CAPÍTULO 17-A PERSEGUIÇÃO

11.7K 1.1K 117
                                    

Mesmo com o vapor quente que circulava por Manhattan naquela tarde ensolarada, Mel e Aaron preferiram sentar nas mesinhas brancas que ficavam na calçada do restaurante NY 300. Sob a sombra de um enorme guarda-sol amarelo, Melissa recostou-se na cadeira, satisfeita por ter tomado sozinha um delicioso milk-shake de morango.

   Sentado a sua frente depois de comer uma porção de fritas com muito ketchup, Aaron agora sorria daquela forma luminosa que ela tanto admirava. Havia um certo ar de mistério em seu semblante, porém, Mel preferiu não interrogá-lo mais sobre a estranha sacola que o garoto havia trago sem lhe dizer o que havia em seu conteúdo. Naquelas últimas semanas tudo estava sendo tão perfeito, que seria uma bobagem ficar enchendo-o de perguntas por um mero segredo que mais cedo ou mais tarde ele lhe contaria.

   -E então, o que vamos fazer depois daqui? Cineminha com Chloe e M.J. ? – perguntou Mel tentando esquecer-se da curiosidade que a consumia.

   Fingindo estar cansado, Aaron espreguiçou-se na cadeira.

   -Que tal passar mais alguns minutos fazendo nada com o Aaron? – sugeriu ele rindo.

   -Eu tenho uma proposta melhor, que tal a Mel passar o tempo beijando o Aaron?

   -Hmm... Acho que essa proposta soou melhor que a primeira. – disse ele debruçando-se na mesa para beijá-la.

   -Eu sabia que você ia concordar. – afirmou Melissa dando uns leves beijinhos nele.

   Até que, de forma inesperada, Aaron recuou e sentou-se novamente na cadeira com aquele olhar que tanto intrigava Melissa.

   -Mas antes de todo esse tempo da Mel beijando o Aaron, o “Dentinho” tem uma surpresa para a senhorita “Pimenta”.

   -Surpresa pra mim?! É sério?!

   Aaron então pegou a sacola que repousava na calçada e colocou-a em cima da mesa diante dos olhos repletos de curiosidade de Mel. Por uma fração de segundos, ela ficou inquieta, esperando pela revelação daquele segredo guardado por horas, até que Aaron fez um pequeno gesto com a mão indicando para que ela pudesse ver afinal a coisa digna de tanto mistério.

   Ao enfiar a mão na sacola, Mel sentiu algo muito fofo e quando puxou o tal objeto de seu interior, um lindo urso de pelúcia branco surgiu diante dela.

   -Reparou alguma coisa familiar na ursinha? –Aaron perguntou.

   De fato a pelúcia parecia uma cópia reduzida de Mel, tinha tênis All Star cinza, calça clara e uma blusa preta escrito Pink, parecidíssima com a mesma camisa que ela tinha de sua cantora favorita.

   -Sou eu?!

   -É, e esse aqui... – disse ele tirando o outro ursinho da sacola. -...sou eu, como você pode ver pela blusa estilo Punk e a guitarrinha colada na pata.

   -Ai, Aaron, eles são lindos! Onde você comprou?

   -Eu fiz especialmente na loja “Build a Bear” pra nós. Quero dizer, eu não fiz com as minhas próprias mãos, só escolhi os acessórios que iriam ser colocados nos ursinhos.

   -Nossa, eles são tão fofos e macios! – disse Mel, enquanto abraçava as duas pelúcias parecendo uma criança.

   -É. E o mais legal de tudo é que eles vêm com certidão de nascimento e a gente é que escolhe o nome. A ursinha se chama Lily Fenner e o ursinho Woodstock Stonewell. Eu vou ficar com ela e você com ele, porque assim, à noite, quando estivermos longe um do outro, a gente vai poder abraçar os ursinhos e não sentir tanta saudade.

   Emocionada com aquele presente tão lindo e carinhoso de Aaron, Mel levantou-se para beijá-lo de novo quando de repente, desfilando pela rua, um magnífico Porsche Carrera vermelho passou bem devagar em frente ao restaurante NY 300. Apesar do carro possuir vidros escuros, a pessoa que o conduzia baixou-o para jogar alguma coisa na rua que Melissa não reparou o que era. Estava chocada demais, pois, a poucos metros dela, encontrava-se William Blos, todo sorridente, dirigindo um Porsche caríssimo que de certo havia sido comprado com o dinheiro da explosão do apartamento de Louise.

   Mel sabia que tinha prometido a si mesma deixar tudo por conta do detetive McVeigh, mas a vontade de desmascarar sua futura madrasta era tão grande que sem pensar nas consequências, ela tomou uma incrível decisão.  

   -Ai, meu Deus! Aaron, desculpa , mas eu me esqueci, tenho uma prova de vestido de dama agora mesmo. Depois a gente se fala. – disse ela apressada, pegando a sacola com Woodstock e depois saindo correndo feito louca pela rua.

   Não entendendo nada, Aaron viu Mel desaparecer ao entrar em um táxi, deixando-o sozinho no restaurante sem uma explicação convincente. Porque aquela ele com certeza não havia “engolido”, já que todas as vezes que Melissa ia provar o vestido de dama de honra parecia mais que iria fazer uma cirurgia de canal sem anestesia do que experimentar uma simples roupa.

   Enquanto isso, no trânsito odioso de Manhattan, o taxista tentava seguir o Porsche vermelho a pedido da garota, embora a perseguição fosse um tanto lenta, devido a pequena retenção que se estendia em um ponto da Rua Lexington. Mesmo assim, Melissa não tirava os olhos do carro vermelho distante poucos metros de onde ela estava. Dessa vez, sentia que o tão esperado flagrante aconteceria, e que para isso era preciso avisar a Sophie e, é claro, McVeigh.

   -Alô, Sophie? É a Mel. Eu “tô” seguindo o Blos e a Linda, eles estão num Porsche vermelho, ligue pro detetive e mande ele ficar de sobre aviso. Assim que eu souber pra onde eles vão, eu te ligo. Hã? Aaron? Não, não, eu “tô” sozinha, depois te explico... Tchau.

   E desligando o telefone celular que ganhara do pai no dia anterior, Mel pôs-se a olhar para o carro onde a madrasta estava, atenta para não perdê-lo de vista, o que a julgar pela marca e pelo engarrafamento, seria bem improvável.

   O tráfego que até então era lento começou a ganhar um pouco mais de velocidade, até que a retenção finalmente acabou e o Porsche Carrera de William Blos pôde exibir-se pela rua. “Colado” a ele, o táxi em que Mel estava pôs-se a segui-lo a pedido da garota.

   A perseguição continuou sobre algumas ruas de Manhattan, sem que o amante de Linda percebesse o que estava acontecendo. Para ele tratava-se apenas de mais um taxista novato em Nova York que ainda não tinha aprendido as regras da cidade. Só que ao contrário de Blos, Linda havia começado a desconfiar do táxi, devido ao fato dele estar “grudado” atrás do Porsche a mais de vinte minutos.

   -Querido, pise fundo. –ela ordenou olhando pelo retrovisor do carro para o táxi.

   -Mas porque ? Já vamos chegar ao restaurante.

   -Esqueça o restaurante. Acho que estamos nos seguindo.

   -O que? Mas quem pode ser?

   -Sei lá! - gritou Linda exasperada. - Apenas faça o que estou mandando!

   O carro de Blos então demonstrou toda sua potência e ultrapassando com grande perigo outros automóveis, furou o sinal vermelho que havia acabado de se fechar.

   Um pouco atrás deles o táxi freou repentinamente diante do semáforo, fazendo Mel bater seu ombro com toda força na tela à prova de balas que dividia o carro.

   -Ei, por que parou? – perguntou ela irada para o motorista, ainda sob o efeito da freada brusca.

   -Desculpa, minha jovem, mas o sinal fechou e eu não posso ganhar mais uma multa não.

   -O quê? Olha, eu te pago o dobro, até o triplo da corrida se o senhor for atrás deles, está bem?

   Mas o taxista continuou irredutível e Melissa sem escolha afundou-se no banco do carro xingando baixinho alguns palavrões em português, para que desta forma, o motorista não pudesse entender o que ela dizia. O Porsche de Blos já havia sumido a muito tempo do seu campo de visão e, além de ter falhado no flagrante da madrasta, seu ombro ainda por cima começava a doer de uma forma lancinante.

Uma Garota em Nova York (Livro Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora