Capítulo 2

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Bárbara

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Bárbara

Os braços longos de meu pai prenderam-me em um abraço caloroso, ao mesmo tempo, dona Alissa também nos tocava. A única reação que tive foi chorar, porque só Deus sabe quantas noites eu passei em claro tentando imaginar o que havia acontecido com eles. Se estavam bem, vivos e saudáveis. Quando as semanas se passaram desde o dia que tudo começou a virar de cabeça para baixo, eu acreditei que eles estivessem mortos, já que esperamos pela vinda deles até a cabana e nada aconteceu. Agora, sentir o calor dos seus corpos e um pouco do amor que eles sempre dedicaram por mim, não tem preço. Foi somente aqui, nesse abraço, que eu percebi a saudade que estava e me permiti sentir tudo o que guardei dentro de mim.

Ao nos afastarmos, acariciei as bochechas de minha mãe e de meu pai, gravando em minha memória os rostos deles. As lágrimas não paravam de descer e elas se intensificaram ainda mais quando eu avistei de longe, um homem alto e moreno caminhar em nossa direção. Daniel encarou aquela cena um pouco confuso, mas correu até nós e me abraçou, levantando-me do chão.

— Eu não acredito! — bradou, encarando-me — Meu Deus! Eu não acredito. Você está bem, está sã e salva.

— Eu procurei tanto por você — minha voz chorosa denunciava meu estado — Por vocês — olhei para os meus pais e mais uma vez meu irmão me abraçou — Não sabem o quanto eu senti a falta de vocês.

— Nós também, minha filha — ele respondeu, sorrindo.

Antes que mais alguém pudesse falar algo, André surgiu ao meu lado, ele respeitara o nosso espaço. Meus pais observaram-no e também o abraçaram, já que sempre o consideraram como um filho. Nunca que eu poderia imaginar esse reencontro, mesmo torcendo para ele acontecer.

— Por onde vocês andaram? Nós te procuramos — minha mãe perguntou, sentando em uma das camas.

— Ficamos na cabana, montamos um forte lá — comentei, sentando na cama a sua frente — Vocês não viram o meu bilhete?

— Quando chegamos, a casa havia sido saqueada — meu pai respondeu, passando as mãos em seus fios castanhos — Eu nem sequer me lembrei da cabana, vocês estavam lá esse tempo todo?

— Sim, só saímos porque os zumbis invadiram — André falou, respirando fundo — Foi muito estranho, eu checo aquelas cercas diariamente e estavam todas reforçadas. Não sei como eles passaram.

— Nós temos uma suspeita — falei, olhando ao redor e verificando que não estávamos sendo espionados — Alguém derrubou as cercas da ala oeste e fez os zumbis nos atacarem. Eles queriam que saíssemos de lá.

— Você tem certeza? Se isso for verdade, ninguém aqui é confiável.

— E desde quando você confia no governo, Daniel? — debochei e ele sorriu — Tomem cuidado, não quero perder vocês novamente.

Continuamos a conversar por mais alguns minutos, porém André se levantou e pediu licença, saindo da cabana. Ele estava completamente estranho e por muitas vezes pude ver diversas caretas em sua face, algo não estava certo e eu precisava descobrir.

Caminhei pelo acampamento procurando por ele, mas eu não o encontrava em lugar nenhum. Eu sabia que ele não curtia muito multidões, então me esgueirei pelas árvores mais distantes, encontrando-o sentada contra uma delas e observando o céu. Sentei a sua frente, pegando-o completamente de surpresa. Ele levantou seu olhar e me direcionou um sorriso, segurando minhas mãos.

— Você está escondendo algo de mim, André Vasconcelos — apertei sua mão — E eu quero saber o que é.

— Você me conhece mais do que eu mesmo — ele riu — Lembra quando eu prometi que nunca te magoaria? — assenti — Sinto muito amor, vou precisar quebrar essa promessa.

— Do que você está falando? — encarei ele confusa, arqueando a sobrancelha.

André respirou fundo e afastou a gola da sua camisa para o lado, revelando uma mordida em seu ombro esquerdo. Observei a ferida um pouco cautelosa, ainda não acreditando o que estava acontecendo. Eu sabia o que aquilo significava e não estava pronta para perdê-lo, eu nunca estive. A possibilidade disso acontecer era enorme, mas eu tentava não pensar nisso quando eu o tinha completo para mim. Os dias que passamos na cabana poderiam não ter sido os melhores, mas nos amávamos e isso era suficiente para mim. Justo agora que minha família estava completa novamente.

— Por favor, diz alguma coisa — pediu, tocando minhas mãos.

— Amor, eu...eu não consigo.

— Meu maior medo era ser mordido e te deixar sozinha, mas agora que você encontrou seus pais, eu posso me permitir descansar — ele sorriu — Não é justo você fazer isso, então eu vou embora.

— Não! Do que você está falando? — desabei e ele me abraçou — Eu não posso ficar sem você.

— Barb, olha para mim — colocou suas mãos nas laterais do meu rosto — Nós sabíamos que isso poderia acontecer algum dia, é um risco que todos nós conhecemos — limpou minhas lágrimas — Eu não posso pedir que você me mate quando chegar a hora, não é justo com você.

Abracei ele novamente, deixando que todo aquele sentimento fosse embora ali mesmo. André acariciou meus fios sujos e respirou fundo, se afastando.

— Eu te amo — ele me beijou rapidamente e me encarou por um longo tempo — Você é o amor da minha vida, Barbara Albuquerque e eu te agradeço por todos os momentos em que tivemos juntos. Nós iremos nos reencontrar em outra vida, eu sei que isso.

Só então eu percebi a mochila repousada ao seu lado e mais uma vez eu não consegui me segurar e comecei a chorar. Nosso tempo havia sido tão curto, eu nunca iria me perdoar por deixar isso acontecer.

— Eu também te amo, André Vasconcelos — dei um sorriso, gravando o seu rosto em minha memória — E vou te amar até os meus últimos dias.

André beijou minha testa e novamente os meus lábios, pegando a mochila do chão e passando pelos seus ombros. Eu sabia o sofrimento que estava sendo para ele ir embora, mas ele me amava tanto que qualquer coisa que eu fizesse para impedir, não iria valer de nada. Ele começou a se afastar, indo na direção da saída daquele campo de recrutamento. Apoiei-me na árvore ao meu lado e levei minha mão ao lado esquerdo do meu peito, sentindo a dor dilacerante corroendo dentro de mim. André olhou-me uma última vez e sorriu, acenando para onde eu estava. Ele passou pelo portão e eu não consegui mais me segurar, minhas pernas enfraqueceram e eu caí de joelhos, chorando como eu nunca havia chorado em toda a minha vida. 


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