c a p i t u l o 16

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Everest

26 de Julho em Seattle

— Se quer que eu não tenha medo de você, está fazendo um péssimo trabalho  —
Falei e dei as costas, indo para qualquer lugar daquele apartamento imenso que não fosse aquele espaço com ele.

Ainda no andar de baixo, abri uma porta, dando de cara com o escritório, ou parecia um. Na verdade a sala estava repleta de telas e computadores, muito sofisticado.

— É através dessas telas que eu vigio você. — sua voz soou, fazendo com que eu estremecesse e apertasse os dedos na fechadura. Ele não podia estar falando sério.

Olhei sobre o ombro e Henry situava-se na cozinha, de costas para mim e abrindo os armários. Ele também havia se molhado e não tinha trocado de roupa até então.

Quando riu baixinho, revirei os olhos e fui adiante para outra porta. Lavabo.

Entrei e a fechei atrás de mim, girei o trinco e, apoiando a cabeça na madeira, suspirei.

A roupa estava começando a pinicar, por aquele motivo deixei de lamentar e dei uma olhava nas que Henry me dera.

Aquelas roupas não caberiam em mim, óbvio. Apesar dele ter bastante músculo e ser alto, era esguio e eu tinha uma barriga grande, bunda e coxa também, sem contar meus braços.

Mas mesmo assim eu depositei a mochila na pia e abri uma peça em frente ao rosto, sendo surpreendida com um casaco moletom que com certeza caberia em mim. O tecido da cor cinza, muito quentinho. A calça era do mesmo material, no entanto, a estampa era cheia de flores, flores vermelhas de todos os tamanhos. Um pouco parecido com as flores do vestido que usei no avião, quando o vi pela primeira vez.

— Ele não pode ter comprado isso. Pelo amor de Deus. — falei sozinha. Com certeza era de alguém que ele conhecia. 

Alguma mulher que ele tenha levado ali que, também tinha o meu tamanho.

Movimentei a cabeça para os lados, na intenção de não pensar demais. Então, receosa que ele entrasse ali de alguma maneira, me livrei das roupas e calcinha, peguei outra peça íntima na bolsa, agradeci a dona Gaia por me ensinar a nunca sair sem uma extra, e vesti de uma vez.

Finalmente seca e confortável, guardei tudo da mochilinha, contei até três, respirei fundo e abri a porta.

O cheiro de café foi a primeira coisa que senti, a segunda, foi o perfume leve de Henry.

Ele estava na cozinha, despejando o líquido em uma caneca.

Deixei a bolsa em um cantinho no chão próximo a saída e aproximei-me dele.

— Fraco e com bastante açúcar? — Perguntou, concentrado no que fazia.

— Uhum.

Eu não iria perguntar como ele sabia daquilo.

Parei em frente a ilha. Henry levantou a cabeça, e foi um tanto quanto impressionante como seu olhar mudou, passando de um concentrado para um olhar carregado, sombrio e um pouco quente.

— Ficaram... — Ele mediu-me de cima a baixo lenta e pacientemente — boas — completou —  Muitos boas.

— De quem são essas roupas? — Quis saber, ele empurrou com cuidado a caneca para mim, e com ela, colocou também o abridor, surpreendendo-me — De alguma mulher que dormiu aqui? — Sorvi um gole do café.

Encarei seus olhos e ele sustentou. Logo desviei porque era demais.

— Não trago ninguém aqui, Everest. Não gosto de pessoas invadindo meu espaço. — Mordi o lábio, subitamente desconfortável — Não você. Você é... — Ele lambeu o lábio inferior e não terminou a fala.

EFEITO DO CAOSWhere stories live. Discover now