Capítulo 6

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*Emma narrando*
O dia estava passando vagarosamente. A ansiedade para a festa de amanhã estava me consumindo por dentro.

Eu comecei a suar frio quando o Jaime Lacques, um designer famoso em todos os reinos, chegou ao castelo com vários panos finos, espartilhos, crinolinas, chapéus, colares, pulseiras, e várias outras peças de vestiário.

O homem vestia uma calça de couro amarela, com um sapato de bico de couro de jacaré. Sua camiseta era de uma seda rosa e estava dentro da calça. Um casaco vermelho.

Em minhas imaginações de antes, eu pensava em Jaime como um homem cheio de classe, que adorava cores neutras e estilo clássico. Nada de cores vivas e sobrepostas.

Ele olhou para mim. Deu um sorrisinho. E disse:

-Você é Emma?

-Sim- respondi.

-Você não tem sobrenome, querida?

-Tenho sim, mas prefiro não divulgá-lo. É vergonhoso.

-Entendo.

Jaime era um homem muito sério, apesar de toda a sua extravagância. Seus olhos eram de um brilho feroz e obcecado, um pouco voraz, ameaçador. Seu sorriso era cínico e amarelo. Seus cabelos eram levemente ondulados numa cor bem clara, quase branca e podia-se ver o início de falhas no topo de sua cabeça, logo iria ficar careca.

Suas mãos delicadas passeavam pela fita métrica enquanto esta media todas as proporções de meu corpo. Toda vez que ele tirava alguma medida, ele confirmava duas vezes mais, para ter certeza e lançava um olhar firme e impressionado para a fita. Por fim, ele sentou-se e tirou de uma pasta larga um caderno de capa de couro, como um diário, mas bem maior.

Ele também tirou da bolsa um lápis de carvão bem apontado e com ele, começou a desenhar no caderno. Suas mãos rabiscavam esboços agilmente e ele continuava sério. De vez em quando, ele rasurava os seus esboços e fazia de novo. Depois de muitos minutos concentrado no caderno, o estilista levantou-se e pegou um amontoado de panos coloridos, agulhas e linhas. Sua boca fina se abriu em um sorriso orgulhoso e ele começou a trabalhar. Enquanto isso, eu observava tudo atentamente.

Depois de alguns minutos, ele percebeu que eu continuava na sala e mandou-me sair, dizendo que deveria ser uma surpresa. Então, andei perdida por aquele palácio enorme. Andando pelos longos corredores, acabei parando num lugar abafado e cheio de encarregados trabalhando. Havia um fogão de lenha aceso e várias panelas jaziam em cima de suas poderosas chamas. Vi uma mulher muito simpática, de cabelos grisalhos, vestindo uma veste simples de algodão e um avental estava apoiada no fogão, mexendo as panelas com colheres de pau.

Ela tinha olhos doces e seus cabelos estavam bem presos em grampos. Ela gritava coisas com várias pessoas e parece que tinha dois auxiliares. Era possível ver o suor escorrendo pela sua testa devido ao calor que vinha da fumaça e seu ritmo respiratório era rápido e preocupado. Ela virou um pouco a cabeça e seus olhos pararam em mim. No mesmo instante, sua testa enrugou-se ao mesmo tempo em que ela sorria. Uma expressão de dúvida.

Ela gentilmente veio até mim, pegou-me pelo braço e levou-me de volta ao Salão Principal, onde grandes velas e candelabros de ouro já estavam sendo posicionados a fim de proporcionar a iluminação correta à festa. Tudo estava bem corrido e os funcionários andavam para lá e para cá, arrumando coisas ali e coisas aqui. No Salão Principal, todos prestavam atenção nas chiques decorações e seus lugares adequados. Nenhum deles sequer pareceu notar minha presença.

Andei do Salão Principal para o Saguão de Entrada, onde a escada que levava aos quartos estava sendo coberta por um longo tapete azul, e, no corredor que levava ao Salão, estendia-se um tapete vermelho chamativo. Tudo parecia em perfeita ordem, nos lugares adequados e organizados corretamente. Eu observava toda aquela correria como alguém que via tudo de fora, tudo pela primeira vez. Todo aquele estresse era novo para mim, e eu não conseguia entender nada que eles gritavam. Parecia códigos.

Um Beijo EncantadoWhere stories live. Discover now