EPÍLOGO

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Orocovis, 21 de outubro de 2020, 05:31 PM.

Abri meus olhos com cautela e me deparei com um céu noturno encantador, repleto de estrelas cintilantes que pareciam brilhar com mais intensidade do que jamais havia visto antes. Lentamente, me ergui do chão e olhei em volta, tentando entender onde estava. Percebi, com um choque, que não estava mais no lugar que conhecia. Olhei para o colar de mamãe que decidi carregar no pescoço e percebi que a pedra central havia mudado de cor, agora um tom verde vibrante. Senti um arrepio subir pela minha espinha ao perceber que algo muito estranho havia acontecido. Larguei o colar no chão, ainda sem saber como reagir, e olhei ao meu redor com atenção, tentando assimilar tudo o que estava acontecendo. Depois de um tempo, comecei a entender que não estava mais no inferno, mas sim em uma realidade completamente diferente.

Com o coração batendo forte no peito, peguei o colar de volta e continuei caminhando pela floresta, tentando entender como aquilo era possível. Ao sair do bosque, deparei-me com um cenário completamente diferente daquele que eu esperava. A cidade estava em paz, as ruas estavam cheias de pessoas andando calmamente, conversando e rindo umas com as outras, como se nada de extraordinário estivesse prestes a acontecer. Nenhum sinal de destruição, nem mortes, nem pestes que eu havia visto antes. Era como se tudo o que eu tinha passado não passasse de um sonho terrível.

Os humanos pareciam estar vivendo seus últimos dias de vida sem qualquer consciência da catástrofe que se aproximava. Era assustador pensar que eu era a única que sabia da verdade sobre o destino iminente da humanidade. E enquanto eu tentava processar tudo aquilo, uma sensação de impotência tomava conta de mim. Como eu poderia convencer as pessoas de que elas precisavam se preparar para o pior? Como eu poderia evitar o Apocalipse se ninguém acreditava que ele estava chegando? Apenas eu sabia o que estava por vir e o fardo de saber a verdade era pesado demais para suportar sozinha.

Caminhei apressadamente até minha casa, sentindo um calafrio percorrer minha espinha quando notei que não havia sinal de vida por ali. A porta rangeu ao se abrir e, ao entrar, deparei-me com uma escuridão profunda que parecia me engolir. Tentei acender as luzes, mas nada aconteceu. Foi então que, com as mãos trêmulas, alcancei uma lanterna que estava empoeirada na prateleira da televisão. Ao ligá-la, a luz iluminou precariamente o ambiente, mostrando-me uma sala vazia e abandonada.

Meus passos ecoaram pelo silêncio enquanto eu me dirigia ao quadro de fotos, onde estavam retratadas as lembranças da minha vida. Com a lanterna em uma mão e com a outra tocando os objetos à minha volta, a sensação de solidão e isolamento aumentava a cada passo. De repente, meus olhos se fixaram no calendário que estava na parede ao lado. Eu havia retornado para o ano de 2020, precisamente no dia 21 do mês de março, em meio a uma pandemia que mudaria o curso da história da humanidade.

Minha mente latejava com as múltiplas desventuras pelas quais eu havia passado, mas finalmente as peças do quebra-cabeça estavam se encaixando. Eu, uma viajante do tempo, havia conseguido retornar ao passado, cumprindo assim a minha missão. Ainda atordoada pela experiência, senti um misto de alívio e assombro ao perceber que havia mudado o curso da história. Cada pequeno detalhe, cada escolha, teria agora um impacto sem precedentes em meu futuro e no de todo o mundo. Era uma responsabilidade enorme, mas também uma oportunidade única de fazer a diferença.

Ao escutar um som vindo do laboratório, meus sentidos aguçaram-se novamente. Curiosa e receosa, adentrei o porão que agora estava aberto. Na penumbra, percebi uma figura à frente da máquina do tempo. Aproximei-me com cautela e constatei que era uma senhora de olhos verdes, os cabelos grisalhos emolduravam seu rosto enrugado. A expressão dela era de surpresa e curiosidade ao me ver, enquanto eu tentava entender o que estava acontecendo na minha mente atordoada.

—Vovó?

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