3: Um bastardo

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 O vento batia contra Miyeon fazendo-a se arrepiar e segurar Jungkook com mais força por medo de acabar caindo. Ele seguia veloz pela estrada de terra e ela não fazia ideia de onde o garoto pretendia lhe levar, mas qualquer lugar seria melhor do que ali.

Jungkook se perguntou o quão Miyeon bebeu ou se faltava juízo na cabeça da filha do prefeito, só muita embriaguez ou loucura justificaria ela estar em sua garupa. Veja bem, ele não faria mal nenhum a garota mas Miyeon não o conhecia o suficiente para saber disso. Ela o segurava como se Jungkook fosse um bote salva-vidas, mal sabia que ele seria sua ruína.

Dá última vez que pisou os pés naquela cidadezinha Jungkook não passava de um pirralho chorão e o tempo apagou algumas das memórias das ruas e estradinhas dali, no entanto um lugar permanecia intacto em sua mente e era para lá que levaria Miyeon.

Não gostava de quase nada ali; as pessoas eram em sua maioria desprezíveis e fofoqueiras, a tecnologia demorava a chegar e tudo que era comum nas cidades maiores na cidadezinha ainda surgia como novidade, além disso era quase impossível para Jungkook ir a algum lugar onde pelo menos uma pessoa não o reconhecesse como filho de sua mãe.

Aparentemente ter um filho sem estar casada era muito pior do que trair o cônjuge, roubar o povo ou qualquer outra maracutaia que rolava aos montes na cidadezinha. Sua mãe saiu dali humilhada, com nada além de Jungkook e uma malinha de couro. Ele nunca esqueceria o olhar de dor nos olhos da mãe enquanto os dois subiam no ônibus naquela tarde de outono.

Ele se certificaria de fazer cada um deles pagar.

— Espera aqui, ok? — Jungkook parou a moto num posto de gasolina.

Miyeon assentiu e virou o rosto em direção a estradinha como se quisesse se esconder. Jungkook foi até a lojinha de conveniência e pegou uma garrafa de um litro d'água junto a um pacote de biscoitos, não fazia ideia se Miyeon gostava daqueles, mas ela precisava comer alguma coisa para ficar sóbria mais rápido e não passar muito mal.

Voltou com as compras em mãos e subiu na moto, ao dar partida notou o modo como ela o segurava com força. Jungkook pilotou sendo guiado por nada além das próprias memórias infantis e torceu para que não fossem acabar perdidos no meio da madrugada, já era meia noite o que lhe dava 3 horas para devolver Miyeon em segurança.

Parou assim que avistou o gazebo que ocupava boa parte de suas memórias felizes, ele ficava à beira de um riacho e fora construído séculos atrás. A estrutura de madeira tinha um dragão dourado pintado na coluna da frente e Jungkook sorriu ao lembrar de quando fez Jimin acreditar que bastava se curvar 3 vezes e o bicho criaria vida. É claro que isso não aconteceu e ao perceber que foi feito de bobo o amigo lhe jogou no rio, naquele fim de tarde os dois voltaram ensopados e rindo pelo caminho. Foi tanto tempo atrás, quando o coração de Jungkook ainda não era movido pela mágoa.

Ajudou Miyeon a descer, ela cambaleou e Jungkook ficou com ainda mais raiva de Seunghoon por tentar se aproveitar dela, foi Jungkook quem achou estranho a proximidade dos dois, Jimin já havia lhe dito que o cara não era confiável, então ele avisou a Hani e saiu correndo louco atrás de Miyeon, não queria ver ninguém acabar mal falada como sua mãe.

A lua cheia iluminava o local e por sorte naquela noite ninguém além dos dois resolveu ir até ali. Miyeon sentou no banco vermelho de madeira e encarou o riacho com uma expressão derrotada, a água corria veloz sobre as pedrinhas arredondadas.

— Tá lacrado tá vendo? — Jungkook abriu a garrafa na frente dela. — Agora bebe o máximo que você conseguir.

Ela obedeceu sem dizer nada e tomou quase metade da garrafa parando algumas vezes para respirar. Jungkook lhe estendeu o pacote de biscoitos e assim que segurou a embalagem Miyeon começou a chorar.

Sublime 《 Jungkook 》Onde histórias criam vida. Descubra agora