Capítulo 6

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Fim do terceiro ataque. 59 minutos para o quarto.

—Ouviu isso? A voz falou mais dois números, alguém morreu. –Acre disse com o peito martelando pelo medo de saber qual o próximo corpo encontraria.

—Ouvi, vamos ver quem foi.

Pará respondeu, ainda estava no segundo andar junto com o Acre e nenhum dos dois tinha cogitado em subir ainda, na verdade queriam descer de novo e explorar o primeiro andar novamente enquanto os outros subiam.
O acreano abriu a porta e olhou o corredor e viu uma movimentação dos outros, seguido de uma gritaria no andar de cima e fez um sinal indo na frente correndo e subindo os degraus em passos rápidos até o andar de cima e quase foi empurrado escada abaixo por Matin, Rio e Maranhão que estavam em uma luta corporal para segurar o amigo de cabelos longos que gritava loucamente e fazia força para entrar na sala onde sua irmã já estava morta.

—Me soltem caralho, se for ela aí eu preciso entrar. Me solta.

—Matin, me escuta. Não podemos deixar você ver isso, Minas disse que não era para você entrar de jeito nenhum.

—Foda-se o que ele disse, eu que sou irmão dela.

—Matin! –Escutou um grito rouco e olhou para o mineiro na porta com os olhos arregalados em pavor pela cena e balançou a cabeça em negação.

Mato Grosso do Sul enfim parou de lutar contra os amigos e encostou na parede caindo em lágrimas de desespero e dor, Roraima sua parceira se ajoelhou e o puxou para o abraço mais forte que tinha e deixá-lo chorar com sua perda. Bahia também chorava dessa vez nos braços de Piauí e que deixava poucas lágrimas cair pela Matinha e Alagoas, tinham perdido, mais um amigo nordestino, pior foi ter visto o rosto da garotas cheio de hematomas e quase de formado pela surra que tinha levado no crânio várias vezes.

—Quem foi? —Sussurou Catarina para o mineiro que ainda tinha os olhos arregalados e sem conseguir pronunciar nenhuma palavra de suas cordas vocais apenas deu de ombros sem dizer nada.

—Ouvimos que alguém... –Brasília falou quando subiu ao terceiro andar ao lado de Paraíba, mas quando viu a situação não completou a frase.

Acre naquele momento suspirou pesado apoiando a mão no corrimão empoeirado e piscou algumas vezes olhando para trás, quando viu que as garotas subiram atrás de si e não Pará, e na verdade não tinha visto ele depois que subiu. Achou que estivesse atrás de si o tempo todo, e quando se virou e não viu o amigo ficou confuso.

—Porra. –Sibilou para si.

No momento da confusão, Acre subiu rapidamente pelas escadas e Pará ia logo atrás e pouco antes de chegar perto do primeiro degrau, algo acertou fortemente a cabeça que o deixou zonzo e o derrubou no chão, abriu os olhos devagar e com fortes dores no topo da cabeça dentro de uma sala, queria apagar de novo mas devido a situações se forçou a recobrar a consciência logo, estava no chão e as mãos amarradas por cabos elétricos, sentiu cheiro de sangue e tossiu olhando mais adiante o corpo de Sergipe no chão no mesmo lugar de antes e sentado em uma cadeira com a faca que ainda pingava sangue do loiro, Norte com um olhar vazio e um silêncio profundo.

—Égua... o que está fazendo?

—Isso é sua culpa, tudo isso que aconteceu com ele... Foi por sua causa.

—Minha? Não sou eu que estou sentado com uma faca igual um psicopata não é? E aquilo com a Amazonas foi minha culpa também.

Norte se levantou empurrando a cadeira para longe apontando a faca ensanguentada para o pescoço do paranaense.

—Cala a boca, eu não posso nem escutar essa sua voz e eu sinto vontade de abrir você no meio. –Ele sibilou com lágrimas nos olhos engolindo seco. —Eu não fiz aquilo com ela, eu não matei ninguém e por causa da sua ideia ele morreu, então eu vou matar você e depois eu vou atrás do Tocantins pra vocês pagarem.

—Acha que esse seu comportamento te torna mais inocente?

Ele deu uma risada sem humor, fungando o nariz com as lágrimas caindo pelo seu rosto.

—Inocente? Algum de nós parece inocente pra você desde que pisou aqui? O jogo quer que a gente se mate até não sobrar mais nada, então eu vou matar e quem mais tiver que matar.

Ele empunhou a faca e levantou a mão, tremia com medo e sentia algo e tinha algo que o impedia de fazer aquilo com tanta naturalidade, os impulsos da raiva vinham mas junto deles tinha o medo e o arrependimento e não sabia se teria forças para matar alguém que também já foi seu amigo, então chorou, abaixou a cabeça e chorou.
Pará puxou o ar para o peito, "aliviado" pela falta de coragem do outro.

—Norte... acredito em você. Eu sei agora que você não faria isso, você não hesitaria em me matar se fosse culpado.

—De que isso serve agora? –Respondeu ainda chorando.

—Fique conosco, comigo e Acre podemos esquecer isso e se juntar e achar o culpado de verdade. Pelo gipe.

Suas palavras fizeram ele levantar a cabeça e parar de chorar, fungou o nariz e pareceu pensativo. Não tinha mais com quem ficar então teria que confiar em alguém. Concordou e soltou os braços do paranaense e ajudou a se levantar do chão.

—Desgraçado. Achei você. —Acre abriu a porta quando viu os dois parados no fundo da sala.

—Acre, eu posso explicar. Acont-... –tossiu, com a mão na lateral do pescoço escorregando sangue, olhou para trás e Pará o olhou respirando acelerado com a mão suja e algumas gotas de sangue de sangue no rosto.

Tinha pego a faca do chão quando o outro não estava olhando e cravou em sua pele antes que pudesse voltar atrás e tentar matá-lo de novo. Norte caiu se arrastando no chão e tossindo engasgado pela própria saliva e sangue que saiam de sua boca e nariz, chegou até o corpo de Sergipe se deitando tocando sua mão e começou a chorar outra vez.

—M...e... des-culpa... não... n-não sou tão fo-forte... quan...to...pareç..o...

Soluçou baixo e expirou uma última vez, antes de só aceitar sua morte ao lado do seu amado galego.
Pará parecia não ter uma reação que não fosse a perplexidade daquela situação, Acre chegou até ele para ver se estava bem mas ele ainda estava distante em seus pensamentos.

—Tem certeza de que está bem?

—Tenho... eu acho...

—Vamos sair daqui, Mato Grosso e Alagoas já morreram também, precisamos nos proteger.

—Não era ele... O infectado não é ele.

—Mas ele ia tentar te matar né? Então não importa, por que de qualquer forma isso foi defesa.

—Ele disse que o jogo está fazendo isso com a gente, que vamos todos no matar no fim das contas. E eu acho que ele tem razão.

—Então, acha que todos nós estamos infectados?

—Pior. –Fez uma pausa e olhou para ele. —E se nenhum de nós estivermos e só estamos nos matando por vontade própria?

Jogador número 14 eliminado. Restam 21 jogadores.

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