Sublime 《 Jungkook 》

8: Pingos d'água e raios de sol

  Jimin estava especialmente feliz naquela manhã, Jungkook pensou que precisaria suborná-lo com uma dose de uísque ou uma fita nova do The Police, mas ao contrário do que imaginou, o amigo simplesmente aceitou ajudá-lo na investigação. Jimin nem mesmo despejou a ladainha de sempre sobre como Jungkook com certeza acabaria preso ou enterrado sete palmos abaixo de um dos pinheiros da região. Tudo que fez foi pegar as chaves do carro e dizer:

— Pra onde precisa que eu te leve?

— Para a fazenda do Wootak, talvez eu não consiga entrar lá, mas quem sabe acho alguma pista.

Das informações fornecidas por Miyeon, aquela era a pista mais útil. A mãe de Jungkook — por alguma razão ainda desconhecida — frequentava a fazenda do tal Wootak. Jungkook tentou colher algumas informações sobre ele mas não descobriu nada além de que um incêndio aconteceu recentemente no local e de que ele e a mulher foram vistos discutindo na loja de produtos agrícolas.

Jimin dirigia com uma expressão feliz, os dedos batucavam no volante e ele cantarolava junto a um city pop japonês que Jungkook não sabia o nome. Toda essa alegria só podia significar uma coisa.

— Você transou com a Hani?

Só isso explicaria tamanho bom humor matinal vindo de alguém que odiava levantar antes do meio-dia. Além disso, Jimin nunca o ajudava de bom grado na investigação, tudo sempre vinha acompanhado de resmungos e sermões sobre como Jungkook era inconsequente e acabaria estragando a própria vida. Não que ela fosse muito boa pra começo de conversa.

— Não exatamente — umedeceu os lábios e conteve um risinho. Jungkook revirou os olhos. — Digamos que eu a ensinei a fazer algo bem interessante com aquela boca bonita.

— Seu pervertido, o pai dessa menina vai te matar. Escuta o que eu tô dizendo.

Jungkook sabia muito bem a desgraça causada por se envolver com uma virgem. Jimin acabaria pagando um preço muito caro, ainda mais naquele fim de mundo esquecido entre as montanhas.

Há dois anos atrás, com a proximidade do inverno o clima em Busan ficava cada vez mais frio; as manhãs geladas demoravam a esquentar e depois do meio da tarde a sensação gélida retornava a fazer doer os ossos. Para a sorte de Jungkook, ele descobriu um jeito muito divertido de se esquentar. Hyejin o mostrou um mundo além dos beijos e ele foi seu aluno mais aplicado até que os dois foram pegos e a reputação da garota ficou manchada na escola, desde então não voltaram mais a ter encontros furtivos.

A vida então colocou outra pessoa em seu caminho: Gyeonghee, a garota de traços delicados e inteligência acima da média, estudava no mesmo cursinho que a mãe dele trabalhava e numa das idas ao local — para levar o almoço da mãe, que às vezes saía tão apressada que esquecia a marmita — deparou-se com uma Gyeonghee muito atordoada. Ela perdeu as chaves de casa em algum canto do prédio e com um sorriso Jungkook se ofereceu para ajudar. Encontrou o objeto caído ao lado de um dos bebedouros e como forma de agradecimento Gyeonghee o convidou para tomar um café naquele final de tarde nublada de outono.

Ela era divertida, um pouco tímida, mas, conforme a conversa fluía, Jungkook a percebeu cada vez mais inclinada em sua direção. Depois desse dia, passaram a se ver com frequência, ele usava o que sobrava do salário — que recebia por ficar meio período como atendente numa loja de conveniência — para levá-la para tomar café e ir ao cinema. Três semanas, foi o tempo que levou para Geyonghee convidá-lo até sua casa, num bairro de classe média cheio de árvores podadas em formato arredondado.

— Meus pais ficam fora o dia todo — explicou enquanto deixavam os sapatos na entrada.

Jungkook apenas assentiu, observando o chão de madeira bem polido e o papel de parede listrado. Não havia nada luxuoso, mas era uma casa aconchegante, ao contrário do apartamento claustrofóbico onde ele e a mãe se espremiam. A casa de Gyeonghee cheirava a desinfetante de pinho e esse cheiro ficaria grudado na memória dele por muito tempo.