11: O veneno dos seus lábios

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28 de Julho era o dia mais temido por Miyeon, o início do festival e da corrida de porcos. Bastava fechar os olhos para ser inundada pelos guinchos aterrorizados dos animais e pelo cheiro de sangue. E não importava o quanto quisesse fugir, estaria na primeira fila assistindo junto com seus pais. Um filme de terror particular que se repetia todo ano.

Miyeon alisou o tecido rosa claro do vestido, tinha alças de dois dedos de largura e uma fita ao redor da cintura que formava um bonito laço atrás. No primeiro dia sempre ia mais arrumada, já que teria que subir no palco enquanto o pai discursava e sairia na foto para o jornal. Dessa vez, enquanto o pai falava sobre os planos de crescimento do festival, Miyeon procurou o rosto de Jungkook na multidão e sentiu o sorriso vacilar ao não encontrá-lo.

Era o certo, repetiu para si mesma enquanto descia do palco após posar com a família para a foto da primeira página do noticiário, que rasgaria elogios ao seu pai como se ele fosse algum messias enviado a Sanbuk-ri. Miyeon tinha só algumas horas livres até a corrida de porcos e pretendia se distrair ao máximo até lá.

O cheiro de gochujang e frango frito exalava das barraquinhas de comida e se misturava a fragrância floral das barracas cheias de arranjos um pouco à frente. Encontrar a barraca das irmãs Yang foi fácil, diversos mochis coloridos estavam expostos em compartimentos de vidro a salvo de moscas e insetos atraídos pelo açúcar.

— Estão ainda mais bonitos que os do ano passado — Miyeon sorriu encarando os mochis em formato de flor.

— Descobrimos novos moldes — Lin, a Yang mais velha e de cabelo cortados num channel respondeu. — Quais você vai querer?

— Dois tradicionais, dois recheados com pasta de feijão doce e dois de morango — enfiou a mão no bolso do vestido, a mãe sempre os fazia para dar mais praticidade. — Vou pagar mas agora só vou levar um de morango, certo? Pego o resto mais tarde.

Lin assentiu e lhe entregou o pedido num guardanapo com o brasão Yang estampado. Miyeon pagou e deu uma mordida no docinho, o sabor do morango era suave e a textura pegajosa na medida certa. Era o melhor mochi da cidade sem dúvida.

Miyeon caminhava entre as barracas sem pressa, parou para admirar bonecas de pano com olhos de botão e roupinhas coloridas. Provou o biscoito de mel oferecido por uma barraca de apicultores, os potes de mel tinha um urso sorridente estampado no rótulo e ficavam empilhados formando um triângulo.

Quando ouviu a banda começando a tocar, engoliu em seco, seria uma chatice dançar com todos aqueles garotos enquanto o pai observava com olhos de águia. Seria falta de educação recusar o pedido e a filha do prefeito não poderia ser mal educada. Por enquanto tinha alguns minutos, então pelo menos veria mais algumas exposições.

***

Cada porco já estava em sua baia esperando o começo da corrida, a população se amontoava nas grades laterais buscando uma vista melhor enquanto Miyeon evitava encarar demais qualquer um dos animais, quanto menos conexão criasse melhor. No segundo ano do pai como prefeito, Miyeon fingiu um desmaio assim que ergueram a faca para matar o suíno perdedor, a repercussão não foi nada boa, então para evitar ser chamada de fraca, ela aprendeu a focar no rosto do assassino e não no animal sendo estripado.

— Meu pai apontou no número 5 — Hani cochichou enlaçando o braço com o de Miyeon.

Ela usava um vestido quadriculado e uma presilha de lacinho vermelha. Também não gostava de ver animaizinhos morrendo, mas ficava ali para apoiar a amiga.

A largada foi dada e os porcos guinchavam enquanto saíam desesperados de suas baias. Um esbarrava no outro e uma nuvens de poeira subia devido a agitação. Cada morador gritava uma sucessão de " Vamos lá" e " Faça meu dinheiro vale a pena " enquanto os porcos seguiam até a linha de chegada. O suíno número 4, da fazenda de Wootak foi o ganhador mas tudo em que Miyeon conseguia pensar era no animal que ficou em último lugar, um porco marrom de olhos assustados.

Sublime 《 Jungkook 》Where stories live. Discover now