia por lembretes sobre os assuntos que estudava e a outra por pôsteres do Backstreet boys e Seo Taiji. Os cadernos ficavam arrumados ao lado do estojo rosa cheio de canetinhas coloridas e borrachas em formatos fofos, sua favorita era a da Hello Kitty. Miyeon chegou a folhear o caderno, lendo rápido o resumo sobre romantismo, mas logo o fechou desistindo de estudar naquele dia porque sua mente estava focada em outra coisa. Em alguém, para ser mais específica.

Precisava sair de casa e tomar um ar.

Colocou um vestido vermelho soltinho com flores amarelas estampadas, prendeu o cabelo e duas tranças que repousava sobre os ombros deixando apenas alguns fios soltos emoldurando a testa e calçou seus all stars.

— Vou até a sorveteria — Miyeon parou encostada à mesa de jantar onde a mãe traçava o molde de uma blusa sobre um tecido azul cerúleo. — Tudo bem?

A mãe ergueu o olhar ainda segurando o giz entre os dedos, os cabelos estavam presos num coque com um lápis.

— Não volte muito tarde, sabe como seu pai fica preocupado.

— Certo, estarei em casa às 20h, pode ser?

Seu toque de recolher variava de acordo a boa vontade do pai, alguns dias tudo bem voltar meia-noite mas em outros as 21h ele já começava a fazer ligações e perguntar onde Miyeon estava. Ela vivia numa corda bamba tentando seguir regras que mudavam num piscar de olhos.

— Tudo bem, tenha juízo.

***

A sorveteria estava cheia graças ao calor infernal, a maioria das mesas quadradas de madeira estava ocupada por grupos e casais que conversavam animados em meio a copos altos de milkshake e taças de banana split. O local ficava no centro da cidade perto da pracinha, a tinta cor de rosa na parede já começava a desbotar em alguns lugares, e o padrão de azulejos quadriculados em tons de branco e vermelho no balcão caiu de moda na maioria dos lugares menos ali no fim do mundo onde a sorveteria ainda era a cara da modernidade.

Miyeon encostou-se ao balcão e encarou os baldes de sorvete expostos sob o tampo de vidro, eram tantas opções que sentia-se tentada a pegar um pouco de cada.

— Vou querer uma bola de chocolate e uma de morango, com calda de chocolate — pediu a Dokyeom o atendente simpático.

Ele estudava na mesma escola que Miyeon, possuía um nariz afilado e uma voz que fazia as garotas suspirarem nos festivais estudantis. No ano anterior ele cantou uma balada antiga que arrancou lágrimas dos professores.

Sublime 《 Jungkook 》Onde histórias criam vida. Descubra agora