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Senti o peso do clima que estava no ar sobre meus ombros. E a julgar pela cara dos pais de Murilo, eles adoravam o Fred.

- Oi, Muri. Tudo bem? - Perguntou Fred.

Ele estava chamando Murilo por apelido? Não pode ser, eu só poderia estar ouvindo demais.

- Tudo bem, sim. E por favor, me chame de Murilo. - disse Murilo sendo bem curto e grosso.
- Nossa, eu havia me esquecido de como você sabe como é ser grosseiro. - disse Fred rindo - E quem é essa criança?
Respirei fundo, contive toda a raiva que estava nascendo dentro de mim e forcei um sorriso.
- Bom gente, quero apresentar meu namorado. - disse Murilo elevando um pouco o tom da voz - Esse é Diego Müchlen e aliás Fred, ele não é uma criança.
O sorriso que estava no rosto de Fred derreteu feito manteiga no fogo. Já o meu se expandiu de forma tímida.
Cumprimetei a todos - inclusive Fred que parecia ter chupado um limão e ainda estava superando o gosto azedo. - e seguimos caminho até a mesa para almoçarmos.
Sempre que podia Fred lançava alguma piadinha, indireta ou tocava num assunto para me atingir de alguma forma e toda que algo do gênero acontecia, Murilo o cortava.

- Então Diego, o que você faz da vida? - perguntou Fred - Ainda está na escola?
- Ele já terminou os estudos. - respondeu Murilo.
- Muri, você vai responder todas as perguntas que forem feitas ao Diego? Ele não sabe falar? - falou Fred.
Respirei fundo e tentei não parecer incomodado com as provocações de Fred.
- Bom, eu estou no comando de uma das 18 lojas do meu padrinho. Terminei meus sim, aliás. E a faculdade devo começar no próximo semestre. - respondi com um leve sorriso no rosto. - E você o que faz?
- Ele é meu assistente. - dessa vez quem respondeu foi o pai de Murilo. - Trabalha comigo há 5 anos. Ele e Murilo sempre foram melhores amigos, mas hoje em dia quase nem se falam.
- Pai, por favor! - disse Murilo levemente irritado - Passado, logo deixe-o lá.
- Um passado nem tão distante assim - Falou Fred - Não é Muri?
- Então Diego, Murilo já conhece seus pais? - perguntou a mãe de Murilo levando o garfo à boca. Ela era tão elegante que até uma simples garfada, parecia ser algo feito pela realeza.
- Já sim e acho que os senhores deveriam conhecer também - respondi parecendo o mais educado possível. - Faço questão. Quero tudo conforme tem que ser.
Olhei pra Murilo que estava me olhando espantado.
- Nossa, já gostei de você. - falou a mãe de Murilo com um largo sorriso no rosto - Mostrou-se bem sério.
- Também gostei bastante de você, garoto. - falou o pai de Murilo sério - Pelo menos você a gente conhece, né? Pois o outro que supostamente existiu, a gente nem viu a cara.
- Ué, os senhos não conheceram o... O ex do Murilo? - perguntei olhando pra Murilo que estava de cabeça baixa e disfarçadamente olhei pra Fred que parecia tenso e logo entendi a situação. - Não, não deu tempo. - Murilo falou rapidamente. - Achei que era sério, mas na verdade foi a pior merda que eu fiz na vida.
Fred na mesma hora olhou pra nós com a feição séria.
- Talvez não tenha sido você que fez a merda - Falou Fred enquanto usava um guardanapo de pano pra limpar o canto de sua boca - Talvez você seja a merda, né?
A mãe de Murilo parecia incrédula e o pai dele olhava sério para os dois.
- Que palavreado horrível à mesa, Fred - falei levemente com um deboche - pelo menos respeite aos pais do Murilo.
- Desculpe - disse Fred vermelho de raiva olhando pra mim - é que às vezes eu não consigo segurar a verdade dentro da boca.
- Pelo menos faça isso durante o almoço, Frederick. - pediu o pai de Murilo com um tom autoritário.
Murilo estava prestes a explodir, seria o fiasco se isso acontecesse.
- Murilo, você não disse que tinha algo pra mostrar pra mim no seu computador? - perguntei. De inicio ele não entendeu muito, mas se convenceu de que tinha que ir pro quarto.
- Com licença, senhores. - falei e segui Murilo que subia as escadas com passos pesados de raiva na minha frente
- Calma ai carinha, assim você quebra as escadas de mármore da sua mãe. - falei rindo.
- Diego não estou c paciência pra brincadeira agora. - falou ele sério.
- Ok, desculpe. - falei - Apenas estava querendo descontrair um pouco.
Murilo continuou calado enquanto seguiam os por um corredor e fomos até o final dele, onde Murilo abriu uma porta e então percebi que era o quarto dele.
O quarto dele era simplesmente imenso. Havia uma cama King Size onde ele se jogou, uma escrivaninha bem grande com três monitores de computador uma ao lado da outra, havia uma janela grande e o quarto era todo branco com uma parede preta atrás da cama de mármore negro. Mais pro fundo do quarto havia uma passagem que dava pra ver que dava para o closet. O quarto de Murilo tinha tanta coisa que eu fiquei até perdido com aquilo tudo.
Me deitei ao lado dele e fiquei fazendo cafuné cabeça dele que estava enterrado em um dos travesseiros.
- Hey, fique calmo, era isso que ele queria. - tentei reconfortá-lo - Já passou.
- Só me deixa em paz. - falou ele com a cabeça ainda enterrada no travesseiro.
- Bom, então eu vou embora. Beijos!
- Não, volta aqui - falou Murilo - Desculpe. Você não tem culpa de nada.
- Eu já sabia disso. - falei rindo.
- Ele me irrita facilmente. - falou ele agora olhando pra mim.
- Mesmo sendo difícil admitir, eu vejo que você ainda gosta dele.
- Não gosto dele - falou ele olhando pra mim meio envergonhado - Eu gosto de você. Na verdade, eu te amo. Mas a forma colo ele me coloca como culpado me irrita.
- Por que seus pais não sabem que ele é seu ex?
- Na época da confusão toda, ele pediu pra que eu não contasse pro meu pai, pois tinha medo de perder o emprego. Aliás, era o único que ele conseguiu que pagasse tão bem e desse pra ele pagar a faculdade. - falou Murilo ainda meio perturbado com aquela situação toda. - E na época, eu ainda não era assumido mesmo para os meus pais. Com toda a raiva que meu pai sentiu de mim, se descobrisse que o Fred era meu namorado, teria demitido ele.
- Hmm, entendi. E por que vocês terminaram? - perguntei
- Você quer mesmo tocar no assunto "o ex namorado do meu namorado"?
- Bom, não tem mais nada que eu possa fazer por aqui. - respondi olhando em volta.
- Por que você não vai fuxicar minhas coisas? - disse ele pra mim ainda meio chateado.
- Pode ter certeza que farei isso, mas não hoje. - falei rindo - Vamos, me leve pra casa.
- Com essa palhaçada toda, nem almoçamos. - falou ele sentando e cruzando as pernas - Você precisa comer alguma coisa.
- Relaxa, tô bem. - falei me jogando por cima dele - Só preciso ir embora pra arrumar minhas coisas pra viajar amanhã.
- Já vou te levar. - disse ele olhando pra mim - aliás, antes de você ir quero aproveitar mais um pouco de você.
Ele me puxou pra ele e me deu um beijo, diferente de todos os beijo que costumávamos trocar, esse era calmo, suave e sem avisos de que poderia terminar em algo muito além de um beijo. Assim que paramos, Murilo olhou pra mim e ficou me encarando.
- O que houve? - perguntei meio envergonhado.
- Te olhando e vendo o quanto você é lindo. Eu não poderia ter namorado melhor. - disse ele ainda me olhando - Não sei mais viver sem você.
- Calma Murilo - disse rindo - Eu não vou morrer, não. Só vou viajar.
Descemos e encontrei com os pais de Murilo na sala conversando com Frederick ainda.
- Esqueci meu celular, já volto - disse Murilo pra mim.
- Vou indo pro carro. - falei - Me dê as chaves.
Murilo estendeu a mão com a chave do carro e a peguei. Me despedi de todos e fui pro carro esperar Murilo. 5 minutos depois vejo Frederick saindo também, ele seguiu até seu carro e fez o retorno pra sair com o carro em direção à saída do condomínio. Ao passar pelo carro de Murilo, ele parou com o carro, abaixou a janela e olhou pra mim.

- Não ache que ganhou, querido. Ele nunca sera totalmente seu. Tenha como prova o que aconteceu hoje durante o almoço. - Falou Frederick. - Nem sempre raiva é apenas raiva, muitas das vezes há algo muito maior por trás.

E seguiu com o carro.

Em Comum.Where stories live. Discover now