05 - Encontro

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Saí da escola e fui pra casa, tomei meu banho, almocei, assisti TV e acabei dormindo. Não lembro de estar tão cansado, mas acordei quase na hora de me encontrar com Murilo.

- Vó, vou sair com a galera. Libera o cartão?

- Pega no meu quarto, Di. Vai voltar pra casa ou vai dormir na rua? - Minha vó perguntou, enquanto fazia a janta.

Acho que não contei, mas há 3 anos eu moro com minha vó. Minha mãe foi morar no interior e como eu não sou índio, preferi ficar em meio ao concreto.

- Eu só vou ao shopping, não devo chegar tarde. Amanhã de manhã, tenho inglês.

- OK, cuidado na rua. Ah! Talvez sua irmã venha nos visitar amanhã.

- Ótimo, estou morrendo de saudades da Livia.

Livia era minha irmã, ela era um ano mais nova que eu e a pessoa mais incrível do mundo. Me entendia como ninguém. Corri pro banho, me arrumei e sai correndo de casa. Quando eu dei uma olhada no telefone havia 12 mensagens do Murilo e a maioria delas eram querendo saber se eu ia mesmo e eu respondi que estava no caminho.

"Diego, já cheguei. Cadê você?"

"Estou no caminho, está meio engarrafado."

"Achei que você viria de vassoura pra não pegar trânsito."

"Nossa, é mesmo? Vou dar com o cabo da vassoura na sua fuça"

"Hahahaha tô brincando, moleque." - Confesso que acho que legal quando me chamam assim.

"Estou chegando, me espera na frente do cinema"

"Já estou aqui. Vem logo!"

"Obrigado, mas não precisava... Eu já estou chegando."

Subi os 3 andares em direção ao cinema, com minha barriga roncando. Procurei por Murilo e o avistei, lindo, super bem arrumado, mexendo no celular. Fui me aproximando lentamente e recebi uma mensagem:

"Cadê você?"

- Estou aqui ! - Respondi meio tímido.

- E ai? - Ele disse corando.

- Desculpe a demora, o trânsito estava péssimo.

- Tudo bem, eu também peguei um pouco do engarrafamento... Eu comprei teu ingresso também.

- Nossa, obrigado. Vamos comigo comprar alguma coisa pra eu comer?

- Vamos, também estou com fome. Só temos que ser rápidos, porque o filme já vai começar.

- Ok. Comprou pra qual filme? - Perguntei tentando não deixar o assunto morrer.

- Bom, eu não sabia qual filme você iria gostar de assistir e fui por um que eu achei que fosse mais a sua cara e escolhi aquele de terror.

- Está querendo dizer que só porque eu sou feio, mereço ser monstro de filme? É isso mesmo? - Perguntei fingido indignidade.

- Não. Desculpe... Eu não queria dizer. Pelo que conversamos achei que você gostava. - disse ele se desesperando.

- Relaxa sistemático, eu amo filmes de terror.

Compramos algumas coisas pra enganar a fome e fomos pro filme. Encontramos nossos lugares e conversamos enquanto o filme não começava. Ele era muito mais legal e brincalhão pessoalmente.

- O que houve, Diego?

- Frio, eu esqueci o meu casaco em casa. Saí de casa correndo.

- Toma o meu.

- Não, obrigado. Daqui a pouco eu acostumo.

- Tem certeza?

- Tenho!

Cinco minutos se passaram e o frio parecia ter aumentado, o filme estava cada vez pior e todos no cinema estavam gritando. A cena era realmente muito tensa, a mulher havia sido possuída pela quinta vez e estava toda torta e gritando e Murilo acabou tomando um baita susto:

- Está com medo, Murilo?

- Não!

- Seeeeeei. Eu hein? Homem velho, com medo de um filme tão bobin... AAAAAAAAAH! - Nesse momento eu tomei um susto com o filme e o grito saiu de modo involuntário.

- Está com medo Diego? - Perguntou ele debochando de mim.

- Não - menti - Só tomei um susto.

- Seeeei, um homem velho desse com medo de um filme tão bobinho.

- Que feio Murilo, roubando minhas falas. Cobrarei os direitos autorais.

- Esses direitos são caros? - Perguntou ele se aproximando de mim.

- Serão!

- Sei um modo ótimo de te pagar.

- Como? - Perguntei parando de prestar atenção o filme e olhando pra ele.

- Assim! - E me deu um beijo que me fez perder os sentidos.

Em Comum.Where stories live. Discover now