Capítulo CLXX

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Estacionei minha moto na garagem da casa de Sarah. Desliguei o motor e me inclinei para frente, sentindo o peso das emoções reprimidas desde meu retorno à cidade. Lágrimas quentes escorriam pelo meu rosto enquanto soluços escapavam do meu peito.

— Ogras choram? – a voz de Norman ecoou da porta de entrada. Enxuguei o rosto com as costas das mãos, sentindo a dor latente em minha bochecha.

— Pode debochar à vontade. – Saí da moto e caminhei até Norman. — Você viu a Sarah?

— Vi, mas não sei para onde foi. – Norman cruzou os braços, um sorriso cínico estava estampado em seus lábios. — Eu te acompanharia numa bebida, mas você gosta de me odiar. Então, beba sozinha. – disse ele, antes de se virar para sair.

— Você é a última pessoa com quem eu beberia. – respondi, sem esconder o desprezo. — Mas é quem está disponível.

— Adoro os seus gracejos.

Seguimos até a bancada do bar na sala de estar. Norman serviu dois copos de whisky e me ofereceu um.

— Sobre a Layla...

— Se desculpe com ela, não comigo. – respondi, pegando o copo. Fui até o sofá e me sentei, tomando um gole generoso.

— Na verdade, eu ia pedir pra você ficar com a calcinha que ela esqueceu no meu quarto. Já virei a página. – Norman se aproximou com seu próprio copo e a garrafa de whisky.

— Faça bom proveito da calcinha. – tentei acalmar a minha mente turbulenta. Os pensamentos giravam como um redemoinho, e o calor do whisky parecia se espalhar pelo meu corpo, contrastando com a frieza das palavras de Norman.

— Está triste? – Norman sentou ao meu lado, colocando a garrafa sobre a mesa de centro. – Vamos lá, sou a psicóloga da noite.

— Você, psicóloga? Nem pensar. – resmunguei.

— Certo, eu começo. – Norman tomou um gole do whisky. — Acho que nunca gostei de alguém como gostei da Sarah. Agora é com você.

Respirei fundo.

— Eu não odeio você. Só acho você extremamente irritante.

— É mesmo? – Norman sorriu. — Eu também te acho irritante. Principalmente por roubar a mulher que eu queria. Você tinha todas as mulheres sem graça de Santa Mônica, por que escolheu a Sarah?

— Eu não escolhi a Sarah, ela me escolheu. – respondi.

— Você escolheria ela, agora? – Norman tomou outro gole.

— Sem dúvidas, sim. – respondi.

— Podíamos duelar por ela. – Norman riu, mas seus olhos não acompanharam a risada. — Você acha mesmo que eu faria isso pela Sarah? Ela é gostosa, mas não vale tanto assim.

— É melhor parar de falar da Sarah desse jeito. – tomei o resto do meu whisky e coloquei o copo na mesa de centro. — Vou deitar.

— Já? Está cedo. – Norman me serviu mais bebida. — Diria que ama a Sarah?

— Sim, eu amo a Sarah. – respondi.

— Eu sentia que ela não me amava, mas não era importante. Ela era boa na cama. A propósito, melhor do que Layla. Imagino que tenha notado.

— Bem, Norman, meu parceiro quis me matar hoje. E acabei de deixar a polícia. Estou sem paciência pra falar de bobagens. – levantei-me do sofá.

— Sabe, Ema. – Norman se levantou também, agitando o líquido em seu copo. — Meu pai tem armas, um cofre cheio delas. E eu estou com vontade de dar uns tiros.

— O que eu tenho a ver com isso? Você não é problema meu, agora. – respondi, minha voz estava firme apesar do caos interno.

— Não entendeu? Você odeia o Júlio. Por que não enfrenta seu problema? Estoura os miolos dele.

— Faça você. Eu não tenho planos de ir para a cadeia.

— Eu poderia fazer, mas sou amadora. Talvez se eu tivesse ajuda de uma ex-policial. – Norman me olhou com intensidade enquanto bebia.

— Não.

— Pense bem, Ema. Sarah herdaria o dinheiro do pai e, por uns bons milhões, eu iria para bem longe.

— Não. – respondi. — Não sou uma assassina.

— Está com medo de quê?

— De nada. Eu ainda tenho integridade. E por mais que ache o Júlio um monte de esterco, ele ainda é o pai da Sarah.

— Até a própria Sarah está cansada do pai. – Norman insistiu.

— Eu não sou uma assassina. – falei com ímpeto.

— Certo, Ema. Continue sendo medrosa e será você quem vai morrer pelas mãos do Júlio. – Norman voltou a se sentar. — Eu vou me mudar ao amanhecer. Voltarei para Santa Mônica. O tour da minha família por essa cidade acabou. Com sorte, minha estimada esposa me acompanha.

— Não conte com isso. – resmunguei.

CONTINUA...

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Where stories live. Discover now