– Meus pais me largaram na confusão daquele dia. – Querido se referia ao dia do ataque dos monstros completos. – Sem parentes próximos, eu acabei tendo que viver entre os escombros da minha casa. O rei me achou uns dias depois, enquanto caçava monstros.
– Caçava? – Bendito estava confuso.
– Sim. Ele ficou tão traumatizado com o incidente que nunca mais quis que aquilo acontecesse de novo. Mandou construir aquelas enormes muralhas, as torres de vigia... E ele mesmo começou a desenvolver uma pesquisa sobre monstros. Uma pesquisa secreta. – tomou um gole d'água. Isso lembrou Bendito de acabar de mastigar o que tinha na boca. – Ele queria criar soldados mais eficientes na defesa do seu reino, então capturava monstros e os analisava, vendo os pontos fortes e fracos que tinham. Isso ele informou ao exército, mas secretamente ele tentava injetar esses pontos fortes em alguém, para torná-lo poderoso contra monstros... E esse alguém era eu.
Bendito ficou paralisado, sem palavras.
– Eu era um moleque órfão, sem casa, nem herança, e muito menos nome. O rei não hesitou em me usar como cobaia. – explicou. – Aquela enfermaria era o lugar onde tudo acontecia. Era chamada de Laboratório Real. Ninguém podia entrar ali, só o rei. Foi um inferno. Só um dos experimentos deu certo, no final das contas. Toda a vez que algum dava errado, eu sentia muita dor e me contorcia muito. Por isso o rei me apelidou de Homem Torto. – olhou pro teto de folhas. – Enquanto sofria, não conseguia parar de pensar que aquele maldito tinha me salvado da frigideira e me jogado no fogo. Mas eu não tinha pra onde fugir. Ninguém iria me salvar. Acabei aceitando que aquilo seria meu destino. Foi aí que eu fui amaldiçoado. Por mim mesmo.
– Então a maldição... não é lançada por outra pessoa?
– Não. – voltou a olhar pra Bendito. – Alguém é amaldiçoado quando perde a esperança num ponto crítico. Compreendendo isso, entende-se o motivo de existir meio monstros e monstros completos. Meio monstros perderam a esperança, mas ainda têm sanidade. Monstros completos...foram completamente dominados pelas emoções. São tão levados por elas que nem parece que são pessoas.
– Eles parecem... – lembrou-se do sonho com Lagaeto. –... que morreram...
– Mortos-vivos. – fez uma pausa pra Bendito digerir tudo o que tinha ouvido.
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A Cidade do Sol
Science FictionEm um continente que só chove, o sol é a única esperança. Desde que os céus fecharam, as vidas dos habitantes de Belarus se tornaram frias e sem sentido. Numa busca desesperada por propósito, adolescentes começam a desenvolver o que chamam de "maldi...