10: Um cordeirinho

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Miyeon piscou atônita, ainda tentando absorver a informação. Jungkook ser filho do delegado era uma reviravolta e tanto. O homem que deveria ser um exemplo de justiça tinha um segredo obscuro.

   — Como você sabe?

  — Quando ele estendeu a mão para dar um tapinha no meu ombro, vi a cicatriz — a expressão de Jungkook pairava entre o choque e o desgosto.

   Por tantos anos imaginou como seria o pai, na infância — antes de saber que fora abandonado — Jungkook imaginava o pai como um herói; um homem bom que um dia resgataria a ele e a sua mãe. Ao crescer, descobriu que o pai preferia que Jungkook nunca tivesse nascido e que condenou sua mãe aquela vida sofrida. Desde então, as fantasias doces foram substituídas pelo desejo de vingança.

  Não importa o quanto insistisse, a mãe se recusava a revelar a identidade do genitor. Mesmo com todo o sofrimento, ela o mantinha como um mistério sagrado, um segredo que jamais revelaria. Mais de uma vez Hayun segurou o rosto de Jungkook com carinho enquanto implorava para que ele não fosse atrás do pai, mas a tragédia cruzou seu destino desde que nasceu renegado por quem deveria amá-lo.

  — Parando para pensar, agora sei porquê achava que você me lembrava alguém — Miyeon inclinou a cabeça e o examinou. — Seu nariz é quase idêntico ao dele.

  Jungkook torceu a boca numa carranca, não queria ter nada em comum com aquele homem. Cresceu ouvindo que era parecido com sua mãe e isso o deixava feliz, possuía os mesmo olhos de Hayun e uma pintinha no lábio igual a ela. Mas às vezes se perguntava se o talento para o caos foi herdado do pai ou uma marca da rejeição dele. Jungkook temia ser uma fruta que não caiu muito longe do pé, destinado a arruinar a vida de garotas inocentes.

— Ele deve saber quem eu sou e ainda teve coragem de vir aqui.

O delegado olhou para Jungkook como se ele não fosse nada além de um delinquente. Alguém que não merecia mais do que alguns minutos da sua atenção. Jungkook queria gritar para toda a cidade ouvir quem o pai realmente era, bater no peito e falar " veja o que você causou." No entanto, não agiria por impulso, esperou 18 anos por aquele momento e executaria tudo como planejado.

   — Você tem um irmãozinho de 10 anos, o Jaein é um fofo — Miyeon sorriu fraco tentando amenizar o clima.

  Saber da existência de um irmão deixou Jungkook mais amargo, corroído pelas imagens de uma vida de ouro que lhe foi negada. Aquele garotinho não era um bastardo, tinha o pai ao seu lado para ensiná-lo a andar de bicicleta e com certeza nunca ouviria que sua existência foi um erro. Muito diferente de Jungkook que não passava de um erva daninha no jardim de realizações do pai.

  — Quem é a mulher dele? O que ela têm que a minha mãe não tinha?

   Miyeon hesitou, cruzando os braços e apertando de leve a carne entre os dedos, enquanto exibia uma expressão pensativa.

  — Não sei muito sobre ela, minha mãe uma vez comentou que a mulher do delegado é filha do dono na maior granja da região. E que o casamento deles foi o mais bonito que ela já viu.

  Então ele casou mesmo por dinheiro, jogou Hayun e o próprio filho fora em nome de uma noiva rica.

     — Já era de se esperar.

   Miyeon desviou o olhar para o chão e deixou as mãos atrás do corpo, quando voltou a encará-lo, o fez com uma expressão de inocência quase triste.

   — Agora que já sabe quem é o seu pai, não precisa mais que eu venha aqui. Nosso acordo está cumprido.

  Jungkook poderia dizer que Miyeon sempre seria bem vinda ali, que a presença dela o divertida e fascinava mas, seria um erro colossal. Ela se arriscava demais indo até ali e Jungkook se odiaria caso a reputação da jovem fosse manchada quando nada aconteceu entre os dois. A coisa certa era manter distância e deixá-la fora da sua vingança.

Sublime 《 Jungkook 》Where stories live. Discover now