Capítulo CXLIV

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A noite arrastou-se sem fim, mergulhada em dúvidas sobre o encontro com Catarina. Concluí que tal ato irritaria meu pai, trazendo consequências dolorosas para Ema. Afundei no sono, submersa em lágrimas, e despertei com a cabeça latejante. Desço para o café da manhã, onde me uno aos meus pais na sala de jantar.


- Bom dia, Sarah. - meu pai sorriu, mas eu permaneci em silêncio.


- Guardei uma fatia de bolo de abacaxi para você, Sarah. - minha mãe disse, sentada à minha frente.


- Obrigada, mas estou sem fome.


- Hoje é um belo dia, Sarah. - meu pai parecia me provocar. - Irei jogar polo, gostaria de assistir?


- Não. - respondi seca.


- Você prometeu me acompanhar em eventos.


- Isso foi antes de você sequestrar minha namorada. - alfinetei.


- Está amarga, deveria ser mais simpática. - ele retrucou.


- Júlio, deixe Sarah descansar. Ela não está bem. Outro dia ela te acompanha. - minha mãe intercedeu.


- Tenho planos para você, Sarah. Então, tente se animar logo. - meu pai insistiu.


- Você é tão cínico. - bufei


- Ema dormiu como um anjo. Talvez eu deva prolongar sua estadia.


- Pare! Prometeu libertá-la hoje. - falei com ímpeto.


- Venha assistir ao meu jogo. Sua gentileza pode me motivar a cumprir minha promessa. Do contrário, Ema ficará mais tempo longe de você.


- Diverte-se me tratando assim? - indaguei.


- Quero sua companhia. Se não fará isso por livre vontade, fará por pressão.


- Não exija tanto da Sarah, Júlio. Posso te acompanhar no lugar dela. - minha mãe sugeriu.


- Você irá de qualquer modo. E Sarah também. - ele afirmou.


***


Eu e minha mãe nos acomodamos em uma área reservada do clube, onde o verde do campo de polo se destacava sob o brilho radiante do sol e o céu azul sereno. O som dos cascos dos cavalos ecoava pela grama, entrelaçando-se com os gritos dos jogadores e os aplausos entusiasmados da plateia. Enquanto eu observava a partida, protegia meus olhos com óculos escuros. Eu não tive energia para me arrumar, minha mente estava preocupada com Ema. Eu me perguntava se ela tinha conseguido dormir, se estava sendo bem alimentada, se sentia alguma dor. Esses pensamentos angustiantes só aumentavam minha aflição.


À medida que o jogo se arrastava, eu sentia o peso do tempo se estender infinitamente. Finalmente, ao término, fui forçada a acompanhar meu pai e minha mãe para cumprimentar os amigos dele. Justo quando eu pensava que a tortura estava chegando ao fim, avistei William se aproximando com Norman.


- Sarah, quero te apresentar meu novo amigo. Embora eu suspeite que você já o conheça. Ele é o prefeito de Santa Mônica. - disse meu pai com um sorriso.


- O que isso significa? - questionei, com seriedade.


- Você conhece a filha dele? - meu pai provocou.


- Me recuso a cumprimentar essas pessoas. - declarei com firmeza. Meu pai então colocou o braço sobre meus ombros e sussurrou em meu ouvido.


- Cumprimente, se quiser ver a Ema hoje.


Respirei fundo, resignada, e continuei no meio daquele cenário de hipocrisia.


- Vélaz. - William cumprimentou. - Meu estimado amigo, a vida é cheia de surpresas. Sabia que nossas filhas namoraram? - disse ele, parecendo orgulhoso.


- Quem diria, William Johnson deixou a homofobia de lado. - comentei ironicamente.


- Nos últimos dias, meu pai se tornou um simpatizante do movimento LGBT. Acredita? O que o interesse político não faz, não é mesmo? - disse Norman com um tom de desinteresse.


William riu.


- Essas garotas são tão engraçadas.


- Eu tive que descobrir sozinho que você e a Norman tiveram uma paixão de verão. - meu pai olhou para mim com um olhar intimidador.


- Não namoramos. - respondi.


- Tivemos um lance. Nada demais. - disse Norman, cruzando os braços em defesa.


- Gostaria de convidar você e sua filha para jantar em minha casa hoje. - propôs meu pai, enquanto eu exibia meu olhar de desgosto.


- Aceitamos. - respondeu William.


- Está brincando, pai? - protestou Norman. - Eu não quero comer com essa gente.


- Cale a boca, Norman. Se quiser continuar com seu cartão ativo. - repreendeu William.


- Sarah, converse com sua amiga. - incentivou meu pai.


- Já estou cansada desse circo. - declarei, enquanto saía com passos firmes, minha mãe seguiu-me.


- Sarah, por favor. Não faça isso. Você só precisa ser cordial com Norman por alguns minutos. - implorou minha mãe, tentando me convencer a ficar.


- Não percebe que ele está tentando me humilhar? Estou à beira da loucura, mãe. - confessei, sentindo a tensão crescer dentro de mim.


- Aguente firme. Você verá a Ema hoje. Isso não te conforta? - insistiu minha mãe, buscando me dar forças.


- Ela estaria ao meu lado se aquele monstro não a tivesse raptado. - desabafei, tentando conter minhas emoções.


- Aguente só mais um pouco, Sarah. Seja forte pela Ema. - concluiu minha mãe, sua voz transmitia um misto de encorajamento e compaixão.


- Só mais uns minutos. - concordei.



CONTINUA...

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Where stories live. Discover now