7: Uma gaiola de ouro

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A mãe de Miyeon costurava a barra de um vestido quando a garota entrou no cômodo. Miyeon sentou na cadeira vazia do quarto de costura e observou as mãos habilidosas da mãe. O local, cheio de retalhos de tecido, um manequim e duas máquinas de costura diferentes, cheirava a amaciante e ferro de passar. Sempre que a mãe sumia, já sabia onde procurá-la; a mulher usava o tempo livre para se dedicar a novos projetos de costura.

— Esse tom de azul é muito bonito — Miyeon tocou a ponta livre do vestido azul cerúleo.

— Gostou? Vou usar no jantar com o governador — parou por um instante, ajeitando o tecido e voltando a pisar no pedal da máquina. — O seu pai vai amar também.

Às vezes, Miyeon imaginava o que a mãe estaria fazendo se não fosse casada com o prefeito e tivesse que passar boa parte do tempo imersa no trabalho dele. O acompanhava a jantares, visitas domiciliares e algumas inspeções de fazendas. Os dois passavam a imagem de um casal forte e unido, um ótimo exemplo, mas será que isso a fazia feliz? A mãe sorria muito mais perdida entre alfinetes e tubos de linha.

— A senhora conhece alguma Hayun?

Assim que as palavras deixaram a boca de Miyeon, a mãe a encarou surpresa e o tecido embolou na máquina, porque ela continuou pisando no pedal sem segurar o vestido. Passando a mão pelos cabelos de forma nervosa, ela tirou o pé do pedal e começou a desembolar a confusão de tecido azul.

— Quem te falou sobre ela?

Miyeon odiava mentir, então pensou na melhor verdade que poderia falar sem se comprometer.

— Ouvi comentários sobre ela lá na farmácia do Tio Yeongho, parece que o filho dela voltou para a cidade.

Uma verdade bem útil, quem sabe assim a mãe não soltava algo interessante. Não podia sair por aí perguntando a todos os adultos mais velhos sobre uma mulher que foi ostracizada pela cidade. A mãe era a melhor fonte no momento.

— Ela era mais nova que eu, acho que uns três anos. Lembro que foi bem triste quando ela apareceu grávida — deixou as mãos sobre o colo. — Por isso que eu digo: nunca se entregue a um homem sem estar casada. Se ficar grávida eles somem.

Miyeon engoliu em seco, não é como se existisse a mínima possibilidade de ela dormir com alguém antes do casamento, a notícia se espalharia porque todos ali a enxergavam como um prêmio a ser conquistado. Era uma daquelas donzelas presas numa torre, sem ninguém para escalar até seu cativeiro e salvá-la. Condenada a passar a eternidade desejando se libertar mas sem jamais pisar fora das linhas impostas pelo destino.

— Quem será que a abandonou? Deve ter sido muito difícil criar o filho sozinha.

A mãe ficou pensativa por alguns segundos enquanto alisava o tecido do vestido e costurava mais um pedaço.

— Uma vez, quando eu estava indo encontrar seu pai, vi a Hayun entrando na fazenda do Wootak, ela parecia bem apressada. Não foi a primeira vez que a vi por aqueles lados — suspirou — mas isso não quer dizer nada, ele fazia parte do grupo de amigos dela. E acredito que o Wootak teria assumido o bebê.

Será mesmo? Ele poderia gostar de outra ou simplesmente não querer nenhuma responsabilidade naquele momento. Ir até a fazenda não era uma prova muito consistente, mas já era um começo. Miyeon se deu por satisfeita, por enquanto não perguntaria mais nada a mãe ou acabaria levantando suspeitas.

— É uma pena que isso tenha acontecido — Miyeon levantou tirando um fiapo da roupa. — Agora vou estudar.

— Faça uma pausa para comer, certo? Comprei aqueles mochis que você gosta.

Miyeon assentiu com um sorriso e saiu indo para o quarto.

***

Na terça-feira à tarde, a senhora Chwe tricotava uma roupinha de bebê com uma linha amarela claro. Assim que Miyeon entrou no apartamento, foi recebida com um enorme sorriso e a boa notícia: a senhora Chwe ganharia mais neto. O filho ligou animado para avisar que a esposa estava grávida, eles prometeram levar um ultrassom para a senhora Chwe ver na próxima visita.

Sublime 《 Jungkook 》Onde histórias criam vida. Descubra agora