c a p í t u l o 19

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Escondido detrás da árvore, observei o filhote de raposa ir em direção a armadilha. Meu coração estava ansioso, batendo descontrolado. A fazenda era grande e eu tinha me afastado muito, não dando chance de me pegarem.

Como uma criança sem ninguém para brincar ou me fazer companhia, pegaria aquela raposinha e a teria para mim. Seria o meu bichinho. Será que ela tinha pai ou mãe? Mas aquilo não me impediria. Quando a tivesse presa, correria muito, até que minha pernas doessem e a esconderia para que eles não a encontrassem.

Ela foi correndo desengonçada atraída pela isca. Quando estava prestes a entrar para que eu puxasse o fio em minha mão e a prendesse, passos soaram, alerando o pequeno animal e fazendo ela correr para longe de mim.

O que está fazendo aqui, menino? — era padre João.

Abaixei a cabeça.

Brincando.

Volte para perto dos seus pais, é perigoso. — mandou. Eu corri para longe.

E jurei a mim mesmo que voltaria depois, nem que eu atraísse a raposa com algo melhor. Um pinto de uma de minhas galinhas. Era isso! Algo gostoso para ela. Que a fizesse não resistir.

Henry

30 de Julho em Seattle

Mais de cinquenta horas.

Cinquenta e uma hora e alguns minutos para ser exato.

Eu tinha um sorriso estranho pintando meu rosto. Mas os alunos que perambulavam, olhavam-me de olhos arregalados, antes de desviarem e seguirem seu caminho.

Era quarta feira. Um pouco mais das onze da manhã quando botei os olhos em Everest. Ela seguia para o refeitório. Estava sozinha.

O celular na mão tinha sua atenção. Passei a língua sobre o lábio de baixo. Aquilo significava que não tinha me respondido por opção. No entanto, também não tinha me bloqueado como da última vez.

Desde que nos conhecemos, ela raramente prendia o cabelos, mas estavam presos naquela manhã, em um rabo de cavalo baixo que deixava seu rosto bonito em evidência.

Passei a mão no rosto, deixando um suspiro escapar.

Suas roupas eram os mesmos modelos de saia e blusa, mas a saia era preta com flores brancas, nos pés aquela bota gasta de quando a vi pela primeira vez.

Me mantive longe, nenhum pouco satisfeito que estivesse me ignorando. Se alguma coisa, estava puto, zangado e com vontade de arrastá-la para onde pudesse lhe mostrar o quanto eu odiava o afastamento.

Ela não me ignoraria. Porra, eu não permitiria que fosse adiante com aquela merda e se afastasse. Não depois que eu provei da sua boca, não depois que malditamente senti a pele macia e quente em meus dedos.

Inferno, eu não queria que ela me amasse. Não pediria tanto. Mas eu precisava que Everest entendesse que eu a queria, de maneira única e obsessiva. Pelo menos a sua paixão, a luxúria, eu teria para mim. A garota teve o maldito azar de sentar ao meu lado naquele avião e mesmo sem saber, acalmou meus demônios. Ela teve uma chance de se livrar, mas acabou caindo  próximo a mim, e eu puxaria o fio.

Seria um imbecil se deixasse ela pra lá.

Era minha, não de Big ou qualquer outra pessoa e saberia disso.

O desgosto mesclado ao sorriso estranho em meu rosto afastaram a todos, menos Nikki que passou por mim indo em direção ao refeitório, ela me deu seu olhar fechado, tentando soar ameaçadora.

EFEITO DO CAOSWhere stories live. Discover now