Capítulo CXLV

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Retornei à casa dos meus pais e adentrei meu antigo quarto, perdida em devaneios. O vibrar do celular despertou uma breve esperança, desfeita ao constatar que era Mariana, não Ema.
“Oi. Alguma novidade?”
"Não". Escrevi. Respirei fundo ao evocar minha última lembrança de Ema.
— Hoje estou de folga, vou te mimar um pouco, então chegue cedo. 
— Você não pede, meu amor, você manda. – pisquei para ela. — Não demoro. – dei um breve selinho nela. — Te amo.
— Te amo também. – Ema deu um beijo na ponta do meu nariz. — Até logo.
Afastei-me, dirigindo-me ao meu carro. Antes de abrir a porta, olhei para ela e soprei um beijo. E agora, uma dúvida pesava em mim: por que a deixei sozinha?
Duas batidas na porta interromperam meus pensamentos, minha mãe adentrou o quarto.
— Sarah, não vai descer para comer?
— Não suporto mais olhar para a cara daquele homem. Ele se diverte com meu sofrimento.
— Querida. – minha mãe aproximou-se. — Pedi a Júlio que pusessem ponto final nisso, mas foi em vão. Ele acha que você merece uma lição.
— Por que mereço ser tratada assim? Eu não fiz nada de errado, mãe. Ele é o culpado. Se fosse um bom homem, nada disso aconteceria. – retruquei, exasperada.
— Eu sei, mas o Júlio só vê o próprio ponto de vista. – ela sentou-se ao meu lado. — Você está sendo forte, Sarah. E acredito que a Ema também.
— Ele não me deixa viver em paz. Não é justo, mãe.
— A vida não é justa. – minha mãe apertou os lábios.
A porta foi abruptamente aberta.
— Parem com as lamentações e liguem a televisão. – meu pai ordenou, autoritário. Sem questionar, peguei o controle e liguei a TV. A delegada que trabalhava na mesma delegacia da Ema estava na tela, dando uma entrevista.
— Encontramos Ema Campos numa antiga fábrica de peças automotivas. Para nossa surpresa, havia um rapaz, identificado como Nicolas Franco no local.
— Ema está viva?! – encarei a TV, sentindo a angústia me consumir.
— Sarah, acalme-se, vai passar mal. – minha mãe segurou minha mão direita, me amparando.
— Qual o estado da jovem? E do rapaz? – indagou o entrevistador.
— O rapaz está desidratado, mas bem. O estado de Ema é mais grave. Ela foi encontrada desacordada e com muitas contusões. Suspeitamos de agressão. – disse a delegada.
— Seu canalha desgraçado! – avancei em direção a meu pai, empurrando-o contra a parede. — Você é doente!
— Sarah, contenha-se, por favor. – minha mãe interveio. — Ema vai ficar bem. Tenha fé.
— Torça para que Ema sobreviva, senão...
— Se não o que, Sarah? Você não está em condições de fazer ameaças. – meu pai agarrou meus pulsos, encarando-me. — Mantenha a boca fechada. Não se esqueça que Ema está vulnerável no hospital. Uma dose errada de medicamento e ela nunca mais acordará.
Cuspi em seu rosto.
— Eu te odeio.
— Não preciso do seu amor, apenas da sua obediência. – ele me soltou.

***

Dirigi-me ao hospital e aguardei ansiosamente por notícias de Ema. Após algumas horas de cirurgia, o médico emergiu na recepção, e prontamente me levantei da cadeira, indo ao seu encontro.
— Ema está bem? – perguntei, esperançosa.
— Ela teve uma fratura no braço direito e algumas contusões. Já corrigimos a fratura e estamos monitorando o inchaço cerebral. É possível que Ema acorde dentro de alguns dias. – explicou o médico, mantendo uma postura profissional.
— Dias? Então, o estado dela é grave? – minha preocupação era evidente.
— Ela está estável. – tranquilizou-me o médico.
— Posso vê-la? – minha urgência em estar ao lado dela era palpável.
— Ainda não, mas avisarei assim que possível. – respondeu ele, com gentileza, antes de se afastar.
Me sentei na cadeira, levando as mãos à nuca e inclinando-me para frente. Apesar do alívio por saber que Ema estava viva, meu peito se apertava diante do seu estado.
Horas se passaram, eu permanecia na mesma cadeira da recepção, sem apetite algum. Madrugada adentro, acabei adormecendo na mesma posição, despertando somente ao sentir alguém afagar minha cabeça. Abri os olhos, tentando decifrar quem era a mulher à minha frente.
— Oi. – falei, me ajeitando na cadeira, ciente de que minha aparência estava um caos.
— Um amigo de Ema trouxe eu e meu marido até aqui. Ele e o Reginaldo estão com Ema.
— Ela acordou? – levantei-me abruptamente.
— Não, mas o médico disse que ela pode receber visita.
— Eu preciso vê-la. – meu desejo era evidente.
— Você namora Ema?
— Sim. – respondi. — A senhora é a mãe dela?
— Sou. É uma pena que tenhamos nos conhecido dessa forma.
— É... Mas Ema vai ficar bem. E podemos marcar um almoço. – tentei transmitir otimismo.
— Claro.
— Me desculpa, eu me sinto responsável por isso. Ela está morando comigo. Eu a deixei sozinha por algumas horas e quando voltei para casa ela havia sumido. Se eu tivesse ficado...
— Talvez você também estivesse hospitalizada se tivesse ficado. A vida é assim. Coisas ruins acontecem até com pessoas boas. – a mãe de Ema tentava me confortar, apesar da situação.
— Me desculpe pela pergunta, mas como consegue suportar isso? Eu estou destruída, nem ao menos consigo comer.
— Bem, eu tive que adaptar meu coração para emoções fortes. Não é nada fácil ter uma filha policial, mas sei que é a vontade dela. E respeito, mesmo que meu coração fique apertado toda vez que assisto o telejornal. – ela revelou sua perspectiva.
— Eu prometo que vou cuidar melhor da Ema quando ela receber alta.
— Ema vai te dar trabalho. – a mãe de Ema esboçou um sorriso leve. — Ela não vai nos deixar. É cabeça dura o suficiente para lutar pela própria vida.
— É. – forcei um sorriso. — Seria muito estranho se eu a abraçasse?
— Me chama de você. – a mãe de Ema me abraçou. — Não é vergonhoso se sentir fraca às vezes. Eu sei quanta dor deve estar sentindo. Um buraco se abriu diante dos meus pés quando vi o noticiário, mas preciso acreditar na recuperação da minha filha.
— Sarah. – ouvi meu nome e desfiz o abraço, olhando para trás. Nicolas se aproximava ao lado do pai de Ema.
— Nick. – fui ao seu encontro e o abracei. — Você falou com ela antes disso acontecer?
— Sim.
— Ela estava com medo?
— Não,  ela foi muito corajosa. – Nicolas apoiou o queixo no meu ombro. — Eu não pude impedir, Sarah. Estava acorrentado. Pedi para eles pararem, mas só pararam de bater nela quando aquele filho da puta mandou.
— Ele estava lá assistindo tudo? – indaguei, com raiva.
— Estava.
— Vocês sabem quem machucou minha filha? – o pai de Ema questionou.
— Não. – respondeu Nicolas. — Como eu disse antes, todos estavam com os rostos cobertos.
— Por que capturaram vocês? Não pediram resgate, apenas machucaram minha filha. Que mal ela fez?
— Nenhum. – respondi, firme.
— Foi um sequestro mal sucedido, Sr. Reginaldo. – Nicolas mentiu, certamente para evitar que o pai de Ema fosse confrontar meu pai e se prejudicasse.

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Olá, pessoal!
Vocês podem me ajudar curtindo e comentando? ;)

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Where stories live. Discover now