Desprezei os detalhes da decoração da casa, vítima do sono que dominava meu corpo. Após um banho breve, desmoronei na cama envolta por um roupão. Ao recobrar a consciência, constatei a solidão envolvendo o quarto na penumbra. Virando-me na cama, percebi a dor nas mãos, tornando o movimento dos dedos um desafio. Sentei-me, meus cabelos estavam bagunçados, mas resisti à tentação de arrumá-los.
Com cuidado, ergui-me, dirigindo-me à porta. Girei a maçaneta lentamente, saindo do quarto. Diante de mim, um corredor se desdobrava, revelando seis portas, estando uma delas entreaberta. Ao espiar, deparei-me com um escritório, onde uma mulher de uniforme azul dedicava-se à limpeza da mesa.
— Oi. – falei.
— Oi, você deve ser a Ema.
— Sim. – sorri fraco. — Quem é você?
— Sou a Lourdes. Cuido da limpeza da casa. – ela aparentava ter menos de 50 anos. Sua pele de tonalidade caucasiana destacava-se, enquanto seus olhos castanhos se harmonizavam com os lábios finos. Os cabelos loiros claros estavam cuidadosamente presos em um coque. Ela tinha estatura mediana e um corpo robusto.
— A Sarah está na cozinha com um rapaz. – informou ela.
— Eu vou até lá, com licença. – respondi antes de sair caminhando pelo corredor. Ao descer a escada, virei à direita, encontrando um corredor que conduzia até a cozinha. Ao me aproximar da entrada, observei Sarah junto ao fogão, preparando panquecas sob a supervisão de Nicolas.
— Vira. – disse ele.
— Acalme-se. – retrucou Sarah, lançando a panqueca para o alto com um movimento da frigideira e aparando-a com dificuldade, resultando em parte da massa ultrapassando a borda.
— Você não vai se tornar uma chef desse jeito. – Nicolas provocou.
— Você é bastante crítico, sabia? – Sarah resmungou.
— Ele se acha um chef de restaurante 5 estrelas. – comentei com uma pontinha de implicância.
— Ela acordou... – Nicolas olhou para mim. — Tá de mal com o pente, Ema? – ele provocou.
— Ainda consigo te bater mesmo com as mãos cortadas. – falei me aproximando de Nicolas e Sarah.
— Já acorda brava? Deveria ser mais grata. Eu ensinei a Sarah a fazer panquecas. – disse ele.
— Amor! – Sarah me abraçou.
— Desliga o queimador primeiro. – Nicolas apontou para o fogão, sendo ignorada por Sarah.
— Estava com saudade de você. — Sarah me deu um selinho.
— Dormi mais que o habitual, a viagem me deixou exausta. – respondi.
— Quer tomar café? Fiz panquecas para você. – Sarah envolveu os braços no meu pescoço. — Eu não cozinho para qualquer uma.
— Obrigada. Suas panquecas devem estar ótimas. – sorri. — Prometo que vou comê-las, mas antes preciso de um banho e roupas limpas.
— Vamos lá. – Sarah afastou o corpo. — Te ajudo a tomar banho. – ela virou-se para trás. — Nick, pode empilhar quatro panquecas e despejar mel sobre elas? Eu venho pegar, tá?
— Tá, vou caprichar no mel para adoçar a vida da Ema. – Nicolas disse, provocando uma careta minha.
Fomos para o banheiro do quarto de Sarah. Ela me ajudou a tirar o roupão e me posicionei debaixo do chuveiro. Sarah ensaboou meu corpo e lavou meus cabelos.
— Estou adorando cuidar de você. – Sarah pegou uma toalha marrom no armário, enxugando meu rosto e corpo.
— Não gosto de dar trabalho, ainda mais por um motivo tão estúpido. – pressionei os lábios.
— Motivo estúpido? Eu preciso te lembrar da sua coragem? – Sarah enrolou a toalha em volta do meu corpo.
— Espero nunca mais ver a cara da Norman. – bufei.
— Ei, não mencionamos esse nome aqui, tá? – Sarah pôs as mãos nos meus ombros e olhou nos meus olhos. — Nova vida, certo?
— Sim. – aproximei-me do rosto de Sarah, beijando-a suavemente. Retirei lentamente meus lábios e disse. — Estou feliz por estar ao seu lado.
— Eu também, amor. – Sarah me abraçou. — Ah, como é bom te abraçar, Ema. Sinto vontade de esmagar você. – ela riu.
— É melhor não me esmagar. – encostei os antebraços nas costas de Sarah.
Continua...
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DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)
Short StoryEma, uma policial de uma pacata cidade, tem sua vida transformada ao se deparar com Sarah. A presença enigmática de Sarah não apenas surpreende Ema, mas a conduz a um universo inexplorado, onde as algemas não servem para prender criminosos, mas dese...