HORA DOZE

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- Está tudo bem com você mesmo? - questionou Camilo, levantando uma de suas grossas sobrancelhas - você conversou tão pouco comigo... você se solta mais no carro?

Estávamos em um pequeno refeitório, praticamente ao lado da grande e redonda piscina azul do Mirage Hotel, e após Camilo "fazer seus contatos", ele havia conseguido uma pizza de calabresa acompanhada de suco de goiaba de latinha, que comíamos sentados em uma mesa também redonda de frente um para o outro. Estávamos a sós e toda essa proximidade me deixava mais envergonhada do que acreditava ser capaz. Ainda, além do ambiente contar com a baixa iluminação da luz da lua, a pouca iluminação artificial da piscina deixava o ambiente todo com um aspecto azulado, fazendo-me sentir mais ainda imersa naquela situação densa.

- Acho que estou um pouco reflexiva com a minha mudança - menti, repassando sem parar as nossas cenas quentes criadas pela minha própria mente - mas prometo sair do meu casulo! Me diga algo surpreendente.

- Eu tenho muita vontade de ser pai - ele falou, dando um sorriso singelo - construir uma família e tal. Se eu tiver uma filha menina, quero que ela se chame Manu.

- Só Manu? Ou Manuela, como assim?

- Apenas Manu. Manu Zatz. Não é nome de celebridade? - Camilo levantou um pedaço de pizza com a mão e o comeu em poucas mordidas, lambendo o dedo polegar por fim. Sexy. Aff.

- Ela com certeza será linda - respondi, me sentindo completamente enfeitiçada pelos seus movimentos - e terá um nome lindo também.

Milo me deu um olhar demorado. Quando ele fazia isso, eu tinha a impressão de senti-lo buscando algo a mais em mim, como se estivesse tentando acessar a senha do Wi-Fi dos meus pensamentos. Provavelmente a senha seria "CamiloZatz2212".

- Não quero bancar o órfão, mas deve ser legal para caramba ter uma família real. Tipo, alguém para ir às comemorações na escola e coisas assim. Você sente falta do seu pai?

- Sim e não - respondi, dando um gole no suco - sinto falta do que poderia ter vivido com ele, já que mal tenho lembranças com ele. Tenho algumas fotos, mas se posso ser honesta, com o tempo, esqueci completamente tudo.

- Se você topar, podemos achá-lo em Itajaú - disse Camilo, atravessando a curta mesa e tocando na palma da minha mão - Mel, eu não quero parecer exagerado, mas acho que a gente se conectou de alguma forma.

Pude sentir todo sangue do meu corpo subir pelo pelo meu rosto, deixando-o evidentemente corada.

- Fica tranquila, não quis dizer algo nesse sentido - ele exclamou, soltando um sorriso descontraído - acho que vê-la sair da mesma cidade fez-me relembrar tudo que passei nos meus primeiros meses longe de casa. Você vai ver, é uma dor e uma delícia ao mesmo tempo. Quero te ajudar com o que você precisar. Pode ser?

- Claro - respondi, criando a primeira grande interrogação em minha mente.

Será que ele tinha se arrependido? Eu tinha sonhado com o nosso quase beijo para ele vir com esse papo de "não nesse sentido"?

- Me diz você algo surpreendente agora - ele perguntou - você mal tocou na comida. Está ruim?

- Não, está ótimo, só estou um pouco sem fome - respondi, obrigando-me a dar mais uma mordida.

- Bem - comecei - eu não sonho em me casar ou nada do tipo. Quero conhecer alguém que me faça sentir tantas emoções únicas que inevitavelmente me farão querer casar. Não quero ter só mais um casamento para preencher o status, sabe? Quero viver algo real e sincero.

- Isso é bem romântico - ele comentou, enquanto pegava um guardanapo e levava até o canto esquerdo da minha boca - tá um pouco sujo aqui...

Delicadamente, senti a folha do guardanapo pressionar minha boca, sentindo a temperatura de suas mãos por de trás das camadas de papel.

96 HORASWhere stories live. Discover now