Capítulo 1- De volta a Big Apple

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Parecia um dia ensolarado de verão. Algumas crianças barulhentas brincavam no gramado, enquanto outras passeavam de um lado para o outro de bicicleta com os pais pelo parque. Havia muito verde por todo o lugar, e Mel encontrava-se recostada no tronco de uma árvore, aproveitando a sombra fresca que ela oferecia.

   Inesperadamente a figura de uma mulher surgiu a poucos metros da garota. A luz brilhante que dela emanava ofuscou por alguns minutos os belos olhos azuis de Melissa, até que finalmente cessou. Diante dela, de pés descalços e usando um vestido branco que lhe cobria quase todo o corpo estava Helena, sua mãe. Embora a vontade de Mel fosse abraçá-la e beijá-la, devido à imensa saudade que sentia, a bela mulher não deixou que a filha se aproximasse.

   -Apenas me ouça, Melissa, nós temos pouco tempo. – afirmou.

   -Mas, mãe...

   -Não, não fale, por favor. Eu sei sobre tudo o que você está sentindo, minha querida. Sei das suas angústias, das suas tristezas, do medo de voltar para Nova York... É normal que você esteja assustada. Todos nós ficamos com medo quando temos de enfrentar coisas maiores do que nós. Mas é preciso ter força, filha, ainda mais agora que você encontrará muitas pessoas. Algumas não são o que parecem, na verdade, são falsas, interesseiras, mas tenha certeza que você também encontrará outras que são justas, verdadeiras e que estão te esperando há muito tempo. Só ainda não se deram conta disso. Sei que o que estou lhe dizendo agora parece não fazer sentido, mas o importante é que você saiba que eu estarei sempre ao seu lado lhe protegendo. Confie em mim, querida, tudo dará certo não se preocupe.

   Por alguns instantes Mel ficou em silêncio, totalmente paralisada. Seu cérebro havia articulado uma série de frases e perguntas para a mãe, mas nenhuma palavra conseguia sair de sua boca. Helena, por sua vez, também nada mais disse. Apenas olhou Melissa de forma terna e sorriu.

    A luz suave de antes começou então a envolver mais uma vez seu corpo, até se tornar tão intensa que Melissa teve de virar o rosto para proteger seus olhos da exasperada claridade.

   -Senhorita? Senhorita, acorde, por favor!- disse uma voz desconhecida, que agora soava cada vez mais perto em meio a toda aquela luz ofuscante.

   Desnorteada, Mel abriu os olhos de forma abrupta, dando ao mesmo tempo um pequeno solavanco na cadeira graças ao susto. Os óculos que estavam em suas mãos rolaram direto para o chão da aeronave, juntando-se a uma revista que havia caído ali desde que ela pegara no sono.

   -Perdoe-me o incômodo, senhorita, mas já vamos aterrissar. Por favor, afivele seus cintos.

   Ainda sob o efeito do estranho sonho, Melissa apenas balançou afirmativamente a cabeça. A jovem aeromoça de maquiagem carregada sorriu exibindo seu chamativo batom vermelho e continuou a andar rebolativa pelo corredor, acordando as outras poucas pessoas que ainda dormiam.

   “Foi um sonho, apenas um sonho”, pensou Mel, enquanto tateava o chão a procura dos óculos. Mas embora ela tentasse se convencer de que tudo havia sido apenas uma grande confusão de seu cérebro cansado, o encontro com a mãe parecia tão real quanto o fato dela estar ali, naquele avião, indo em direção aos Estados Unidos.

   Quando afinal encontrou os odiados óculos de lentes grossas, Mel colocou-os de qualquer jeito no rosto e afivelou rápido o cinto como a aeromoça havia mandado. Ao olhar pela pequenina janela à sua esquerda, pode ver um enorme lago brilhando sob o sol quente da tarde, e seu avião aproximar-se cada vez mais da pista do aeroporto internacional John F. Kennedy.

   -É, bem vinda de volta a América, Melissa. - disse ela, respirando fundo enquanto ajeitava os óculos, e se olhava no reflexo pouco nítido do vidro. – Você finalmente voltou pra casa...

Uma Garota em Nova York (Livro Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora