Capítulo 03

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— "Você quer brincar na neve? De alguma coisa que eu não sei."

Da solidão do meu quarto, escutei Anna tropeçando em algum canto da casa.

— "Faz tempo que eu não vejo mais ninguém, até com os quadros das paredes já falei: 'Firme aí, Joana'. É meio solitário, tão vazio assim, só vendo o relógio andar."

Sentada no chão, próxima à porta, mergulhava em um conto fascinante sobre Papai Noel, a Fada do Dente, Sandman — o criador dos sonhos infantis — e o emblemático Coelho da Páscoa. A empolgação com a narrativa foi tanta que perdi o controle e acabei congelando a parede do meu quarto. Imediatamente, chamei por meu pai e minha mãe, afastando o livro como se ele fosse a causa do meu descontrole.

Quando meus pais entraram no quarto, a preocupação era evidente em minha voz:

— "Estou com medo, estou ficando mais forte!"

Meu pai avançou para me confortar, mas o medo de feri-lo me fez interrompê-lo:

— "Não toque em mim, não quero machucá-lo!"

Ver o medo e a tristeza nos olhos de meus pais ao me verem assim só aumentava minha própria tristeza e angústia. Por vezes, mesmo ainda criança, eu desejava ter nascido sem esses poderes, para evitar causar tantas preocupações a eles. Governar um reino já era uma tarefa hercúlea por si só, sem a adição dos meus problemas.

— "Por que eu não nasci normal como a Anna?" — questionei em meio à solidão do meu quarto, ansiando por uma existência menos complicada e mais próxima da normalidade.

Sentimentos CongeladosWhere stories live. Discover now